Porto Alegre,

Publicada em 11 de Setembro de 2025 às 15:12

Templo budista completa 30 anos em Três Coroas

Local, que atrai cerca de 60 mil pessoas à cidade do Vale do Paranhana, procura se integrar à comunidade com atividades

Local, que atrai cerca de 60 mil pessoas à cidade do Vale do Paranhana, procura se integrar à comunidade com atividades

Mauria Sabbado/Divulgação/Cidades
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Lívia Araújo
Lívia Araújo Repórter
Dos 66 anos do município de Três Coroas, no Vale do Paranhana, completados em maio, quase metade deles foi de convivência com o Chagdud Gonpa Khadro Ling, o templo dedicado ao budismo tibetano, que chega a 30 anos em 2025.
Dos 66 anos do município de Três Coroas, no Vale do Paranhana, completados em maio, quase metade deles foi de convivência com o Chagdud Gonpa Khadro Ling, o templo dedicado ao budismo tibetano, que chega a 30 anos em 2025.
O marco será celebrado neste fim de semana com a realização do Festival no Templo, evento que une as danças sagradas da religião asiática com apresentações de grupos artísticos e folclóricos de Três Coroas, além de uma feira de produtos e serviços, e oficinas de yoga e meditação.
O Khadro Ling foi fundado em 1995 por Chagdud Tulku Rinpoche, mestre da linhagem Nyingma do budismo vajrayana, o ramo tibetano da religião surgida na Índia há cerca de 2500 anos. Nascido em 1930 no Tibete – região anexada pela China –, em 1994, depois de viver nos Estados Unidos, mudou-se para o País a convite de seus alunos e iniciou a construção do templo em Três Coroas, onde viveu até sua morte, em 2002. Hoje, o local conta com 30 praticantes e professores que vivem ali.
Nessas três décadas, o templo tornou-se um dos principais cartões-postais do município. Com construções que reproduzem a arquitetura tradicional tibetana e abrigam monumentos e estátuas sagradas, o espaço recebe atualmente cerca de 60 mil visitantes por ano. Antes da pandemia, esse número chegava ao dobro.
A dimensão alcançada pelo Khadro Ling, no entanto, não foi planejada, como recorda Lama Sherab Drolma, professora que atuou como tradutora de Chagdud Rinpoche. “O Rinpoche queria construir um templo nos moldes da tradição tibetana, que inspirasse coisas positivas nas pessoas. Nunca foi uma meta se tornar um ponto turístico do Brasil. Isso aconteceu naturalmente, pelo boca a boca, pelas pessoas que vinham, se encantavam e divulgavam”, afirma.
Para o prefeito de Três Coroas, Fabiel Port, a presença do templo foi decisiva para a transformação da cidade em um destino turístico. “Temos o maior templo da América Latina e, com certeza, atrai um grande número de visitantes para a nossa cidade, além de divulgar o nome de Três Coroas. A vinda do templo trouxe uma nova cultura e contribuiu muito para o desenvolvimento do turismo no município”, avalia.
A Terra Pura de Padmasambhava é uma das construções em estilo tibetano presentes no Khadro Ling, em Três Coroas | LIVIA ARAUJO/ESPECIAL/CIDADES
A Terra Pura de Padmasambhava é uma das construções em estilo tibetano presentes no Khadro Ling, em Três Coroas LIVIA ARAUJO/ESPECIAL/CIDADES
 
Essa interação ultrapassa o turismo. Segundo o prefeito, a comunidade do templo participa de atividades sociais e culturais organizadas pela cidade, como oficinas de música e apresentações de teatro, fortalecendo uma convivência que se consolidou ao longo dos anos. “É uma integração entre as duas culturas, visando que cada uma se aproprie do melhor que tem para oferecer à cidade”, completa.
Do lado da comunidade budista, a relação também sempre foi cultivada. Lama Sherab lembra que Chagdud Rinpoche enfatizava a importância de dar suporte ao município. “Desde o início, priorizamos compras no comércio local, contratação de moradores, participação em festivais. Sempre buscamos manter contato com a cidade”, conta. Com o tempo, essa aproximação se fortaleceu, inclusive em grandes eventos que exigiam hospedagem em hotéis de Três Coroas e cidades vizinhas.
O impacto econômico é visível. De acordo com um levantamento da diretoria de Turismo da prefeitura, a cidade registra uma média anual de 180 mil visitantes, entre o templo, que representa pouco mais de 30% desse volume, e a visita aos parques de esportes radicais, como o rafting, uma das vocações da região. O desafio, segundo o prefeito, é aproveitar esse fluxo para fomentar também outras atividades. “O templo atrai milhares de pessoas, e nosso trabalho é interligar esses visitantes com o rafting, a gastronomia e o comércio local, ampliando o impacto para toda a cidade”, explica Port.
Ao longo dos anos, o Khadro Ling ganhou projeção nacional, aparecendo em guias turísticos e consolidando-se como referência cultural e espiritual. Para os moradores, a figura de Chagdud Rinpoche deixou lembranças afetivas, especialmente pela presença constante no cotidiano da cidade. Lama Sherab recorda episódios que marcaram a convivência com os habitantes. “Ele era um senhor de idade, com roupas típicas tibetanas, e chamava muito a atenção, especialmente das crianças, que o confundiam com o personagem Senhor Miyagi, do filme Karatê Kid”, lembra.
O crescimento do templo também foi acompanhado de desafios, como a pandemia e as enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul. Mesmo assim, a comunidade budista manteve a intenção original de seu fundador: inspirar e trazer benefícios a quem visita o espaço. “Se o Rinpoche estivesse aqui hoje, acredito que estaria feliz com o resultado de tudo isso. Foram 30 anos de muito aprendizado e de uma convivência enriquecedora com Três Coroas”, afirma Lama Sherab.
Presente na comunidade de praticantes desde o início das atividades do espaço, Lama Sherab guarda inúmeras lembranças, das quais uma das mais marcantes era a reação dos moradores à presença de Chagdud Rinpoche no dia a dia de Três Coroas, em idas ao banco ou a restaurantes. "Uma vez paramos em frente ao supermercado, era no horário da saída da escola, e de repente nosso carro ficou circundado por umas 20, 25 crianças, que queriam que o Rinpoche autografasse o caderno deles da escola. Eu de vez em quando ainda encontro com um desses alunos na rua.”

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