Um projeto de pesquisa elaborado em 2024 por professores do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em conjunto com o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, visa beneficiar cerca dois mil pacientes com diabetes na cidade de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. O objetivo é realizar um exame de rastreamento na região ocular dos pacientes, denominado de retinopatia diabética, para identificar se há alguma lesão que possa comprometer sua visão.
O projeto piloto, iniciado em 30 de abril, está sendo coordenado pela médica e professora da Ufrgs, Beatriz D'Agord, em parceria com o médico oftalmologista e professor da Unifesp Fernando Malerbi. A coordenadora explica que o exame será realizado com o auxílio de ferramentas de inteligência artificial (IA) e dura em torno de 15 minutos. "Rastrear significa que uma pessoa que tem diabetes pode não ter nenhum sintoma, mas ela deve fazer um exame de fundo de olho anualmente, porque a gente encontra alterações pequenas que podem prevenir alterações mais graves", explica.
Conforme os resultados, o paciente será encaminhado ao oftalmologista, tendo prioridade na fila de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). A retinopatia diabética, de acordo com o estudo, é uma complicação crônica do diabetes mellitus. Ao causar dano em vasos da retina, o diabetes pode levar à diminuição da visão e cegueira irreversível. O exame é uma captura de imagem da retina do paciente, tirada durante uma consulta. "A gente tem, pelo menos, quatro estágios da doença ocular do diabetes. Se identificarmos esse paciente entre a segunda e a terceira, a gente já está adiantado o tratamento e reduzindo a chance dele ficar cego", explica Beatriz.
A cidade foi escolhida por não possuir uma longa fila de espera por atendimento com especialistas em oftalmologia no seu sistema de saúde. "Isso faz com que esse paciente que eu rastrear, por exemplo, possa ser conduzido com prioridade para esse oftalmologista. Se é um sistema de saúde que tem muitas filas, à medida que eu faço os exames, encaminho e esse paciente ainda vai demorar para chegar a ser atendido. Então, tem toda uma análise dos atendimentos que foram para o especialista e do provável número de pessoas com diabetes que estariam interessadas em colaborar conosco", afirma.
Além disso, Beatriz diz que Santa Cruz do Sul foi escolhida pois dentre os mais de 133 mil habitantes, cerca de 10% são diagnosticados com diabetes. "Quando a gente fala de rastreamento, muitas pessoas já estão em atendimento. Elas não vão ao posto de saúde fazer a sua foto. Em Santa Cruz do Sul, o número aproximado de pessoas que passarão pelo projeto é de duas mil pessoas", acrescenta.
O projeto de pesquisa tem duração de dois anos, e os próximos passos serão de experimentação e treinamento dos bolsistas durante o mês de maio. A partir de junho, inicia o período de coletas de imagens, que dura entre seis meses e um ano e, posteriormente, serão feitas análises estatísticas. Durante esse tempo, a cada 15 dias os profissionais estarão dando devolutivas aos pacientes e às unidades.
Os atendimentos serão realizados nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) Clementina e Avenida. Para realizar o procedimento, os pacientes precisam ter mais de 18 anos, não ser gestante e não possuir glaucoma. Caso identificada alguma alteração, o especialista encaminha o paciente para realizar sessões de laser ou aplicação de injeção intraocular, ambos tratamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS)