De Pelotas, especial para o Cidades
Nos primeiros cinco meses de 2025, Pelotas apresentou saldo positivo na geração de empregos, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre janeiro e maio, foram registradas 14.256 admissões e 13.353 desligamentos, resultando em 903 vagas a mais no período. Apesar do cenário geral favorável, setores estratégicos, como a construção civil, enfrentam dificuldades para contratar trabalhadores em quantidade e qualificação suficientes para atender à demanda.
O presidente do Centro das Indústrias de Pelotas (Cipel), Augusto Vaniel, explica que o crescimento do setor está diretamente ligado a programas de incentivo e investimentos públicos e privados. “Com anúncios do governo em função de recursos para os prédios que estão saindo, esses programas do governo para a construção civil, com certeza esse número aumentou”, afirma.
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Embora o setor esteja em expansão, há entraves para preencher as vagas. Vaniel observa que a cidade, reconhecida como polo universitário e educacional, forma profissionais em diferentes áreas, mas nem sempre consegue mantê-los no município. “Tem uma desconexão entre o que o jovem aprende na faculdade e o que o mercado de trabalho oferece. Isso passa pela falta de políticas públicas mais eficazes”, avalia. Ele também ressalta que o desafio não se limita à quantidade de profissionais, mas à qualificação exigida para funções específicas no canteiro de obras.
A construção civil é apontada por Vaniel como o segmento com maior dificuldade de contratação. Segundo ele, existem iniciativas de capacitação, muitas delas gratuitas, oferecidas por instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Ainda assim, a adesão é insuficiente. “Disponibiliza cursos, e muitas vezes não são preenchidas as vagas. Tem cursos que nem proliferam porque não andam para frente, porque não tem pessoas que queiram fazer”, comenta.
O empresário Rafael Nascimento, sócio-diretor da construtora Porto5, reforça o diagnóstico. Ele relata que, em determinado momento de 2023, havia cerca de 400 ceramistas disponíveis na região, mas a necessidade era de 800 profissionais. “Não tínhamos de onde tirar. Em toda a região Sul do Estado, não tínhamos condições de buscar essa mão de obra, e os grandes centros são muito difíceis de atrair pessoas para o interior”, afirma.
A dificuldade de contratação é influenciada por múltiplos fatores. A pandemia de covid-19 e o período de retomada econômica alteraram o perfil e a disponibilidade de trabalhadores. Muitos profissionais qualificados migraram para outros estados, como Santa Catarina, atraídos não apenas por salários, mas também por condições de trabalho e perspectivas de crescimento. Eventos climáticos recentes, como as enchentes de 2024, também afetaram a atividade econômica e a dinâmica de obras na região.
Rafael observa que a estabilidade das empresas de construção depende da continuidade de projetos e da previsibilidade de investimentos. Quando ocorre uma retração, trabalhadores tendem a buscar oportunidades em outras localidades. “Se o setor desacelerar, o abalo econômico para a região vai ser muito grande”, alerta. Para ele, é necessário que construtoras, sindicatos, instituições de ensino e poder público atuem de forma coordenada na formação e retenção de profissionais.
O Cipel busca ampliar parcerias e atua no diálogo com a Prefeitura e outras esferas do poder público para fortalecer o ambiente de negócios e atrair empresas. Vaniel aponta que aspectos como a agilidade na concessão de licenças e a competitividade dos custos de mão de obra são decisivos para novos investimentos. “A gente busca aconselhar e também ajudar essa empresa que quer se instalar aqui, para não deixar sair quem está aqui”, explica.
Além da formação técnica, empresários e representantes do setor defendem que Pelotas adote políticas de incentivo e estratégias para tornar o município mais atrativo para trabalhadores e empreendedores. Isso incluiria ações de habitação, transporte e integração de serviços, que podem contribuir para fixar profissionais na região.
O desempenho positivo da indústria, comércio e serviços nos últimos meses tem ajudado a compensar fragilidades na construção civil. No entanto, especialistas alertam que, se não houver atenção ao setor, há risco de comprometimento no ritmo de geração de empregos e no avanço de obras públicas e privadas.
Para os próximos anos, a expectativa do setor é de que o alinhamento entre governo, entidades representativas e iniciativa privada resulte em um planejamento de longo prazo que garanta mão de obra qualificada, reduza a rotatividade e sustente o crescimento. Com mais integração e foco em políticas estruturantes, Pelotas poderá transformar o atual desafio em oportunidade para consolidar a construção civil como um dos pilares de desenvolvimento econômico da região sul do Estado.