A Universidade de Caxias do Sul (UCS) afirmou que pretende manter ativo o Memorial Ernesto Geisel instalado na biblioteca do campus de Bento Gonçalves e que está aberta ao diálogo para construir soluções que evitem o impasse com o Ministério Público Federal (MPF). Em resposta enviada ao órgão, a instituição defendeu a continuidade da mostra e ressaltou que sua preservação está amparada pela autonomia universitária e por decisão técnico-científica de seu corpo docente.
A UCS argumenta que o MPF, ao recomendar a desativação imediata do espaço, “adentra perigosamente na esfera da liberdade acadêmica”, uma vez que cabe à comunidade científica definir quais acervos possuem relevância para serem preservados e estudados. A universidade afirma que o memorial não tem caráter de exaltação política, mas de documentação histórica, reunindo materiais sobre programas estruturantes do Estado brasileiro nas áreas de energia, agricultura, ciência e tecnologia. Segundo a instituição, a narrativa está centrada em políticas públicas de longo prazo, e não na figura do ex-presidente.
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Outro ponto destacado pela UCS é a necessidade de “ouvir e respeitar certas escolhas da comunidade local”, que considera legítimo preservar parte da memória de um cidadão nascido no município. A instituição reforça que o espaço é fruto de uma demanda histórica de Bento Gonçalves e que a manutenção da mostra, ou eventual transferência para outro local público, conta com apoio de entidades e da prefeitura.
Na resposta, a universidade também defende que o memorial não se confunde com homenagem celebratória, mas configura um espaço de guarda de documentos e incentivo à pesquisa. A instituição sublinha ainda seu compromisso com os direitos humanos, o pluralismo e o Estado Democrático de Direito, e afirma que a preservação do acervo integra o papel da universidade como “guardiã do conhecimento e da história”.
A manifestação da UCS ocorre após o MPF recomendar, na última semana, a retirada do memorial por entender que a mostra configura exaltação a um ditador e contraria determinações da Comissão Nacional da Verdade (CNV), podendo causar novos sofrimentos às vítimas da repressão da ditadura militar. O órgão alertou que, caso a universidade mantenha o espaço, poderá ajuizar ação civil pública por dano moral coletivo. Na avaliação dos procuradores, a existência do memorial viola princípios como a dignidade humana e a vedação a tratamentos degradantes, além de contrariar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF).
O MPF também orientou a UCS a não reinaugurar o espaço nem criar novas homenagens a agentes envolvidos em violações de direitos humanos. A assessoria de comunicação do MPF no Rio Grande do Sul informou à reportagem que o órgão irá analisar a resposta.