As limitações logísticas e o cenário internacional desfavorável são uma combinação que atinge em cheio o Polo Petroquímico de Triunfo, na Região Metropolitana, e, naturalmente, atinge a economia de toda a região. Com a dragagem dos canais da região do Guaíba ainda em andamento, semanalmente, o Terminal Santa Clara, de onde partem cargas com produtos químicos em direção ao Porto de Rio Grande, está reduzido. Em média, são embarcadas três cargas semanais pela hidrovia por semana. Uma redução de 25% em relação ao fluxo normal.
Os estragos da cheia do último ano são sentidos também no transporte ferroviário. É por este meio que a Braskem costumava receber a cana de açúcar, matéria-prima para a produção do eteno verde. No entanto, a linha não foi retomada após a cheia e, com o transporte ferroviário, além do aumento dos impactos ambientais, o custo para a produção verde aumentou.
Em agosto deste ano, o Polo, que abriga seis empresas, atingiu a maior marca histórica de ociosidade, chegando a 45% na fabricação de eteno, que é matéria-prima para a produção de resinas termoplásticas. Representa a maior média de ociosidade petroquímica em 30 anos. Um volume levemente retomado até outubro, quando a ociosidade reduziu a até 35%.
"O ideal para que o nosso polo seja competitivo é operarmos com pelo menos 80% da capacidade instalada, mas a indústria química brasileira está na UTI, que culminou com a alta capacidade, em condições competitivas diferenciadas, da China, que tem a resina entrando no Brasil de maneira facilitada. Enquanto internacionalmente há uma retração, China e Rússia aumentam a produção", aponta o diretor administrativo do Comitê de Fomento Industrial do Polo de Triunfo (Cofip), Sidnei dos Anjos.
Em um polo com vocação exportadora, o impacto é ampliado. Entre janeiro e setembro, houve redução de 5,2% nos valores exportados por Triunfo em relação ao mesmo período de 2024, mesmo com o parâmetro do ano passado reduzido pela inundação. Foram comercializados US$ 685,9 milhões com o Exterior. Os produtos da indústria química respondem por 99,7% das exportações do município, que é o sétimo no Rio Grande do Sul em exportações.
Para Sidnei dos Anjos, que atua na articulação entre as empresas, os governos e a atração de novos investimentos para o polo, porém, Triunfo está no caminho certo para a recuperação e diferenciação no mercado petroquímico mundial.
"O polietileno granulado de alta densidade produzido aqui, que é essencial para a conservação de alimentos nas prateleiras, tem 10% menos emissões do que a Europa e 32% a menos do que a média mundial do setor. A nossa matriz energética é muito mais limpa. Acredito que há uma tendência dos importadores a pesar esse fator do consumo mais consciente", diz.
E há ainda o eteno verde, produzido pela Braskem ainda em escala reduzida, mas que tem gerado interesse de outros fabricantes.
"No nosso polo, temos o eteno, tem polietileno verde. Em breve, teremos biometano produzido a partir de resíduos, que vai abastecer as indústrias. A Hipermix,na produção de cimento, por exemplo, usa o rejeito do polo, que deixa de ser um problema e vira matéria-prima. Somos diferenciados no setor em relação ao restante do Brasil e até internacionalmente", avalia Sidnei de Jesus.
Institucionalmente, o Cofip tem agido para garantir uma política permanente de regime tributário especial para o setor químico e petroquímico. E estruturalmente, o movimento do setor é para garantir preços mais competitivos ao gás natural que abastece as indústrias do polo, com o avanço dos dutos que trazem o gás de Vaca Muerta.