A aguardada pavimentação do único trecho de chão da extensa rodovia Transbrasiliana, a BR-153, que fica justamente entre os municípios de Passo Fundo e Erechim, no Norte do RS, será decisiva para desafogar o pesado tráfego que atualmente satura a estrada estadual RS-135, avaliam gestores da área de planejamento dos dois municípios.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) aprovou, em portaria publicada em 15 de julho, o projeto executivo que prevê o asfaltamento de 68,4 quilômetros entre o km 53,6 e o km 122, que demandará um investimento total estimado em R$ 584 milhões.
A BR-153, também conhecida como Transbrasiliana ou Belém-Brasília, é uma das principais rodovias de integração nacional. Ao todo, são 3.255 quilômetros que conectam Marabá, no Pará, a Aceguá, na fronteira do RS com o Uruguai, cruzando nove estados e servindo de eixo logístico para o escoamento da produção agrícola e industrial. A rodovia corta regiões com forte peso econômico, como Goiás, São Paulo e o interior gaúcho, consolidando-se como corredor estratégico para cargas e passageiros.
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No entanto, sem a pavimentação, o trecho entre Erechim e Passo Fundo limita a circulação de veículos pesados, gera riscos de acidentes e contribui para a sobrecarga da RS-135, que atualmente concentra grande parte do fluxo entre os dois municípios. O asfaltamento pode representar uma mudança estrutural para a logística e a segurança da região.
Para o secretário de Planejamento, Mobilidade Urbana e Segurança de Erechim, Jackson Arpini, a pavimentação é fundamental para reduzir gargalos logísticos e garantir mais segurança. “Não podemos pensar em desenvolvimento regional sem ligação asfáltica entre nossos municípios. Essa obra vai desafogar a RS-135, que não comporta bitrens e registra sobrecarga há anos”, afirmou. Segundo ele, além da logística agrícola e industrial, a obra beneficiaria diretamente a mobilidade entre os polos de saúde e educação das duas cidades.
Os 68 quilômetros da rodovia, que ligam Passo Fundo e Erechim, não tem asfaltamento; custo da obra chega a R$ 584 milhões
Arte/Cidades
Em Passo Fundo, o secretário de Obras, Adolfo de Freitas, também reforça a necessidade da pavimentação. “Nós temos 40 quilômetros que encurtariam até Erechim e liberariam o tráfego da 135. O projeto está pronto há tantos anos, mas quantas vezes já foi anunciado que faltava licença ou atualização. Agora se fala em uma nova licença da Fepam”, disse.
Freitas destacou ainda que a região tem papel central na economia gaúcha. “Passo Fundo é a maior cidade da região Norte, que hoje tem o segundo PIB do Estado. Estamos carentes de obras de infraestrutura. Essa obra seria de grande valor para o escoamento da produção, para a valorização da agricultura e para desafogar o trânsito entre Passo Fundo e Erechim”, avaliou.
Na visão das lideranças locais, a solução depende menos de entraves técnicos e mais de decisão política. O prefeito de Passo Fundo, Pedro Almeida, apresentou demandas ao DNIT. “O prefeito foi pedir que se inclua algum valor no orçamento deste ano, para que a obra consiga sair do papel em 2026. Mas fomos sozinhos, sem nenhum deputado federal nos acompanhando. Essa é uma grande carência da cidade, não temos representação na Câmara dos Deputados”, relatou Freitas.
Segundo o secretário, a inclusão de qualquer valor no orçamento, mesmo que simbólico, é condição para viabilizar a obra. “Se a BR-153 não entrar no orçamento do ano que vem, mesmo que a licença da Fepam seja aprovada, ela não sai. É uma questão legal. Tem que ter um valor mínimo previsto para que depois possa ser suplementado”, explicou.
A falta de pavimentação da Transbrasiliana no trecho impacta diretamente diferentes setores. “Um produtor de erva-mate de Erebango me disse que sofre para receber caminhões. Se houvesse a ligação pela BR-153, seria muito mais fácil”, exemplificou Freitas. Além de desafogar a RS-135, a nova ligação também teria reflexo sobre a BR-285. “Ela evitaria tráfego pesado no entorno e dentro de Passo Fundo”, acrescentou.
Enquanto a obra não avança, municípios têm buscado alternativas locais. A prefeitura de Passo Fundo já assumiu integralmente a construção de um trevo de competência estadual, com investimento de mais de R$ 20 milhões. Também se dispôs a colaborar financeiramente com a duplicação de um trecho da BR-285, entre o trevo da Universidade de Passo Fundo (UPF) e a entrada da Transbrasiliana, projeto avaliado em R$ 300 milhões. “Precisamos de três ou quatro trevos urgentes. Nossa maior carência hoje é de infraestrutura”, reforçou o secretário.
Para Arpini, de Erechim, a demora na pavimentação compromete a competitividade regional. “É inconcebível que veículos modernos, inclusive caminhões, ainda precisem transitar em estrada de chão numa região agrícola e industrializada. A BR-153 já tem largura definida e traçado consolidado. O que falta é decisão política e recursos”, afirmou.
Freitas reconhece que a sucessão de anúncios sem resultados consolidou certo ceticismo na população. “Tantas vezes anunciada, essa obra quase se perdeu no imaginário popular. A cada ano se fala que vai começar e depois surge uma nova exigência. Mas é fundamental que ela entre no PAC e no orçamento para que saia do papel”, concluiu.