O nosso trabalho de pesquisa e desenvolvimento é para encontrar "o produto de depois de amanhã". Aquele que ainda não está entre as soluções imaginadas pelo setor produtivo, mas que o colocará na dianteira do desenvolvimento de tecnologias, especialmente para o agro, no futuro. A definição é do cientista-chefe do Centro de Excelência em Sistemas Embarcados para Agricultura Digital (Center for Embedded Devices and Research in Digital Agriculture, em inglês, o Cedra), Carlos Eduardo Pereira.
"Nós temos uma oportunidade de desenvolver novas tecnologias para o agro, que podem servir para toda a arquitetura de produção. O modelo deste centro tem empresas como parceiras para o desenvolvimento tecnológico, de recursos humanos e de startups, mas para que essas empresas, e o Brasil, não sejam vítimas de tecnologias já existentes. Claro que olhamos para soluções atuais, mas principalmente olhamos adiante, e nenhuma empresa aposta sozinha, por isso um centro de competência, com a formação de deep techs e startups que atuem em lacunas tecnológicas", explica o gerente executivo de tecnologia e inovação do Sistema Fiergs, Victor Gomes.
Sim, na macrorregião mais urbana do Estado, a inovação também tem o setor agropecuário como um dos pilares das estratégias de inovação. O Cedra é uma iniciativa inédita entre programas desenvolvidos pela Embrapii. Faz parte de um seleto grupo de dez centros de excelência que seguem modelos de referência internacional - dedicados a tecnologias ainda não existentes -, como os dos Estados Unidos e da China.
De acordo com o presidente da Fiergs, Cláudio Bier, o Cedra está alinhado ao objetivo da entidade, de oferecer para a indústria de todos os setores novas tecnologias e mais competitividade.
"Atualmente, somos grandes exportadores de grãos. Com o Cedra, desenvolveremos competências tecnológicas, seremos referência na agricultura mundial. Queremos ser celeiro de soluções tecnológicas digitais para o agro", resume Bier.
A implantação em São Leopoldo começou no ano passado, aproveitando a estrutura do Instituto Senai de Inovação em Sistemas de Sensoriamento, resultado de um investimento em parceria entre o Sistema Fiergs e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). E até 2027, deve ganhar mais uma estrutura, em um novo edifício de cinco andares na área da Fiergs, em Porto Alegre. Tem a sua atuação, com um modelo de inovação aberta, voltada ao desenvolvimento de hardware para a agricultura digital.
De acordo com Victor Gomes, São Leopoldo concentrará muita estrutura de laboratórios, enquanto Porto Alegre será uma extensão, com estrutura para formação de pessoas e desenvolvimento de startups. E já são pensados outros polos em Passo Fundo, Pelotas, São Paulo e outros lugares do Brasil com laboratórios credenciados.
E logo nesta fase de montagem, a iniciativa já se mostra diferenciada.
"Estamos trazendo cientistas do Paquistão, da Colômbia, sempre atuando em parceria com universidades e outros centros tecnológicos. Temos o diferencial de sermos uma federação industrial, que dialoga diretamente com o setor produtivo e aproxima a pesquisa desse ambiente com muita facilidade. Pesquisa e desenvolvimento são importantes, mas é preciso injetar empreendedorismo nesse desenvolvimento de soluções, com dinheiro. A Embrapii está criando cultura para isso", define Gomes.
Segundo ele, já são 12 empresas parceiras, 18 startups de base tecnológica e 48 profissionais em contratação pelo Cedra. Uma conexão que se estenderá para o mundo e, principalmente para novas gerações no Rio Grande do Sul.
"A ideia é derivar este conhecimento para a molecada de 14 e 15 anos, para eles perceberem, pelo exemplo, que a formação tecnológica é interessante, que é legal trabalhar com conhecimento. Atrair e formar novos talentos nos diversos centros tecnológicos do Senai é um dos nossos objetivos", comenta Victor Gomes.