Na Rússia, manifestantes detidos devem decidir entre o front ou a prisão

Presidente Vladimir Putin convocou nesta semana 300 mil homens e mulheres para lutar na Ucrânia

Por afp

Police officers detain a man following calls to protest against partial mobilisation announced by Russian President, in Moscow, on September 21, 2022. - More than 1,300 people have been arrested at demonstrations across Russia against President Vladimir Putin's announcement of a partial mobilisation of civilians to fight in Ukraine, a police monitoring group said on September 21, 2022. (Photo by Alexander NEMENOV / AFP)
Em Moscou, Mikhail Suetin esperava ser detido na manifestação contra o envio de milhares de reservistas à Ucrânia. No entanto, ele não previu que lhe entregariam uma ordem de mobilização para ir ao front.
Horas depois de Vladimir Putin anunciar na quarta-feira (21) a mobilização de 300 mil homens e mulheres, Mikhail, músico de 29 anos, foi protestar na avenida Arbat. Assim como outras 1.300 pessoas em todo o país, foi detido.
"Eu esperava os procedimentos habituais: a prisão, a delegacia de polícia, o tribunal", relata o jovem, entrevistado por telefone na quinta-feira (22) pela AFP. "Mas me dizer: 'Amanhã você irá para a guerra', (...) isso sim foi uma surpresa", afirma o músico.
Segundo a ONG especializada independente OVD-Info, Suetin não é o único manifestante que recebeu ordem de mobilização na delegacia de polícia, após ter sido detido. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse aos repórteres que não havia nada de "ilegal" nisso.
Suetin conta que, após sua prisão, os policiais o conduziram a uma sala onde queriam que ele assinasse uma intimação para ir a um centro de mobilização do exército. "Ou assina isso ou passa dez anos na prisão", escutou como ameaça o opositor da ofensiva russa contra a Ucrânia, lançada no dia 24 de fevereiro.
Durante a última terça-feira (20), na véspera da mobilização, o parlamento votou duras penas de prisão para os desertores e para quem se recusar a juntar-se ao exército. No entanto, o texto ainda não entrou em vigor.
Suetin recusou-se a assinar a convocação por conselho de seu advogado e foi liberado na manhã desta quinta-feira (22). Entretanto, os policiais avisaram que o poderoso Comitê de Investigação da Rússia, encarregado das investigações criminais mais importantes, seria informado sobre a rejeição, o que lhe traria "grandes problemas".

'Infelizmente, assinei'

Andrei, que completou 19 anos na semana passada, também foi na quarta-feira para as manifestações em Moscou. Ele foi preso e recebeu a mesma intimação para mobilização. Ao contrário de Suetin, o adolescente assinou sob "ameaça" o documento, o qual a AFP teve acesso a uma cópia digital.
"Claramente eu não poderia escapar. Olhei ao redor, e decidi que não poderia resistir", ele disse por telefone à AFP. "Infelizmente, assinei", conta o adolescente.
Andrei acaba de iniciar seu estudos na universidade. Apesar de o Kremlin e o ministro da Defesa, Serguei Shoigou, assegurarem que nenhum estudante seria convocado e que as forças russas privilegiariam reservistas com habilidades específicas ou experiência militar, o jovem ainda foi intimado. "Mas como se diz aqui, a Rússia é um país onde a expansão do possível é infinita", ele constata com amargura.
Andrei, que ainda busca um advogado, acabou decidindo não ir ao centro de mobilização no horário previsto, quinta-feira às 10h, apesar de não saber quais serão as consequências. "Não disse nada aos meus pais, porque eles vão se preocupar", explica. "Vou contar quando tiver uma ideia mais evidente do que vai acontecer comigo", acrescenta o rapaz.