Recaída econômica com o duplo W é o perigo
O ministro das Finanças da Grã-Bretanha, Alistair Darling, advertiu que a complacência internacional pode jogar a economia mundial em uma recessão com dois vales, a double-dip recession, ou em formato W. Segundo Darling, os governos devem manter os gastos para garantir a retomada do crescimento econômico global em ritmo sustentado no próximo ano. A dupla dinâmica da economia e das finanças, Guido Mantega e Henrique Meirelles, brada que o Brasil foi o último a entrar na crise mundial e o primeiro a dela sair. Tudo por conta das boas reservas em dólares e do compulsório bancário, o que injetou recursos instantaneamente na economia e finanças nacionais. Mas apesar de a economia estar saindo da crise do subprime que eclodiu nos Estados Unidos em 2007 e arrastou o mundo em setembro de 2008, especialistas afirmam que esta retomada da atividade pode ser seguida de uma nova queda brusca. A previsão agourenta, sempre representada por um gráfico em W, foi anunciada por Nouriel Roubini. Ele é o economista que passou a ser respeitado pelo fato de, além de ser professor da Universidade de Nova Iorque, ter sido o primeiro a prenunciar a crise do crédito americano que abalou o mundo. Explicou que o risco de uma dupla queda é grande, assim que o efeito benéfico dos planos de retomada passarem.
Mas o francês Philippe Chalmin, da Universidade de Dauphine, em Paris, não acredita nas profecias catastróficas, considerando fantasiosa a hipótese de uma disparada do barril de petróleo. De fato, tudo indica que é prematuro se falar em recaída agora, pois primeiro precisamos chegar à retomada da economia de maneira plena. No entanto, juros baixos e a injeção de dinheiro no sistema financeiro pelos bancos centrais para combater a recessão ameaçam criar outro problema: novas bolhas de ativos. O Banco Mundial alertou sobre o surgimento súbito de bilhões de dólares em investimentos no Leste da Ásia. Isso está alimentando preocupações com bolhas de ativos nos mercados em toda a região e no valor de imóveis na China, Hong Kong, Cingapura e Vietnã. O FMI também fez alerta semelhante. Enquanto isso, o presidente da Febraban, Fabio Barbosa, defendeu que as medidas de estímulo à economia brasileira, como incentivos fiscais e liberação dos depósitos compulsórios, sejam mantidas. "O Brasil está muito bem, mas é perigosa essa afirmação de que a crise já passou, porque isso desmobilizaria algumas boas ações que foram tomadas", afirmou Barbosa. Para ele, eliminar essas medidas poderia levar a economia para uma situação W onde há uma primeira queda, seguida de recuperação e, então, uma nova queda. O investidor americano James Rogers julga que o mundo deve voltar a desacelerar em 2010 ou 2011. O Brasil, segundo ele, deverá sofrer bem menos, mas não deixará de ser afetado. Rogers foi cofundador do fundo de investimentos Quantum Fund, nos anos 1970, com George Soros. Em 10 anos, o portfólio do fundo ganhou ao redor de 4.000%, enquanto o S&P 500 valorizou 50% no período.
Rogers disse que o maior erro dos governos foi tentar evitar a todo custo a falência das instituições financeiras. "Eles deviam ter deixado as falências acontecerem. Pessoas competentes tomariam os ativos falidos, fariam uma reorganização e começariam de novo", afirmou. Já o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), embaixador Rubens Ricupero, julga que a economia mundial corre o risco de ingressar em outra crise porque não foram tomadas as medidas necessárias para evitar os problemas que levaram à crise atual. Resta aguardar.