Porto Alegre,

Publicada em 01 de Setembro de 2025 às 18:25

Ciência tenta explicar fenômeno dos gêmeos em Cândido Godói

Cidade próxima da fronteira com a Argentina é reconhecida como aquela onde há maior número de irmãos gêmeos no mundo

Cidade próxima da fronteira com a Argentina é reconhecida como aquela onde há maior número de irmãos gêmeos no mundo

Flickr Prefeitura Cândido Godói/Divulgação/Cidades
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Larissa Britto
Larissa Britto Repórter
A cidade de Cândido Godói, situada no Noroeste gaúcho, quase na fronteira com a Argentina, é reconhecida e caracterizada como a cidade onde mais nascem gêmeos do mundo. Na cidade onde vivem um pouco mais de 6,2 mil habitantes, o fenômeno incomum é explorado por médicos especialistas em genética que buscam razões que expliquem as causas do número expressivo do nascimento de gêmeos no município fronteiriço.
A cidade de Cândido Godói, situada no Noroeste gaúcho, quase na fronteira com a Argentina, é reconhecida e caracterizada como a cidade onde mais nascem gêmeos do mundo. Na cidade onde vivem um pouco mais de 6,2 mil habitantes, o fenômeno incomum é explorado por médicos especialistas em genética que buscam razões que expliquem as causas do número expressivo do nascimento de gêmeos no município fronteiriço.
A professora Lavinia Schüler, do Serviço de Genética Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), realiza estudos na cidade desde 2009, junto à professora adjunta do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Úrsula Matte, que desenvolve suas atividades de pesquisa no Centro de Pesquisa Experimental do HCPA. Durante nove anos, as pesquisadoras coletaram amostras de material genético de gêmeos e não gêmeos. "Nós achamos algumas variações genéticas que predispõem ao nascimento de gêmeos lá naquela comunidade", diz Lavinia. 
Ela explica que uma gestação de gêmeos é considerada rara - cerca de 1% a cada 100 gestações - o que torna a cidade ainda mais emblemática. "As mães de gêmeos (da cidade) têm algumas características genéticas que permitem que esses bebês tenham gestações saudáveis. Quando tem gemelares, os bebês têm que compartilhar o aporte de alimentos, de energia e de espaço. Por isso, essas gestações são sempre consideradas de risco. Lá em Cândido Godói isso parece não acontecer e as crianças têm uma sobrevivência muito melhor", explica.
A médica e professora define que o fenômeno é resultante da soma de fatores genéticos e hábitos saudáveis, mas destaca que a hipótese mais aceitável parte de condições genéticas, provenientes da origem polonesa e germânica da população de Cândido Godói. "Às vezes uma característica não é tão prevalente na população parental, ou seja, aquela que dá a origem. Mas quando ela migra para algum lugar, algumas dessas pessoas fundadoras têm uma característica genética, chamada de 'efeito fundador'. Ela (a característica) pode ficar muito mais frequente nessa população que foi fundada do que na população original", afirma.
A gravidez gemelar é uma gestação em que mais de um feto desenvolve-se no útero. A professora Lavinia explica que há dois tipos de categorias de gêmeos, os monozigóticos e os dizigóticos. Os monozigóticos, ou univitelinos, são concebidos apenas quando um óvulo é fertilizado por um único espermatozoide e posteriormente se dividem em duas linhas de células completas. Já os gêmeos dizigóticos, ou bivitelinos, são concebidos a partir da fertilização de dois óvulos por dois espermatozoides diferentes ao mesmo tempo. 
No último ano em que esteve realizando pesquisas em Cândido Godói, em 2018, a professora Lavinia diz que cerca de 40 pessoas tinham um irmão gêmeo. Este dado, porém, está sendo atualizado pela prefeitura municipal através do Cadastro de Gêmeos.

'O irmão gêmeo acaba sendo o teu primeiro amigo', diz moradora

Emilene e Gilmar foram o primeiro casal gemelar a nascer no hospital da cidade

Emilene e Gilmar foram o primeiro casal gemelar a nascer no hospital da cidade

Arquivo pessoal/Divulgação/Cidades
Os irmãos gêmeos Emilene e Gilmar José de Oliveira, de 47 anos nasceram em Cândido Godói, mas atualmente apenas Emilene vive na cidade, já que Gilmar foi morar em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Ela conta que no período em que viveram juntos, eram bastante amigos. "Um irmão gêmeo acaba sendo o teu primeiro amigo. Estávamos sempre juntos. Então, às vezes ele brincava de boneca e eu tinha que brincar de carrinho. Nas brincadeiras, a gente sempre tinha segurança um no outro. Se fazíamos alguma aventura, eu sabia que não estava sozinha, porque tinha o meu irmão", relata.
Emilene conta que ela e seu irmão foram o primeiro casal de gêmeos a nascerem no hospital da cidade, já que antes as crianças nasciam em casa. "É interessante viver numa cidade reconhecida por ter tantos gêmeos. A gente fica feliz de fazer parte disso. Também tinha a expectativa quando eu estava grávida de ter também, mas não aconteceu. Porque tinha a possibilidade, já que mais gente na minha família que era gêmeo", explica. 
A professora do HCPA, Lavinia Schüler, explica que mulheres como Emilene têm maior predisposição a gerar filhos gêmeos. "A respeito dos gêmeos idênticos, nós (os pesquisadores) não conhecemos nenhum fator genético relacionado. Mas se uma mulher é gêmea de um irmão ou irmã e eles são dizigóticos, ela tem mais chance de ter filhos gêmeos", explica. Ela ressalta, porém, que se o homem tiver uma filha, esta mulher possui maiores chances de gerar filhos gêmeos.

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