Desde o segundo semestre do último ano, já foram garantidos pelo Funrigs pelo menos R$ 536,9 milhões em obras de infraestrutura para recuperação, sistemas de proteção e moradias em áreas diretamente atingidas pela cheia de 2024 nas regiões Metropolitana e Vale do Sinos. A este cenário de futuras obras estruturais, soma-se o avanço das obras de saneamento que, conforme a Aegea Corsan, na primeira metade de 2025, teriam chegado a R$ 1 bilhão de investimentos - em 2024, foram R$ 2,4 bilhões - em todo o Rio Grande do Sul.
Para empresas do setor da construção, a recuperação da tragédia é transformada em oportunidade É o caso da Ciber, que produz usinas móveis de asfalto e, desde 2017, faz parte do guarda-chuva de empresas da John Deere. Curiosamente, a empresa, que opera na Zona Norte de Porto Alegre desde o final da década de 1950, foi diretamente atingida pela inundação no bairro Sarandi. Depois de 30 dias, retomou a produção e, meses depois, se deparou com o crescimento na demanda regional.
"Desde o ano passado, observamos um crescimento no mercado, impulsionada pelo processo de reconstrução do Estado e pela recuperação da indústria após as cheias. A demanda por nossos equipamentos tem se mantido estável, com um aumento ainda tímido na procura por máquinas para obras de infraestrutura e recuperação de estradas", diz o CEO da Ciber, Flávio Machado.
A Ciber pode ser considerada uma indústria que resistiu às transformações industriais da Região Metropolitana. Mantém sua unidade com 46,8 mil metros quadrados em uma região onde a maioria das antigas indústrias deu lugar ao avanço habitacional e migrou para municípios vizinhos. Um posicionamento, como aponta Machado, estratégico tanto para atender o mercado da infraestrutura regional quanto para a exportação.
"Porto Alegre possui uma força de trabalho qualificada, com universidades, centros técnicos, o que favorece o recrutamento de profissionais. E uma economia diversificada, podemos encontrar bons fornecedores na região", comenta o executivo.
Para que se tenha uma ideia, a empresa movimenta uma cadeia de mais de 300 fornecedores entre peças e integrantes da cadeia da construção civil.
Na Capital, foram 28,4 mil empresas diretamente atingidas pela inundação, ou 15% do total. No setor da Indústria, foram 19% dos CNPJs atingidos, e na Construção, 12%. A cidade teve quase um quarto do seu território atingido pela cheia. Agora, somente entre projetos com recursos encaminhados pelo Funrigs, Porto Alegre tem R$ 171,6 milhões garantidos para projetos que vão das comportas e estações de bombeamento até a recomposição e ampliação dos diques da Zona Norte, justamente no bairro Sarandi.
Conforme o Mapa Único do Plano Rio Grande, foram 2,3 mil quilômetros quadrados diretamente atingidos pela inundação na Macrorregião Metropolitana. Nova Santa Rita (56,4%), Canoas (51,5%) e Eldorado do Sul (33%) foram os municípios proporcionalmente mais atingidos. Somente em Eldorado do Sul, 82,6% das empresas locais foram atingidas, e 82% da população.
Em relação às obras de saneamento, o Litoral está entre os principais destinos de recursos e obras previstas. Neste ano, a Aegea Corsan atua na expansão da rede de esgoto entre Imbé, Tramandaí e Torres.