Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 21 de Novembro de 2025 às 16:20

Itec: um instituto para formar lideranças em tecnologia

Maquete eletrônica mostra como será o campus do Itec

Maquete eletrônica mostra como será o campus do Itec

ITEC/DIVULGAÇÃO/JC
Compartilhe:
Eduardo Torres
Eduardo Torres Repórter
"No Brasil, para cada engenheiro formado, temos um advogado. Em países ricos, essa proporção chega a quase três engenheiros formados por cada advogado. Para sermos competitivos e inovadores, essa relação precisa mudar. Já estamos enfrentando um déficit de engenheiros no País, só 13% da graduação brasileira hoje é voltada para ciência, tecnologia, matemática e computação".
"No Brasil, para cada engenheiro formado, temos um advogado. Em países ricos, essa proporção chega a quase três engenheiros formados por cada advogado. Para sermos competitivos e inovadores, essa relação precisa mudar. Já estamos enfrentando um déficit de engenheiros no País, só 13% da graduação brasileira hoje é voltada para ciência, tecnologia, matemática e computação".
A fala foi do prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, durante um evento que apresentava para empresários locais e lideranças políticas o projeto do futuro Instituto de Tecnologia e Computação (ITEC), que, com um modelo inédito de formação, exclusivamente na graduação em Ciências da Computação, pode colocar Gravataí e a região na rota do grande diferencial da indústria da inovação: a formação e retenção de talentos.
Foi assinado no final de outubro o contrato para dar início às obras que vão erguer em Gravataí o campus do ITEC. A fase inicial de estruturação das obras já está em andamento, com a terraplanagem e pavimentação interna. A partir de agora, começarão a tomar forma os prédios residenciais e acadêmicos, além das obras de infraestrutura para as demais edificações e estruturas complementares. A conclusão está prevista para setembro de 2026.
São previstos R$ 400 milhões em investimentos em uma década, que vão muito além da estrutura física de uma nova instituição de ensino. Parte do recurso será aplicada no fornecimento de bolsas integrais de estudo para estudantes de graduação que terão, em Gravataí, um modelo inédito de ensino, com imersão e residência dos estudantes no campus. A primeira turma, com 60 estudantes, todos custeados com bolsas integrais, deverá ser formada em março de 2027.
Com formação especialmente em ciências da computação, a intenção, diz o diretor de operações do ITEC, Cristiano Richter, é "formar a próxima geração de lideranças em tecnologia no Brasil".
O projeto tem olhos abertos para a busca de potenciais talentos em todo o País, como detalha o idealizador do projeto, Cristiano Franco:
"O projeto começou a ser gestado há três anos, visitamos diversos colleges e desenvolvemos o campus e o modelo de ensino como um diferencial para o ecossistema da formação em tecnologia. Uniremos a imersão na vida acadêmica e o senso de comunidade entre eles. Estaremos em Gravataí, mas queremos impactar em todo o País. Vamos em busca de, principalmente, democratizar o acesso à ciência e à formação de novos talentos com excelência em computação, independentemente da origem desse estudante".
A ideia, como antecipa Franco, é que em torno de 70% dos futuros alunos sejam garantidos por bolsas. Após o aporte inicial de R$ 400 milhões, garantido pelo grupo de fundadores do ITEC, conforme Franco, a proposta é que o ITEC seja autossustentável, com a participação também de outros financiadores, que podem estar na "vizinhança", em Gravataí.
Ambiente de inovação na cidade
O ITEC será erguido no Prado Bairro Cidade, um loteamento de alto padrão que reserva uma área para a inovação. Fica ali o Prado Tech, que é um parque tecnológico em formação destacado no Book de Investimentos em Inovação, desenvolvido pelo Invest RS. São mais de 130 mil metros quadrados disponíveis para novos empreendimentos na área da inovação.
Mesmo sem um campus universitário referencial em tecnologia, Gravataí tem no seu DNA industrial empresas pioneiras em inovação. Na década de 1980, por exemplo, a Digicon, que opera há mais de 40 anos na cidade, montou em Gravataí um dos dois primeiros satélites lançados pela Agência Espacial Brasileira ao espaço. Hoje, a empresa é fornecedora, por exemplo, da Airbus, Boeing, Bombardier e Embraer.
Agora, com um ambiente de inovação em pleno desenvolvimento pelo governo local, o município tem participado como "case" de sucesso dos mais diversos summits no Rio Grande do Sul e no Brasil.
"Esse movimento que estamos liderando retoma as bases construídas nas décadas de 1980 e 1990, quando a cidade começou a ter um papel importante no cenário tecnológico da indústria. A Icotron, por exemplo, instalada na cidade pelo grupo Siemens em 1962, já produzia semicondutores, capacitores e componentes eletrônicos para setores industriais e automotivos. E tivemos a EDISA, que em 1981, instalou aqui a primeira fábrica de computadores e depois foi adquirida pela HP. Sempre tivemos essa tradição, e agora estamos estimulando a expansão do ecossistema inovador, acompanhado da possibilidade de formarmos mão de obra qualificada neste ambiente", diz a secretária municipal de Inovação, Ciência e Tecnologia de Gravataí, Selma Fraga.
Há uma perspectiva de retorno de R$ 5 bilhões para a economia de Gravataí com a formação de 420 estudantes pelo ITEC em dez anos, com o potencial de geração de até seis mil empregos qualificados. Para isso, o ambiente de inovação tem papel fundamental.
"Toda a inovação anterior de Gravataí ficou concentrada na hélice privada. Agora, estamos criando um ecossistema com atuação forte do poder público. Seja com orçamento próprio, mas principalmente com a busca por parcerias e troca de conhecimento com instituições como o Sebrae, o Senai e universidades. Como não temos aqui um parque tecnológico estruturado por alguma grande universidade, atuamos ativamente em editais das principais universidades", conta a secretária.
Neste último ano, por exemplo, foram 60 startups em pré-aceleração. Dez já incubadas com a Unisinos. Gravataí foi a primeira prefeitura a assinar este convênio com a universidade e receber as novas empresas em sua Casa das Startups.
A partir de 2021, com a criação da secretaria, já foram nove leis aprovadas, que incluem, além de isenções para instalações e ampliações de empresas inovadoras, as criações do conselho e do fundo municipal de inovação. No ano seguinte, foi dado início ao programa Startup Gravataí, com orçamento próprio, e a Casa das Startups, no Prado Tech.
E há ainda o cenário da indústria 4.0 e a necessidade de manter em Gravataí quem está na vanguarda dessa evolução. Diversos ex-trabalhadores da GM, a partir das suas experiências na gigante automobilística, têm criado suas próprias empresas, especialmente na área da robótica e com processos de automação com o uso de robôs. Dentro da estratégia do governo local de criar pequenos distritos industriais, um deles é o Hub Industrial 4.0. Já são seis empresas que garantiram um espaço na compra de terrenos estimulada pelo município.
"Estamos diante de uma nova economia, na qual Gravataí pode se enquadrar tanto na formação de talentos quanto na retenção deles. E aí precisamos investir na melhoria da infraestrutura básica da cidade, mas também no "make" dessa cidade, com oportunidades realmente atrativas a esse jovem, que hoje é nômade, e a garantia de um ambiente atrativo e agradável a todos", comenta Selma Fraga.
A partir de 2026, por exemplo, toda a TI do governo municipal migrará para o guarda-chuva desta secretaria, com a intenção de atrair startups que ofereçam soluções digitais e inovadoras para a gestão pública.

Notícias relacionadas