Morte de mais de 70 imigrantes em naufrágio escancara crise no Líbano

Número de pessoas que deixaram ou tentaram deixar o Líbano por mar quase dobrou em 2021 em relação a 2020

Por Folhapress

A handout picture released by the Syrian Red Crescent on September 23, 2022, shows rescuers transporting the body of a drowning victim into an ambulance in the Syria's southern port City of Tartus, after a boat transporting migrants from Lebanon sank off the Syrian coast. - At least 73 migrants drowned after a boat they boarded in Lebanon sank off Syria's coast, Lebanon's transport minister said on September 23, the deadliest such shipwreck from Lebanon in recent years. Lebanon, which since 2019 has been mired in a financial crisis branded by the World Bank as one of the worst in modern times, has become a launchpad for illegal migration, with its own citizens joining Syrian and Palestinian refugees clamouring for an exit from the crisis-hit country. (Photo by Syrian Red Crescent / AFP) / == RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / HO / SYRIAN RED CRESCENT" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS ==
Ao menos 73 migrantes que partiram do Líbano em uma embarcação em direção à Itália morreram na costa da Síria, segundo o balanço atual do acidente, ocorrido nesta quinta-feira (22). É o naufrágio mais mortal registrado nos últimos anos no Líbano, país no qual o desespero com uma crise econômica gravíssima tem levado muitos a se aventurarem em barcos frágeis e superlotados na esperança de chegar à Europa pelo mar Mediterrâneo. Muitos se dirigem até à ilha do Chipre, que fica a 175 km da costa libanesa.
O ministro sírio da Saúde, Hassan Al Ghubach, afirmou em um comunicado que o balanço de 73 vítimas ainda é provisório e que 20 pessoas recebem atendimento em um hospital em Tartus, cidade costeira na Síria. De acordo com relatos de sobreviventes, o barco partiu da região de Minyeh, no norte do Líbano, na terça-feira (19), com entre 120 e 150 pessoas a bordo.
Segundo o ministro libanês dos Transportes, Ali Hamie, a maioria dos migrantes eram libaneses e sírios - há mais de 1 milhão deles vivendo no Líbano como refugiados de guerra. Palestinos que vivem em um campo de refugiados disseram que várias dezenas de pessoas a bordo vieram desse campo. Hamie informou que o barco era "muito pequeno" e feito de madeira e que essas travessias ocorrem quase diariamente e são organizadas por pessoas que não se preocupam com a segurança.
Pessoas que temiam que seus parentes estivessem entre os mortos se reuniram na fronteira com a Síria, para onde os corpos deveriam ser levados no final do dia. As autoridades continuam com as tarefas de busca para encontrar possíveis sobreviventes, em uma das maiores operações de resgate já organizadas na região.
Tartous é o mais meridional dos principais portos sírios e fica a pouco mais de 50 quilômetros ao norte da cidade portuária libanesa de Trípoli. Entre os sobreviventes, Wissam Al Talawi, um pai de família que vive em Trípoli e vem de Akkar, outra região pobre do norte do Líbano, foi hospitalizado, disse seu irmão Ahmad à AFP.
Os corpos de suas duas filhas, de cinco e nove anos, foram repatriados para o Líbano e enterrados nesta sexta, acrescentou Ahmad. A esposa e dois filhos de Talawi continuam desaparecidos. "Eles partiram há dois dias", disse Ahmad. Seu irmão "não podia cobrir os gastos diários nem o custo de matricular seus filhos na escola", continuou ele.
Emigração recorde
O Líbano vive uma das crises econômicas mais profundas do mundo, e o número de pessoas que deixaram ou tentaram deixar o país por mar quase dobrou em 2021 em relação a 2020. Neste ano, aumentou novamente mais de 70% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo a agência de refugiados das Nações Unidas, a Acnur, informou à agência Reuters no início do mês. De janeiro a agosto, 1.826 pessoas tentaram escapar do país pelo Mediterrâneo.
Além dos próprios libaneses, muitos dos que embarcam em direção à Europa são refugiados da Síria e da Palestina que vivem no país. Segundo o governo, traficantes de pessoas cobram o equivalente a R$ 20 mil para a travessia pelo Mediterrâneo.
Na segunda e na terça-feira desta semana, o Chipre mobilizou equipes de busca e resgate após, no espaço de horas, dois navios que transportavam imigrantes do Líbano emitirem sinais de socorro. Havia 300 pessoas em uma embarcação e 177 na outra. Todos a bordo foram resgatados, afirmou o Centro de Coordenação de Resgate Conjunto da ilha.
Em abril, um barco que partiu de perto de Trípoli afundou durante uma interceptação da marinha libanesa na costa. Cerca de 80 imigrantes libaneses, sírios e palestinos estavam a bordo, dos quais cerca de 40 foram resgatados, sete foram confirmados mortos e 30 continuam oficialmente desaparecidos. Os libaneses atualmente têm acesso esporádico a luz, combustível e água. Faltam também medicamentos.