A valorização do turismo rural, ecológico e cultural tem ganhado espaço na estratégia de desenvolvimento do Litoral Norte do RS. A articulação é liderada pela Associação de Turismo do Litoral Norte (ATL), que reúne representantes do setor privado e do poder público e defende uma promoção integrada dos atrativos da região, para além do turismo de sol e praia.
Criada em 2019, a ATL atua como Instância de Governança Regional (IGR) e congrega 23 municípios, dos quais 18 participam formalmente por meio das gestões públicas. Segundo o atual presidente da entidade, o guia turístico Everton Barbosa, o objetivo é consolidar o Litoral Norte como destino turístico permanente, com experiências distribuídas ao longo do ano. “O que a gente precisa agora é divulgar mais e mostrar que aqui não é só praia”, pondera.
A estratégia passa pela participação em feiras nacionais e internacionais de turismo, além da ampliação da presença digital. A associação esteve recentemente no Festuris, em Gramado, e também integrou a comitiva gaúcha na FIT, feira internacional realizada em Buenos Aires. “A ida à FIT foi um divisor de águas. Tivemos mais visibilidade junto ao governo do Estado e ao mercado internacional, principalmente do Mercosul”, relata Barbosa.
De acordo com o presidente da ATL, o crescimento do fluxo de turistas argentinos e uruguaios tem sido determinante para ampliar o olhar sobre o turismo regional. “No verão passado, cerca de 1,7 milhão de turistas passaram pela fronteira uruguaia. Aproximadamente 700 mil ficaram no Litoral Norte gaúcho”, diz. Para 2026, a estimativa é de aumento desse número, especialmente em municípios com oferta diversificada de experiências.
Torres é citada como exemplo de município que avançou na promoção turística integrada. “Torres está um passo à frente porque investiu em divulgação, participou das principais feiras e estruturou produtos como o Geoparque, o turismo rural e o de aventura”, avalia Barbosa, que estima que a cidade receba cerca de 550 mil turistas do Mercosul em 2026.
Objetivo da Associação de Turismo do Litoral Norte é mostrar oportunidades além da área de praia que possam ser exploradas
Cachoeira dos Borges/Divulgação/Cidades
Além de Torres, a ATL aponta outros municípios que vêm estruturando produtos turísticos ligados à cultura, natureza e turismo rural. Santo Antônio da Patrulha, Osório, Três Cachoeiras, Morrinhos do Sul e Mampituba são citados como exemplos de localidades com receptivos organizados, roteiros rurais e atividades de aventura.
Morrinhos do Sul aposta em trilhas em áreas de Mata Atlântica, turismo rural e atividades ao pé dos cânions dos Aparados da Serra Geral. Três Cachoeiras trabalha com cachoeiras, lagoas, chapadas e roteiros rurais, com uma rota voltada à imigração italiana na localidade de Morro Azul. Já em Mampituba, roteiros como visitas a cascatas, vales, propriedades rurais e empreendimentos gastronômicos integram a oferta vinculada ao Geoparque Cânions do Sul.
Segundo Barbosa, um dos desafios é equilibrar o potencial natural com a capacidade de atendimento. “Não adianta divulgar se o município não tem projeto, não tem estrutura mínima. Falta projeto técnico para buscar recursos e emendas parlamentares”, ressalta.
A carência de sinalização turística e de projetos estruturados é apontada como um dos principais entraves. “A sinalização ainda é muito precária. Muitos municípios não conseguem acessar recursos porque não têm projetos prontos, e projeto é fundamental”, afirma o presidente da ATL. A entidade tem orientado gestores a buscar apoio técnico para qualificar propostas e ampliar o acesso a verbas públicas.
Na avaliação da associação, a diversificação do turismo é estratégica também para atender um novo perfil de visitante. “Turistas da Argentina e do Uruguai, por exemplo, costumam ficar no nosso litoral uma média de sete dias; nesse período, fica três dias na praia e depois quer outras experiências. Turismo rural, cultural, ecológico e de aventura entram exatamente nesse espaço”, explica Barbosa.
A expectativa da ATL é que a atuação conjunta entre municípios, empreendedores e governos permita ampliar a permanência dos visitantes na região e reduzir a dependência da alta temporada de verão. “O Litoral Norte tem produto, tem atrativo e tem demanda. O que falta é organizar, planejar e mostrar isso para quem está fora”, conclui.