Porto Alegre,

Publicada em 18 de Agosto de 2025 às 15:33

Congresso em Pelotas expõe preocupação com queda no preço do arroz

Com maior área de produção e excedente na colheita, preço para produtores da Metade Sul chega a ser R$ 20 menor que a média

Com maior área de produção e excedente na colheita, preço para produtores da Metade Sul chega a ser R$ 20 menor que a média

/ISABELLE RIEGER/JC
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Patrícia Porciúncula
De Pelotas, especial para o Cidades
De Pelotas, especial para o Cidades
O 13º Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado, realizado em Pelotas após uma década sem ocorrer na cidade, colocou em evidência o atual cenário da orizicultura no Rio Grande do Sul. O encontro, promovido pela Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (Sosbai) em parceria com a Embrapa, reuniu cerca de 600 participantes durante quatro dias de debates técnicos, minicursos e oficinas voltadas ao mercado, à genética, ao manejo de pragas e às mudanças climáticas.
Entre os principais pontos discutidos estiveram o impacto das condições climáticas sobre a última safra, a pressão dos custos de produção e a queda nos preços de comercialização. O contexto trouxe preocupação entre os produtores, especialmente da metade Sul, que vivem um período de comercialização abaixo do custo estimado.  
 
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O pesquisador da Embrapa, André Andres, destacou a dimensão internacional do congresso e o peso do clima na produção recente. “Praticamente 10% do nosso público é do exterior, com representantes do Uruguai, Argentina, Paraguai e também alguns técnicos do Peru”, afirmou. Sobre os efeitos climáticos, Andres lembrou que a última safra ainda refletiu o excesso de chuvas do inverno de 2024. “As terras baixas demoraram a secar, o que atrasou a entrada dos produtores nas áreas. Mesmo em setembro, ainda tivemos chuvas que ocasionaram semeaduras tardias. Nas áreas plantadas em dezembro, houve queda de produtividade, e o produtor teve um alto custo, colhendo menos. Assim, o custo de produção acaba sendo mais alto”.
O tema dos preços foi abordado por Fernando Rechsteiner, produtor rural de Pelotas, que classificou o momento atual como delicado. “Nós vimos um mercado muito remunerador para a lavoura de arroz, com preços bastante atrativos. E nessa última safra tivemos realmente um revés dentro do nosso negócio”.
Segundo ele, a combinação entre aumento de área plantada e boas produtividades resultou em excedente de oferta, pressionando os valores para baixo. “Partimos de 900 mil hectares para praticamente 970 mil hectares. Esse aumento de área, juntamente com boas produtividades, trouxe um excedente de oferta no mercado, que depreciou os preços. Hoje se comercializa arroz abaixo do custo de produção. As estimativas de IRGA e Conab falam em torno de R$ 90,00 por saco, custo de produção no Rio Grande do Sul, e nós estamos comercializando arroz na região em torno de R$ 70,00”.
Além da questão econômica, o congresso tratou de alternativas tecnológicas e de manejo para reduzir riscos e ampliar a sustentabilidade da lavoura. Marcelo Gravina de Moraes, consultor de pesquisa no Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), apresentou painel sobre doenças do arroz irrigado em sistemas integrados. “A lavoura de arroz está passando por um processo que a gente chama de sistema de produção, que nada mais é do que a introdução de outros cultivos. No inverno, por exemplo, pastagens. No verão, a soja. Entre outros, milho em alguns locais. Essa lavoura diferente traz oportunidades e também desafios para o manejo de doenças”.
Moraes destacou que a diversificação pode ajudar a reduzir a pressão de doenças crônicas que antes eram enfrentadas com maior uso de defensivos químicos. “Esse manejo de diferentes cultivos permite escapar de problemas que anteriormente eram solucionados com a aplicação de produtos químicos. É uma estratégia mais ambientalmente correta. Mas, por outro lado, pode provocar também a seleção de patógenos novos”. O pesquisador lembrou ainda que doenças como a brusônia, uma das mais graves para o arroz, podem encontrar hospedeiros em espécies usadas no sistema integrado, exigindo monitoramento constante.
A redução do consumo interno também foi apontada como preocupação por produtores. Rechsteiner observou que, apesar da boa aceitação do arroz na dieta brasileira, há queda no consumo per capita. “Nós temos assistido ao longo do tempo uma diminuição do consumo de arroz per capita no país. O que se discute é o que levou a isso, uma vez que nutricionistas e técnicos defendem o arroz e feijão como prato principal do brasileiro, pelas suas qualidades nutricionais”. Para ele, campanhas de esclarecimento podem ser um caminho para reforçar o valor do alimento.

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