De Cruz Alta
O estrategista-chefe do Bradesco Global Private Bank, Carlos Machado, apresentou a palestra "Panorama Econômico Global e Perspectivas Locais: tendências e desafios" durante o evento do Mapa Econômico do RS, realizado pelo Jornal do Comércio na quinta-feira, 9 de outubro, na Associação Comercial e Industrial de Cruz Alta. Na ocasião, ele avaliou o cenário econômico brasileiro e dos principais países do mundo.
Durante sua fala, Machado destacou que o cenário econômico global vive em um momento de transição marcado por uma revolução tecnológica. E, além disso, busca superar desafios relacionados aos altos níveis de endividamento público em diversos países, que estão atrelados a taxas altas de juros nos seus respectivos bancos centrais.
Para o especialista, os avanços tecnológicos promovidos por grandes empresas internacionais "já estão se traduzindo em ganhos significativos de produtividade e lucros", mas também têm provocado mudanças no mercado de trabalho, especialmente nos Estados Unidos. O país, afirma Machado, enfrenta o desafio de equilibrar o combate à inflação com a manutenção de empregos, enquanto inicia cortes graduais na taxa de juros.
No contexto global, ainda, o endividamento elevado de governos e a dificuldade em reduzir gastos públicos — visível em países como França, Japão e Estados Unidos, citados por ele como exemplos — mantêm o ambiente econômico incerto.
Sobre a China, o estrategista aponta que a queda nos preços dos imóveis tem afetado o consumo interno. "Hoje, o grande desafio ainda é a questão do preço dos imóveis em queda. A poupança do chinês está basicamente em imóveis e, com esse preço, acaba tendo uma queda no consumo. O governo quer estimular o consumo, mas não pode porque a economia está em queda", avalia o estrategista.
Por outro lado, as exportações chinesas seguem com resiliência. Machado destaca, principalmente, o aumento na venda para mercados fora dos Estados Unidos. Enquanto no país norte-americano as importações de produtos da China caem, nesses outros países consumidores elas estão crescendo.
Um acordo do país asiático com os EUA para a exportação de grãos é uma possibilidade considerada pelo estrategista. Entretanto, ele avalia que isso também é um risco para o mercado do Brasil, que tem na China um parceiro comercial para a produção de soja. Como solução, o especialista aponta a necessidade de diversificação da economia brasileira.
Focando no contexto brasileiro, Machado estima que o crescimento próximo de 2% a 3% ao ano do Produto Interno Bruto (PIB) do País está atrelado especialmente a um impulso no agronegócio. Por outro lado, considera que há um arrefecimento do crédito e uma alta inadimplência. Tudo isso, somado a um cenário de uma taxa de juros elevada. "O Banco Central mantém uma meta clara de perseguir 3% para a inflação. É uma meta muito exigente e que faz com que a taxa de juros seja muito alta”, conjecturou o especialista.
Nesse contexto, ele acredita que há condições que podem surgir entre janeiro e março de 2026 para que o Brasil comece a cortar juros. Isso dependerá do comportamento do câmbio. Afinal, as políticas econômicas do presidente dos EUA, Donald Trump, conforme Machado, devem enfraquecer o dólar, embora sua relevância e sua dominância tendam a ser mantidas.
O impacto das tarifas de Trump a produtos brasileiros, foi visto pelo especialista como um impacto temporário. Conforme Machado, os maiores afetados têm sido os importadores norte-americanos. "O importador está reduzindo suas margens e tendo uma absorção de quase 54% das tarifas. O exportador para os Estados Unidos, 10%, e o que está chegando ao consumidor é 30%", avaliou o estrategista.