Porto Alegre, sex, 05/12/25

Publicada em 06 de Agosto de 2025 às 14:56

Projeto revive memórias dos cinemas clássicos de Pelotas

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Amanda Kuhn
De Pelotas, especial para o Cidades
De Pelotas, especial para o Cidades
Um projeto em desenvolvimento em Pelotas está reunindo lembranças de frequentadores de antigos cinemas da cidade e transformando essas memórias em registros artísticos e documentais. Chamado de Pequeno Inventário de Plateias, o trabalho parte de uma pesquisa que combina história oral, levantamento técnico e produção artística para mapear as salas de exibição que fizeram parte da vida cultural da cidade ao longo do século XX.
Pelotas já contabilizou mais de 30 salas de exibição entre cinemas de rua e cineteatros, o que lhe conferiu uma posição de destaque no cenário cultural brasileiro. O projeto propõe revisitar esse passado a partir do ponto de vista de quem ocupou essas plateias — frequentadores, trabalhadores, moradores e artistas.
“A proposta surge de um lugar afetivo”, explica a curadora do projeto e diretora teatral Tainah Dadda. “Conheci Pelotas entre 2015 e 2019, trabalhando com projetos culturais, e formei laços importantes com artistas e agentes locais. O Pequeno Inventário tem esse olhar afetivo sobre a cidade como ponto de partida”.
A pesquisa está em andamento desde março e se desdobra em diferentes frentes. Além do levantamento de informações sobre os antigos cinemas da cidade — como localização, datas de funcionamento e transformações físicas — o projeto também recolhe depoimentos de pessoas que frequentaram esses espaços. O material vem sendo interpretado por artistas visuais pelotenses, que criam obras inspiradas nessas histórias.
Cine Capitólio no início do século XX e nos dias atuais, em Pelotas | Montagem com fotos de Reprodução e Amanda Kuhn/Especial/Cidades
Cine Capitólio no início do século XX e nos dias atuais, em Pelotas Montagem com fotos de Reprodução e Amanda Kuhn/Especial/Cidades
“Queremos apresentar esses dados de forma não apenas factual ou técnica, mas cruzando com o que esses espaços representaram para a cidade em termos de memória afetiva”, afirma Tainah. “A ideia é construir um novo imaginário sobre essas histórias, especialmente porque muitos dos artistas envolvidos são de gerações que não vivenciaram diretamente esses espaços”.
Os resultados da pesquisa e das criações artísticas serão apresentados ao público em uma exposição que estreia nesta sexta-feira (8), no Espaço de Arte Daniel Bellora, em Pelotas. A mostra contará com trabalhos em linguagens variadas, incluindo pintura, gravura, fotografia, arte têxtil, publicações e instalações. Durante a abertura, duas instalações serão ativadas por uma performance ao vivo.
O projeto também propõe uma reflexão sobre o papel que os cinemas desempenharam na cidade e o que ocupou esse lugar na contemporaneidade. “Os cinemas promoviam um fluxo de pessoas, uma ocupação do espaço urbano que hoje talvez não exista mais da mesma forma”, aponta Tainah. “É um convite a pensar que espaços hoje cumprem essa função de encontro, circulação, vivência da arte”.
Além disso, o projeto defende a ideia de que frequentar espaços culturais é parte essencial da formação cidadã. “É preciso falar sobre formação de plateia, sobre a importância de as pessoas estarem presentes, consumirem arte e cultura, entenderem isso como um bem cultural que deve fazer parte da vida”, afirma a curadora.
Entre os espaços abordados pela pesquisa estão salas icônicas como o Cine Avenida, o Cine Capitólio, o Cine São Luís, o Cine República e o Teatro Apolo. Alguns já não existem fisicamente; outros foram adaptados para outras finalidades, mas ainda permanecem na memória de quem os frequentou.
A curadora reforça que o projeto também visa fomentar o debate sobre a cultura no espaço urbano atual. “A gente espera que o Pequeno Inventário ajude a refletir sobre o que está promovendo hoje os trânsitos culturais e a ocupação da cidade, que antes passavam tanto por esses espaços”, diz.
O projeto é uma iniciativa independente e conta com o apoio de editais públicos de fomento à cultura. A exposição no Espaço de Arte Daniel Bellora marca a primeira etapa pública da proposta e seguirá aberta à visitação durante o mês de agosto.

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