Prisão histórica leva confiança aos brasileiros

Por

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) tomou uma histórica e inédita decisão ao decretar a prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), por envolvimento em suposto esquema de pagamento de propina, o chamado mensalão do DEM, e que nos últimos dias estaria também atrapalhando as investigações da Polícia Federal e sonegando provas.
Pela primeira vez no País um governador foi preso. A atitude da Corte repõe a ordem, a lei e o bom senso à política brasileira. A decisão confere também esperança à sociedade de que é possível derrotar a corrupção. A prisão do governador José Roberto Arruda pode ser o marco histórico da quebra da impunidade na política brasileira. A Justiça agiu, como é de seu dever, numa resposta às cenas indecorosas de vídeos que falam por si, de políticos colocando dinheiro em meias e bolsas, aos fatos que sucederam o escândalo e estimularam os infratores a obstruir as investigações.
Esperamos que a prisão do governador Arruda também possa desencadear no País uma cruzada contra a corrupção e a impunidade. E isso depende basicamente da atuação do Judiciário e da pressão da sociedade. A verdade é que os fatos que assistimos são tão fortes e importantes que podem se transformar em uma reviravolta no resgate da cidadania do País.
É necessário priorizar cada vez mais o julgamento de processos que envolvam atos de corrupção em qualquer esfera de poder. A expectativa é de que o Judiciário inaugure um novo tempo nessa relação com a sociedade, ampliando a confiabilidade e assumindo o compromisso de se unir no sentido de combater a corrupção.
Paralelamente, o Estado tem de ser competente na cobrança do dinheiro público desviado. E é preciso que haja, sim, uma sanção penal para que essas pessoas sintam que a lei é igual para todos. Que prospere a penalidade em relação aos direitos políticos que hoje é limitada. E que se institua uma punição para afastar essas pessoas que tanto mal fazem à política, à sociedade brasileira e à democracia.
A sociedade não pede vingança ou linchamento. Apenas justiça, o estrito cumprimento da lei, dentro do devido processo legal. A sociedade brasileira pode, enfim, acreditar que há luz no fim do túnel.
Basta de ver políticos que deveriam ter sido banidos de suas vidas públicas continuarem sorrateiramente circulando nos corredores do Congresso Nacional, sob a proteção e acobertamento do chamado “foro privilegiado”, ditando ordens como se fossem intocáveis. Estarão eles fora do alcance da nossa Justiça?
É necessário reagir, reclamar, deixar o conformismo de lado e exigir punição severa aos políticos corruptos e mal-intencionados, que só desejam usufruir das benesses do Poder. A sociedade civil, responsável, democrata e contra o totalitarismo de qualquer espécie, tem a obrigação moral de se levantar e se juntar aos Poderes do Estado que não apoiam o que a população vê perplexa: violência, imoralidade e corrupção deslavada e sem punição.
A prisão de José Roberto Arruda tem o apoio maciço da população. É o que indica pesquisa realizada pela empresa de análise e investigação de mercado Brasmarket. A mostra, feita na sexta-feira passada com 1.387 pessoas, em 100 municípios brasileiros, revelou que 86,9% dos entrevistados aprovaram a decisão do STJ.
Chocado com o episódio da prisão de Arruda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lembrou que recentemente encaminhou ao Congresso um projeto de lei que transforma crime de corrupção em crime hediondo. Em sua justificativa, ele diz que “precisamos ser mais duros com a corrupção, com o corrupto e com o corruptor.” Que o projeto prospere.