Na região de Frederico Westphalen, o paisagismo deixou de ser visto apenas como um detalhe estético para se tornar parte de uma estratégia de valorização do meio rural e das cidades. O projeto "Jardins do Norte Gaúcho", desenvolvido pela Emater/RS-Ascar desde 2020, vem mudando a forma como agricultores, famílias e prefeituras lidam com seus espaços. A iniciativa alia beleza, sustentabilidade e qualidade de vida, alcançando atualmente 31 municípios da região gaúcha.
O projeto nasceu da constatação de que o Norte, historicamente considerado uma das mais carentes do Estado, precisava de uma cultura mais forte de cuidado com os espaços externos. "A gente percebeu que o paisagismo não estava no DNA da colonização daqui e, muitas vezes, faltava conhecimento técnico. Então buscamos referências em outras regiões e trouxemos a ideia do paisagismo regenerativo, que valoriza elementos locais e plantas perenes", explica Dulceneia Haas Wommer, assistente técnica regional da Emater em Frederico Westphalen.
As capacitações começaram em 2020, inicialmente com extensionistas, e foram ampliadas para agricultores, lideranças comunitárias e funcionários públicos. Os cursos têm 40 horas e abordam desde noções de saneamento básico até técnicas de jardinagem e planejamento paisagístico.
Os resultados, segundo Dulceneia, vão além da transformação visual das propriedades. Muitas famílias relatam mudanças de autoestima e de relação com o espaço em que vivem. "Já ouvimos depoimentos de mulheres que, depois de organizarem seus jardins, passaram a sentir mais orgulho de sua propriedade. É algo que impacta a saúde emocional e o pertencimento ao meio rural", afirma.
O impacto também chegou às áreas urbanas. Com a participação de funcionários de prefeituras nos cursos, práticas de paisagismo sustentável passaram a ser aplicadas em praças e espaços públicos de cidades como Sarandi, Cerro Grande e São Pedro das Missões.
Outro reflexo do projeto foi a abertura de oportunidades de renda. Dois viveiros já se estruturaram para produção e venda de plantas ornamentais, em Liberato Salzano e Palmitinho, e outras iniciativas menores surgiram em feiras locais, com mulheres comercializando suculentas, orquídeas e arranjos artesanais. Em alguns municípios, como Ronda Alta, o poder público passou a manter viveiros próprios para abastecer a cidade.
De acordo com a assistente, um marco recente para o avanço das ações foi a inauguração do Centro de Treinamento Regional de Frederico Westphalen (Cetref), espaço voltado à formação prática em paisagismo e saneamento. "Não é apenas plantar flores, é transformar a forma como as pessoas se relacionam com seu espaço de vida", resume Dulceneia.