A cidade de Esteio se torna a capital do agronegócio, ao menos, uma vez por ano, durante a realização da Expointer, considerada uma das principais feiras do setor na América Latina. Com público próximo do 1 milhão de visitantes e negócios movimentados em segmentos com máquinas, animais, grãos e nos pavilhões da Agricultura Familiar, o evento se aproxima da 50ª edição ainda com gargalos a serem superados - pela organização e pela cidade da Região Metropolitana.
Em entrevista ao Jornal Cidades, o prefeito de Esteio, Felipe Costella, anunciou que uma das obras para desafogar o trânsito, muitas vezes sobrecarregado na BR-116, será entregue este ano. A alça de acesso da BR-448 (Rodovia do Parque) até a avenida Celina Kroeff, que permitirá o acesso direto ao Parque de Exposições Assis Brasil, está próxima da conclusão.
Além disso, a prefeitura trabalha, junto ao governo estadual, para que parte dos negócios realizados na feira - e seus impostos - fiquem na cidade. Este ano, em função do endividamento, o faturamento geral da feira ficou em R$ 4,4 bilhões, e o chefe do Executivo esteiense entende que, por sediar o parque e ter 5% do território dedicado à estrutura, a cidade precisa participar mais ativamente do resultado final da feira.
Jornal Cidades - O que representa a Expointer para Esteio, em termos de movimentação de público e de arrecadação?
Felipe Costella - Nós nos preparamos o ano inteiro para receber a Expointer. A feira não começa quando ela realmente inicia, mas bem antes disso, no primeiro semestre. Para ter uma ideia, a gente teve 30 mil pessoas trabalhando dentro do parque para que as estruturas fossem montadas e que a gente conseguisse colocar Expointer em pé. Os hotéis lotados, lancherias e bares com movimento, restaurantes vendendo 200% ou 300% a mais do que o habitual. O entorno do parque tem vida própria, as pessoas acabam alugando as suas casas, alugando o terreno para estacionamento privado, fazendo aquele dinheirinho extra.
Cidades - O senhor tem ideia, por exemplo, do que a Expointer traz em números para a cidade?
Costella - Nem todos os impostos dos negócios gerados na feira ficam para Esteio, porque as notas são tiradas nos suas respectivas cidades ou estados. Estou protocolando um documento junto ao governo do Estado justamente para tratarmos disso. O município quer ter uma participação nos impostos em todos os negócios gerados dentro do parque. No ano passado R$ 8,1 bilhões movimentados. Então a expectativa pelo menos é essa (de participar da distribuição dos valores). Esteio se sente no direito de ter participação nos lucros da Expointer, porque os negócios são fechados aqui, na nossa cidade. Só o parque, por exemplo, ocupa 5% do território da cidade e queremos rentabilizar o parque para gerar recursos para o desenvolvimento.
Cidades - E sobre a infraestrutura da cidade para receber esses visitantes, o que senhor entende que pode melhorar para as próximas feiras?
Costella - Nós estamos ao lado da BR-448 ao lado da BR- 116, a poucos metros da ERS-118, temos o Trensurb, daqui até o Aeroporto Salgado Filho leva cerca de 20 minutos... Nós temos uma alça da BR-448, que é um viaduto, uma alça de acesso, que nunca foi concluída pelo governo federal. O meu desejo era entregar essa alça pronta até a Expointer deste ano, infelizmente não foi possível, mas o nosso compromisso é entregar essa obra até o fim deste ano. São R$ 8 milhões que serão investidos, com valores municipais e estaduais, e a ideia então é, no fim do ano, ter a liberação desse trânsito, que seria uma alternativa de acesso aqui ao parque.
Cidades - Um outro ponto da cidade é a rede hoteleira. Pela alta demanda, muitos visitantes acabam ficando em Porto Alegre e demais cidades da região. Como fazer para que esse turista fique em Esteio?
Costella - Logisticamente, Esteio é muito privilegiada e eu acredito que tem um grande mercado para rede hoteleira, sim. Por aqui passam pessoas que desceram no aeroporto e estão indo para a Serra Gaúcha, por exemplo. Então, eu acredito que é um bom lugar para se investir. Precisaríamos de incentivos da iniciativa privada, mas tem muito espaço na cidade e até mesmo dentro do Parque Assis Brasil para abrigar um hotel. Eu conversava com um palestrante alemão que viajou duas vezes o mundo todo, e ele me disse que ele frequenta diversas feiras, e em nenhum lugar do mundo há um parque de exposições ou algo parecido como o nosso que temos em Esteio. Precisamos explorar esse potencial.
Parque de Exposições Assis Brasil ocupa 5% do território de Esteio
TÂNIA MEINERZ/JC
Cidades - E sobre os demais eventos no Parque além da Expointer... A prefeitura tem feito alguns festivais para atrair o público. Manter o local ativo o ano inteiro é possível?
Costella - Nós temos uma parceria muito boa com o governo estadual e normalmente a gente não tem problema nenhum para fazer eventos dentro do parque. Temos algumas agendas fixas, como o Festival do Japão, que ocorria em Porto Alegre e passou para Esteio, a Semana Farroupilha, que começa logo após a Expointer, com mais de 100 piquetes, movimentando 150 mil pessoas, eventos particulares, então, o Parque Assis Brasil tem vida própria. Meu desafio é criar um ecossistema de funcionamento no ano inteiro. O Boulevard, por exemplo, com os restaurantes que teriam que funcionar o ano todo, para se criar um polo gastronômico. Temos o HubAgro, em parceria com a Feevale, voltado para projetos no setor. São ações que movimentam o parque, já avançamos, mas queremos mais iniciativas no parque.
Cidades - E sobre novos negócios, o que entende ser necessário para que eles se instalem na cidade?
Costella - A gente tem o Escritório do Empreendedor, que fomenta esses negócios para que as pessoas se encorajem a abrir um CNPJ, empreender e diversificar os seus negócios na cidade. Há uma política de incentivos fiscais também, porque não temos área de terra para usar como benefício para as empresas... Então, nós criamos essa política em que cada empresário que vai construir ou ampliar os seus negócios tem diferenciações na questão dos impostos, mas tem redução de ISS, tem isenção de ITBI e uma série de outros atrativos. Com a Feevale, temos essa parceria público-privada, em que a universidade entra com toda a estrutura do campus, o município entra com o prédio e isso gera projetos para nós. Essas ideias nos agradam.