De Rio Grande, especial para o Cidades
Desde as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, a população da Ilha dos Marinheiros, em Rio Grande, lida com limitações severas de mobilidade. A principal via de acesso ao continente — a ponte que liga a ilha ao município — permanece interditada, obrigando os moradores a depender exclusivamente do transporte por balsa, cuja operação é instável e insuficiente para atender às necessidades da comunidade.
A interrupção da ponte afetou diretamente o dia a dia dos moradores, impactando deslocamentos essenciais, como consultas médicas, trabalho, estudos e compras de itens básicos. "A gente está passando trabalho. Nem estou falando de doença, mas a gente precisa ir ao médico, ao supermercado. Está muito difícil", relata Luciana Gonçalves, moradora da ilha. Segundo ela, o cenário tem provocado a saída de famílias da localidade. “Tu só vê placa de chácaras e casas à venda aqui na ilha, e as pessoas estão indo embora”, afirma.
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Diante da situação, a Prefeitura de Rio Grande informa que parte da estrutura da ponte, ainda em janeiro, teve uma concretagem, etapa que teve como objetivo principal estabilizar o pilar que havia cedido. Conforme a secretária do Gabinete de Programas e Projetos Especiais do município, Giovana Trindade, o processo resultou na estabilização da ponte, embora outras etapas ainda estejam em curso.
"Conseguimos a estabilização da ponte, mas ainda era necessário fechar o buraco na base. Por isso continuamos com o processo de dragagem", explica Giovana. A fase atual das obras consiste na colocação de mantas e pedras para reforçar a área onde foi feita a dragagem, de modo a evitar que o trabalho seja comprometido por novas correntezas. A previsão da prefeitura é de que essa fase esteja concluída até o fim de agosto.
A partir da conclusão desta fase, será possível iniciar a chamada “etapa 2” do processo, que trata da reconstrução parcial da ponte. De acordo com a secretária, já está em elaboração um projeto que será encaminhado à Defesa Civil Nacional. O plano prevê a execução de um processo de macaqueamento — técnica utilizada para elevar estruturas —, construção de dois novos pilares ao lado do pilar comprometido e a instalação de uma nova viga para reforço da estabilidade. Giovana Trindade reforça que essa nova fase depende da aprovação técnica e do financiamento federal.
Enquanto as intervenções seguem em ritmo gradual, os moradores continuam dependentes da travessia por balsa, que opera de forma intermitente. As interrupções são frequentes em dias de vento forte ou chuva intensa. Segundo os relatos da comunidade, o serviço prestado não oferece as mesmas condições de segurança, regularidade e acessibilidade que a ponte proporcionava antes da interdição.
A Prefeitura de Rio Grande ainda não divulgou um prazo definitivo para a conclusão total das obras e a liberação da ponte para tráfego. A ausência de uma alternativa viária tem levado moradores a reivindicar mais agilidade nos trâmites e clareza nas informações sobre o cronograma das intervenções.
"Eu quero que a ponte volte, mas com segurança", resume Luciana. A fala traduz o sentimento da comunidade, que espera uma solução definitiva, mas que também ofereça a garantia de que o problema não volte a se repetir com novas cheias ou desgaste estrutural.
A Ilha dos Marinheiros é uma das localidades mais tradicionais de Rio Grande, com significativa importância histórica e econômica para o município. A ligação por terra com a área urbana sempre foi estratégica para o abastecimento, o escoamento da produção e a prestação de serviços. A interrupção da ponte, portanto, não afeta apenas a mobilidade, mas também as condições de permanência das famílias na região.