A rotina do empresário João Dal Magro, proprietário de um restaurante japonês em Capão da Canoa, é marcada por cuidados extras para lidar com oscilações no fornecimento de energia elétrica e água no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Em um segmento em que refrigeração e higiene são essenciais, quedas de luz ou falhas no abastecimento representam risco direto à operação e à segurança dos alimentos. Para reduzir perdas, ele investiu cerca de R$ 15 mil em um gerador exclusivo para manter freezers ligados em situações de emergência.
Segundo Dal Magro, no inverno os problemas costumam ser pontuais e associados a eventos climáticos, como temporais e ciclones. No verão, porém, a vivência com interrupções ocorre mesmo sem intempéries, que ele atribui ao aumento expressivo da demanda. "Se a praia lotou, a gente já espera que possa faltar luz ou água", relata. Em datas críticas, como o Réveillon, o empresário opta por não abrir o restaurante, avaliando que a infraestrutura disponível não garante condições adequadas de funcionamento.
Além da energia, a qualidade da água também preocupa. Dal Magro afirma que, em períodos de maior consumo, a água chega com alteração de odor e aspecto, levando o estabelecimento a utilizar água mineral no preparo dos alimentos. A solução encontrada foi instalar caixa d'água no novo endereço do restaurante, reduzindo os impactos de interrupções no fornecimento.
A percepção de fragilidade na infraestrutura é compartilhada por Ivone Ferraz, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte. Para ela, a falta de energia é um problema recorrente e com potencial de gerar prejuízos elevados, especialmente em hotéis e restaurantes. Ivone relata episódios de até 12 horas sem luz, com perdas de alimentos, danos a equipamentos e dificuldades para realizar cobranças, já que sistemas eletrônicos dependem de energia.
"A gente paga caro pelo serviço e, quando precisa, não tem suporte", afirma. Segundo a dirigente, o setor ainda não dispõe de canais eficazes de diálogo com a CEEE Equatorial, o que aumenta a sensação de insegurança às vésperas da alta temporada. Embora o abastecimento de água tenha apresentado melhora nos últimos anos, a dirigente avalia que a rede de esgoto segue saturada em diversos pontos da região, especialmente durante picos de ocupação.
A visão é mais moderada para Márcio Seibel, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Tramandaí e Imbé. Ele reconhece que o crescimento populacional permanente e sazonal exige investimentos contínuos, mas avalia que houve avanços recentes. Seibel aponta obras de substituição de postes e redes realizadas pela concessionária de energia e intervenções da Corsan Aegea como sinais de melhora gradual da infraestrutura.
Na avaliação da CDL, faltas de água e energia ainda ocorrem, sobretudo no fim do dia, quando a demanda aumenta, mas com menor intensidade do que em anos anteriores. "Hoje, já não é tão gritante como era", afirma Seibel, destacando que muitos estabelecimentos comerciais passaram a adotar medidas preventivas, como caixas d'água e adaptações operacionais.
Os relatos do empresariado se somam às preocupações já manifestadas por gestores municipais de municípios como Tramandaí, Imbé, Xangri-lá e Capão da Canoa. A região, que multiplica sua população durante o verão em até 10 vezes, depende de redes dimensionadas originalmente para um consumo muito inferior ao registrado nos meses de alta temporada. Com a expectativa de um verão mais movimentado, impulsionado também pela presença de turistas estrangeiros, o setor produtivo da região litorânea entra na temporada adotando estratégias próprias para mitigar riscos, enquanto os investimentos aplicados nas concessões buscam gradualmente modernizar os sistemas vigentes e ampliar a operação.