De Bagé, especial para o Cidades
Entre janeiro e junho de 2025, Bagé acumulou saldo positivo de 132 postos de trabalho formais, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. No período, foram registradas 3.777 admissões e 3.645 desligamentos, totalizando um estoque de 18.370 empregos no município. Apesar do desempenho geral favorável, maio e junho tiveram saldos negativos de -21 e -60 vagas, respectivamente, o que interrompeu a sequência de crescimento observada no início do ano.
O resultado positivo foi sustentado principalmente pelos setores de comércio, serviços e indústria. “A indústria, o comércio e o setor de serviços sustentam esse saldo positivo na oferta de empregos no nosso município”, afirma Flávio Gusmão, vice-presidente da Associação Comercial e Industrial de Bagé (Aciba). Ele observa que o setor de serviços, em especial, vem apresentando expansão contínua, impulsionado por novas demandas e funções ligadas à economia digital.
No entanto, a agropecuária, setor historicamente importante para a economia local, registrou retração. Entre janeiro e junho, as admissões no segmento representaram, em média, 7,46% do total do município, enquanto os desligamentos corresponderam a 8,86%. O saldo no período foi negativo em 23 vagas, com estoque de 1.277 empregos — 3,62% inferior ao registrado no mesmo período de 2024.
A característica sazonal da atividade é apontada como um fator que influencia os números. “A agricultura, principalmente, concentra sua safra em um período e, depois, a indústria entra para beneficiar essa produção”, explica Gusmão. Apesar dessa dinâmica, ele avalia que há entraves estruturais que dificultam a ampliação da produção primária na região. “É mais uma falta de oportunidade do que despreparo da mão de obra. Nós temos boas escolas e entidades capacitadas para formar trabalhadores, mas é preciso incentivo e convergência de esforços para desenvolver o setor primário”, completa.
A dificuldade para contratar trabalhadores no campo também é citada por produtores. “Hoje, se não tiver internet, tu não consegues gente para trabalhar”, afirma Cleber Zuliani Carvalho, produtor rural em Bagé. Ele aponta fatores como logística, acesso e mudança no perfil dos jovens como desafios adicionais. “Os jovens não acompanharam muito os pais nas atividades do campo, em parte por leis que proibiam empregar menores, e fomos perdendo qualidade de mão de obra. Profissões como aguador estão em extinção”, explica.
Carvalho destaca que, mesmo com boa remuneração, as vagas na agropecuária têm baixa procura. “O funcionário rural é muito bem remunerado, mas como a oferta de mão de obra é pequena, é preciso aumentar salários para atrair profissionais”. Ele observa que cursos de qualificação são oferecidos por entidades como o Sindicato Rural de Bagé, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Instituto Cooper Conecta, mas a reposição de trabalhadores qualificados ainda é insuficiente.
O produtor também relaciona a perda de mão de obra à redução das escolas rurais. “Antigamente, havia ensino até a terceira ou quarta série no campo. Depois, os pais levavam os filhos para estudar na cidade, e isso acelerou o êxodo rural”, diz. Segundo ele, a saída precoce dos jovens do campo interrompeu a transmissão de conhecimentos técnicos e práticos entre gerações.
Para Gusmão, o fortalecimento do setor primário depende de políticas de incentivo e financiamento. “O setor da agropecuária está num momento difícil, sem incentivo e com capacidade de produção limitada pela falta de investimento. Muitas vezes, temos que trazer de fora o que poderíamos produzir aqui”, afirma. Ele acrescenta que a integração entre os setores produtivos pode gerar resultados mais consistentes. “Quando a agropecuária produz, a indústria emprega para beneficiar essa produção, e o comércio e os serviços são movimentados. O desafio é unir essas áreas e buscar soluções conjuntas para o desenvolvimento econômico local”.
O dirigente também ressalta a importância de alinhar as ações de entidades e representações políticas. “Temos representatividade nas esferas federal, estadual e municipal, mas é preciso convergir para um único objetivo: o desenvolvimento do município. O setor público e o privado precisam trabalhar juntos para criar condições de subsistência e ampliar as oportunidades econômicas”, conclui.
Colaborou Lívia Araújo