Nos últimos cinco anos, de janeiro de 2020 a fevereiro de 2025, quatro municípios do Norte do Rio Grande do Sul – Erechim, Marau, Passo Fundo e Tapejara – receberam 12,6% de todo o fluxo migratório registrado no Estado no período. De acordo com dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), 55,8 mil pessoas de 142 países chegaram ao RS nos últimos cinco anos, e pouco mais de 7 mil delas se estabeleceram nessas quatro cidades em busca de melhores condições de vida.
O volume de entrada de migrantes no Estado tem crescido de forma constante. O número atual representa um aumento de 19,1% em relação ao período entre 2015 e 2019, quando foram registrados 46,9 mil imigrantes. Esse volume, por sua vez, já havia sido 106,4% superior ao registrado entre 2010 e 2014, quando 22.217 estrangeiros entraram no RS.
Nos quatro municípios analisados, o principal grupo nacional é formado por venezuelanos, que representam cerca de 75% dos migrantes recebidos: foram 5.366 entre 2020 e o início de 2025. Em segundo lugar estão os haitianos, com 879 migrantes (12%), seguidos por estrangeiros de outros cerca de 30 países, como Argentina, Cuba, Colômbia, Paraguai, Senegal e Uruguai.
O volume de entrada de migrantes no Estado tem crescido de forma constante. O número atual representa um aumento de 19,1% em relação ao período entre 2015 e 2019, quando foram registrados 46,9 mil imigrantes. Esse volume, por sua vez, já havia sido 106,4% superior ao registrado entre 2010 e 2014, quando 22.217 estrangeiros entraram no RS.
Nos quatro municípios analisados, o principal grupo nacional é formado por venezuelanos, que representam cerca de 75% dos migrantes recebidos: foram 5.366 entre 2020 e o início de 2025. Em segundo lugar estão os haitianos, com 879 migrantes (12%), seguidos por estrangeiros de outros cerca de 30 países, como Argentina, Cuba, Colômbia, Paraguai, Senegal e Uruguai.
A indústria é o principal setor de absorção da mão de obra migrante. Nos dois primeiros meses de 2025, 60% das 1,5 mil admissões de trabalhadores estrangeiros nessas quatro cidades ocorreram na indústria, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Marau e Tapejara lideram essa estatística: na primeira, 82% das contratações foram industriais; na segunda, 85%.
A coordenadora do Balcão do Migrante e do Refugiado (Balcão Migra) da Universidade de Passo Fundo (UPF), Patrícia Noschang, explica que há dois caminhos principais para a chegada desses trabalhadores. Um deles é por meio da Operação Acolhida, que promove a interiorização de migrantes a partir de centros como Boa Vista (RR), com oferta de emprego já articulada com empresas. “Eles já vêm com documentos prontos e empregos definidos, sinalizados pelas empresas contratantes”, afirma.
A coordenadora do Balcão do Migrante e do Refugiado (Balcão Migra) da Universidade de Passo Fundo (UPF), Patrícia Noschang, explica que há dois caminhos principais para a chegada desses trabalhadores. Um deles é por meio da Operação Acolhida, que promove a interiorização de migrantes a partir de centros como Boa Vista (RR), com oferta de emprego já articulada com empresas. “Eles já vêm com documentos prontos e empregos definidos, sinalizados pelas empresas contratantes”, afirma.
Fonte: Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra), 2020 a 2025
Arte/Jornal Cidades
Outra rota é a chegada por redes de contato pessoal, quando o migrante vem ao encontro de familiares ou conhecidos já estabelecidos em determinado município. “Isso garante o que o próprio nome diz: o acolhimento. A pessoa não sai do abrigo para ficar na rua, mas para encontrar alguém que ofereça um ponto de apoio”, explica Patrícia.
A Operação Acolhida é responsável, em grande parte, pelo fluxo de venezuelanos. No entanto, Patrícia destaca o crescimento recente de migrantes cubanos, especialmente em Erechim e Marau. “Esse fluxo aumentou significativamente a partir de 2024. Antes, os cubanos eram o terceiro grupo mais presente, atrás de haitianos. Agora já ocupam o segundo lugar”, relata.
O perfil dos migrantes cubanos, segundo a professora, chama atenção pela qualificação profissional. “Temos muitos graduados. Continuam vindo médicos, mas também há enfermeiros, contadores e pedagogos.” No entanto, a revalidação de diplomas ainda é uma barreira: “É um processo moroso e caro. Algumas universidades oferecem esse serviço gratuitamente, mas ainda são poucas. Além disso, há dificuldades em obter os documentos exigidos junto às universidades cubanas.”
A crise econômica na Argentina também tem impulsionado o fluxo de migrantes para o Norte do RS. “Temos observado a chegada de argentinos em situação de vulnerabilidade, que em sua maioria estão indo trabalhar em propriedades rurais. É um cenário preocupante”, avalia Patrícia.
