Governo da Catalunha perde maioria no Parlamento sob críticas de aproximação com Madri

Em 2017, plebiscito terminou com 90,09% dos votos favoráveis à separação do território do resto da Espanha

Por Folhapress

(FILES) In this file photo taken on October 1, 2017 women hold ballots at a polling station in Barcelona, on the day of a referendum on independence for Catalonia banned by Madrid. - Catalonia marks the fifth anniversary of self-determination referendum organised by separatists despite being banned by the courts. (Photo by JOSE JORDAN / AFP)
A três dias do 5º aniversário da independência unilateral da Catalunha, a região autônoma da Espanha voltou a ser alvo de crises políticas. Nesta sexta-feira (7), o governo local perdeu a maioria no Parlamento após seu principal aliado abandonar a coalizão por não concordar com o atual tom relativamente amistoso entre Barcelona e Madri.
Hoje, a Catalunha é governada pelo presidente Pere Aragonès, filiado ao pró-independência Esquerra Republicana (ERC) - legenda com o maior número de parlamentares junto com o Partido Socialista Catalão (PSC), contrário à separação da Espanha. Até então, a maioria governista no Legislativo era sustentada pelo apoio do Junts, partido fundado por Carles Puigdemont, um dos líderes da independência catalã.
Nas últimas semanas, porém, o Junts vinha se queixando do ritmo das conversas que Aragones mantinha com o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, sobre a independência da região. O ERC é a favor de uma negociação com Madri para chegar a um referendo e ampliar o apoio dos catalães à saída da Espanha; já o partido de Puigdemont defende uma retórica mais agressiva, o que poderia desencadear conflitos separatistas como os de 2017.
Na época, aliás, a Catalunha era governada pelo líder separatista, que mobilizou milhares de moradores a irem às ruas para protestar contra Madri. O então governo regional foi além e organizou um plebiscito sobre o assunto, que terminou com 90,09% dos votos favoráveis à separação do território do resto da Espanha, em um dia marcado pela violência policial.
Na prática, porém, o resultado não vigorou. A votação tinha sido proibida pela Justiça e, por isso, partidos e defensores da manutenção da Catalunha na Espanha boicotaram o pleito. Assim, a vitória do movimento pró-independência não foi reconhecida pelo governo espanhol, e, dois anos depois, líderes separatistas foram condenados por sedição pela Justiça espanhola - inclusive, Puigdemont, que fugiu para Bruxelas.
A atual discordância sobre os trâmites das conversas com Madri atingiu tensões máximas na semana passada, quando líderes do Junts ameaçaram pedir um voto de confiança contra Aragonés sob a justificativa de que o presidente catalão estava pouco comprometido com a independência da região. Aragonés, porém, se irritou com o tom dos aliados e afastou seu vice-presidente, filiado ao partido de Puigdemont.
O movimento, claro, desagradou ainda mais o Junts, que convocou uma votação para decidir o futuro da coligação. O resultado saiu nesta sexta, com 55,7% dos membros do partido aprovando a saída do governo. Cerca de 20% dos filiados não participaram da consulta.