O valor médio do endividamento do consumidor em Erechim permanece entre os mais altos do Rio Grande do Sul, segundo dados de outubro da Serasa Experian. O município do Norte gaúcho, que ainda enfrenta o rescaldo da forte tempestade de granizo que atingiu mais de 45 mil pessoas no fim de novembro, vê esse cenário se refletir também nas expectativas para as compras de fim de ano.
Conforme o levantamento, cada um dos 34.648 devedores de Erechim tinha, em média, R$ 8.742 em dívidas, distribuídas em 176.593 registros, mais de R$ 300 milhões no total. Já em Santa Rosa, que repetiu o segundo lugar nesse quesito, o valor médio ficou em R$ 7.974 entre 21.228 inadimplentes, somando quase R$ 170 milhões. Embora ambos os municípios tenham apresentado ligeira queda no tíquete médio em relação a agosto, o número de devedores aumentou. Canoas (164.372) e Caxias do Sul (164.055) concentram os maiores volumes absolutos de consumidores inadimplentes no interior.
A presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Erechim, Débora Balbinotti Lunardi, avalia que o alto valor médio de dívidas no município reflete um quadro estrutural. “Há uma reincidência grande: muitos consumidores nunca conseguem zerar suas dívidas e permanecem continuamente no cadastro de devedores”, explica. Ela destaca que, embora Erechim seja um polo regional de consumo, a tempestade recente alterou completamente o comportamento de compra. “As compras de Natal vão acontecer, mas haverá uma mudança clara de prioridades. O 13º salário deve ser usado, principalmente, para reconstrução de casas e negócios.”
Segundo Débora, cerca de 6 mil CNPJs foram afetados e muitos comerciantes ainda contabilizam prejuízos de estrutura e estoque por conta da tempestade. A CDL tem orientado empresas e instituições financeiras sobre a importância de renegociar prazos e evitar que consumidores enfrentem nova onda de endividamento. “Mais importante do que ofertar crédito agora é ajustar prazos para que ninguém fique inadimplente”, afirma.
A entidade mantém programas de educação financeira, ações de regularização de dívidas com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), ao qual é vinculada, e diálogo permanente com o Procon. Para o fim do ano, reforça a campanha de compra local. “Nesse momento, comprar na cidade ajuda a reconstruir Erechim. O impacto da tempestade não é visível à primeira vista, a cidade está seca, mas praticamente não se vê um telhado inteiro”, afirma Débora. Ainda assim, ela acredita na recuperação: “Somos uma cidade pujante. Vamos superar.”
No caso da Serasa, a instituição prorrogou até 19 de dezembro seu mutirão nacional de renegociação. No Rio Grande do Sul, novembro registrou 265 mil acordos até este domingo (30), beneficiando 151.338 consumidores com descontos que passam de R$ 665 milhões.
A especialista em educação financeira da Serasa, Bianka Amaral, destaca que a inadimplência costuma surgir de descuidos cotidianos. “Um boleto que venceu, um gasto que não foi registrado, uma parcela que a gente não acompanhou”, afirma. Ela reforça que rotinas simples podem evitar problemas maiores: “Revisar o extrato, organizar os gastos essenciais e tratar cada compromisso como prioridade reduz encargos e fortalece o planejamento.” Segundo ela, antes de assumir um novo parcelamento, vale sempre perguntar: “Isso realmente cabe no meu orçamento nos próximos meses?”