De Pelotas, especial para o Cidades
Um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Embrapa Clima Temperado apontou que a margarida-da-praia (Grindelia atlantica), espécie exclusiva do Rio Grande do Sul, corre risco crítico de extinção. A planta, que já foi encontrada em diferentes pontos do litoral gaúcho, como Tapes, Tramandaí, Rio Grande e Jaguarão, hoje tem ocorrência significativa apenas em Pelotas, especialmente na Praia do Laranjal.
Um levantamento realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e Embrapa Clima Temperado apontou que a margarida-da-praia (Grindelia atlantica), espécie exclusiva do Rio Grande do Sul, corre risco crítico de extinção. A planta, que já foi encontrada em diferentes pontos do litoral gaúcho, como Tapes, Tramandaí, Rio Grande e Jaguarão, hoje tem ocorrência significativa apenas em Pelotas, especialmente na Praia do Laranjal.
O estudo revelou que restam cerca de 600 indivíduos da espécie em ambiente natural. “Nós fomos fazer um levantamento mais detalhado do quanto restavam dessas plantas e aí isso nos trouxe um dado muito chocante: do total da espécie só existiam atualmente em torno de 600 plantas. E isso foram dados que levantamos antes da grande enchente que ocorreu no Rio Grande do Sul ano passado”, explicou Gustavo Heiden, biólogo e pesquisador da Embrapa Clima Temperado.
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Segundo Heiden, o desaparecimento da margarida-da-praia em áreas como Tramandaí e Tapes já havia sido registrado em levantamentos anteriores, configurando casos de extinção local. Esse processo reduziu drasticamente a área de ocorrência da planta, acendendo um alerta entre especialistas. “A espécie já era considerada ameaçada de extinção, mas com os novos levantamentos e as perdas observadas, ela passou a ser classificada como criticamente ameaçada, que é a última etapa antes da extinção completa”, afirmou.
A espécie chama a atenção não apenas por sua raridade e exclusividade no Rio Grande do Sul, mas também pelo potencial ornamental, ecológico e farmacológico. Estudos de plantas da mesma família já identificaram substâncias químicas utilizadas em aplicações industriais e medicinais. “Além da extinção da espécie em si já ser uma perda muito grande, também perderíamos aplicações potenciais para nosso benefício, que poderiam ser a parte ornamental, farmacológica ou outros usos que essa planta poderia guardar em si”, destacou Heiden.
Entre os fatores que agravam a situação estão a competição com espécies exóticas invasoras, especialmente capins de grande porte, que sombreiam o ambiente natural da margarida-da-praia. A planta, de porte rasteiro e que necessita de sol pleno, acaba sendo prejudicada pelo sombreamento. Esse processo, além de afetar a margarida, impacta todo o ecossistema de dunas, que cumpre função importante na fixação do solo em episódios de vento e cheias.
João Iganci, professor de Botânica da UFPel, explica que o estudo que embasou a reclassificação da margarida-da-praia foi feito a partir de uma contagem minuciosa de cada indivíduo remanescente na natureza. “O número total de plantas vem oscilando ao longo do tempo. Tivemos perdas significativas durante as enchentes em Pelotas, que agravaram ainda mais o quadro. Além disso, espécies invasoras começaram a crescer de forma muito mais pronunciada, substituindo o habitat natural”, observou.
Segundo Iganci, ações imediatas são necessárias para evitar a extinção da espécie. “As medidas que precisamos adotar são, em primeiro lugar, a remoção dessas espécies invasoras que estão ocupando o habitat natural e também o cercamento das áreas onde ainda restaram plantas da margarida-da-praia. Além disso, estamos testando a germinação das sementes para conseguir reproduzir a espécie em áreas naturais e também em espaços urbanos, como canteiros e jardins”, detalhou.
De acordo com os pesquisadores, a margarida-da-praia floresce entre setembro e o verão, período em que suas flores amarelas se destacam em áreas como a orla do Laranjal, em Pelotas. A preservação da espécie é vista não apenas como um esforço de conservação ambiental, mas também como uma forma de manter viva parte da identidade ecológica e cultural do litoral gaúcho.
Para os especialistas, a continuidade da margarida-da-praia depende da integração de esforços entre universidades, órgãos ambientais e poder público, com medidas de proteção do habitat, controle de espécies invasoras e incentivo ao cultivo em espaços controlados. A expectativa é que a conscientização da população e o engajamento em iniciativas de preservação contribuam para que a flor, exclusiva do Rio Grande do Sul, não desapareça do cenário natural do Estado.