Já no outono, Europa vive um calor que não acaba

Sucessivas ondas de calor são vistas como um sinal da aceleração do impacto da mudança climática

Por AFP

Barcelona, Espanha, turismo, coronavírus, distanciamento social, cerveja, álcool. People sit at a terrace bar overlooking the Sagrada Familia in Barcelona on July 25, 2020. - The Catalan government ordered the closure of all nightclubs, discos and event halls across this region of northeastern Spain following a surge in cases of coronavirus. (Photo by Pau BARRENA/AFP)
Com 30ºC ao amanhecer na Espanha e um calor incomum mais ao norte, a Europa experimenta temperaturas excepcionalmente elevadas depois de um verão marcado por sucessivas ondas de calor, sinal da aceleração do impacto da mudança climática.
"Apesar de não ter terminado o mês, já podemos praticamente dar por certo que vai ser o outubro mais quente (na Espanha) desde 1961", quando começaram os registros estatísticos, afirma o porta-voz da Agência Espanhola de Meteorologia (Aemet), Rubén del Campo.
Às 8h30min desta sexta-feira (28), a estação meteorológica do aeroporto de San Sebastián, cidade do País Basco (norte), acostumada a um clima mais frio, marcava 30,3ºC. Essa região sofreu incêndios florestais nos últimos dias, e suas autoridades proibiram, como no verão, fazer fogueiras e lançar fogos de artifício, dado o alto risco de incêndios.
Para Del Campo, este episódio de "verono", uma mistura de verão e outono (em tradução livre do espanhol "veroño"), é outro sinal de que a mudança climática "está acelerada" no país, o mais exposto à desertificação na Europa.
Segundo um informe do Climate Central, quatro cidades espanholas (Madri, Valência, Saragoça e Barcelona) se encontram entre as dez localidades europeias mais impactadas pela mudança climática entre setembro de 2021 e setembro de 2022.
Na França, a situação não é muito diferente, e este mês de outubro deve ser o mais quente já registrado. "O episódio de calor em curso desde 15 de outubro de 2022 não tem precedentes em sua duração em todo país", afirmou o Météo France em uma nota divulgada na quinta-feira (27).
No sudoeste da França, país que, como a Espanha, viu-se afetado no último verão (inverno no Brasil) por devastadores incêndios, "as máximas voltaram a rondar os 30 graus" nesta sexta.
No Reino Unido, a Met Office, agência meteorológica, informou na quarta-feira (26) que as temperaturas, que alcançaram os 20,5ºC em Londres, estavam "mais próximas das que normalmente veríamos no final de agosto, e não no fim de outubro".
Na Alemanha, ventos quentes provenientes do sudoeste da Europa provocam "um clima de final de verão, sem indícios de que o inverno se aproxima", segundo a agência meteorológica local. Na Bélgica, a máxima foi prevista em 24ºC para este o sábado (29), cerca de 10ºC acima das médias para a estação.
"É difícil acreditar que estamos no final de outubro quando grande parte da Europa (e norte da África) está enfrentando um calor anormal", tuitou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) nesta sexta.

Apesar do clima agradável, as consequências não são boas

Graças a este clima, as calefações não precisam ser ligadas com frequência no norte da Europa, uma boa notícia em plena crise energética. Porém, é uma das poucas, disse Rubén del Campo.
"Ainda que possa parecer um clima agradável, porque podem ir à praia, na realidade, as consequências não são boas", afirma Del Campo, preocupado especialmente com as reservas de água, cruciais em um país cuja agricultura intensiva abastece a Europa de frutas e verduras. Na segunda-feira (24), as reservas estavam em 31,8% da capacidade, contra 49,3% na média dos últimos dez anos para o mesmo período.
Nas praias de Barcelona (nordeste), moradores e turistas aproveitam o sol, mas estão cientes. "Estamos encantados com este calor (...) Estamos encantados com a vida, mas isto não é normal", comenta Alicia Pesquera, esteticista de 43 anos.