Além da absorção pelo mercado de trabalho, a presença crescente de migrantes mobiliza esforços em outras áreas. As prefeituras dos quatro municípios contam com programas de acolhida para auxiliar os novos moradores em temas como moradia, saúde, educação e assistência social. “A dificuldade de acesso à moradia é um fator importante, tanto pelos requisitos formais quanto pela recusa de locadores em alugar para imigrantes”, afirma a professora. O domínio do idioma também influencia nas oportunidades disponíveis. “Quem não fala português acaba sendo alocado em postos de trabalho com menor exigência de comunicação, como o corte de frango. Já quem consegue se comunicar melhor pode trabalhar, por exemplo, como caixa de mercado.”
O Balcão Migra da UPF, com unidades em Passo Fundo e Marau, presta apoio jurídico e documental, além de atuar na integração local e em ações de capacitação. Em 2023, o serviço realizou mais de 5 mil atendimentos, número que tem crescido anualmente. “Estamos em uma circunscrição com 123 municípios, a maior do Brasil em abrangência na Delegacia da Polícia Federal, o que justifica esse volume de atendimentos”, afirma Patrícia.
Para ela, apesar das dificuldades enfrentadas, muitos migrantes conseguem encontrar uma vida digna na região. “Eles conseguem, sim, se firmar, mesmo que enfrentem barreiras. O fator discriminatório ainda é muito presente, mas com apoio e estrutura adequada, muitos constroem uma nova trajetória aqui.”
Cresce presença de argentinos e cubanos no Rio Grande do Sul
O fluxo migratório de argentinos e cubanos rumo ao Rio Grande do Sul tem aumentado de forma significativa nos últimos anos, revelando mudanças no perfil da imigração que chega ao Estado. Dados do Sistema de Registro Nacional Migratório (Sismigra) mostram que, apenas nos dois primeiros meses de 2025, foram registrados 153 imigrantes argentinos no RS — número que, se mantido, pode superar os 1.953 registros do ano anterior. Em 2023, foram 1.500. Há cinco anos, em 2020, esse número era de apenas 261.
O avanço desse fluxo está diretamente ligado à crise econômica enfrentada na Argentina. “A população ainda está muito empobrecida, mesmo com as medidas recentes do governo. Isso tem impulsionado o deslocamento de argentinos para o Brasil, especialmente para estados de fronteira como o Rio Grande do Sul”, explica Tatiana Squeff, professora de Direito Internacional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Grande parte desses migrantes argentinos tem sido absorvida pelo setor agropecuário. Segundo dados compilados pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), cerca de 5,6 mil dos 6 mil argentinos admitidos em postos formais no Estado em 2025 trabalham nesse setor. A professora também chama atenção para a vulnerabilidade dessa população. “O número de pessoas resgatadas de condições análogas à escravidão no RS inclui argentinos, o que reforça a preocupação com o perfil de contratação e com os direitos trabalhistas desses migrantes.”
Entre os cubanos, embora o volume total ainda seja menor, há um crescimento expressivo. Foram 208 pedidos de refúgio de cubanos no RS no primeiro trimestre de 2025, superando todos os demais grupos nacionais, segundo o OBMigra. No mesmo período, a Venezuela — país com histórico de migração intensa — registrou 53 solicitações.
Segundo Tatiana, esse fluxo não está mais restrito a médicos e profissionais da saúde. “Hoje há pedagogos, contadores, enfermeiros. Muitos são graduados e enfrentam dificuldade para revalidar seus diplomas, o que limita as oportunidades de atuação profissional”, aponta.
A chegada de novos migrantes cubanos está relacionada a redes de contato já estabelecidas no Estado. “A presença anterior de cubanos que conseguiram se firmar no RS atrai familiares e conhecidos. É um movimento semelhante ao que ocorreu com haitianos após 2010”, explica a professora.
O avanço desse fluxo está diretamente ligado à crise econômica enfrentada na Argentina. “A população ainda está muito empobrecida, mesmo com as medidas recentes do governo. Isso tem impulsionado o deslocamento de argentinos para o Brasil, especialmente para estados de fronteira como o Rio Grande do Sul”, explica Tatiana Squeff, professora de Direito Internacional na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Grande parte desses migrantes argentinos tem sido absorvida pelo setor agropecuário. Segundo dados compilados pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), cerca de 5,6 mil dos 6 mil argentinos admitidos em postos formais no Estado em 2025 trabalham nesse setor. A professora também chama atenção para a vulnerabilidade dessa população. “O número de pessoas resgatadas de condições análogas à escravidão no RS inclui argentinos, o que reforça a preocupação com o perfil de contratação e com os direitos trabalhistas desses migrantes.”
Entre os cubanos, embora o volume total ainda seja menor, há um crescimento expressivo. Foram 208 pedidos de refúgio de cubanos no RS no primeiro trimestre de 2025, superando todos os demais grupos nacionais, segundo o OBMigra. No mesmo período, a Venezuela — país com histórico de migração intensa — registrou 53 solicitações.
Segundo Tatiana, esse fluxo não está mais restrito a médicos e profissionais da saúde. “Hoje há pedagogos, contadores, enfermeiros. Muitos são graduados e enfrentam dificuldade para revalidar seus diplomas, o que limita as oportunidades de atuação profissional”, aponta.
A chegada de novos migrantes cubanos está relacionada a redes de contato já estabelecidas no Estado. “A presença anterior de cubanos que conseguiram se firmar no RS atrai familiares e conhecidos. É um movimento semelhante ao que ocorreu com haitianos após 2010”, explica a professora.