Plano de Kiev quer ajuda militar por décadas; Rússia vê risco de 3ª Guerra Mundial

Documento será usado como peça de pressão no momento em que Kiev está colhendo os louros de sua primeira contraofensiva bem-sucedida na guerra

Por Folhapress

This photograph taken on September 11, 2022, shows a cyclist looking at a smartphone on a hill overlooking Izyum, Kharkiv Region, eastern Ukraine, amid the Russian invasion of Ukraine. - Ukraine forces said that their lightning counter-offensive took back more ground in the past 24 hours, as Russia replied with strikes on some of the recaptured ground. The territorial shifts were one of Russia's biggest reversals since its forces were turned back from Kyiv in the earliest days of the nearly seven months of fighting, yet Moscow signalled it was no closer to agreeing a negotiated peace. (Photo by Juan BARRETO / AFP)
O governo da Ucrânia publicou nesta terça-feira (13) um plano de garantias de segurança que prevê que a ajuda militar do Ocidente ao país se amplie e seja estendida por décadas. O texto sugere que países da Otan (grupo militar liderada pelos EUA) possam fazer pactos bilaterais para entrar em guerra em caso de invasão russa, na prática retomando a política de alianças continentais que engendraram a Primeira Guerra Mundial e marcaram a Guerra Fria.
O documento havia sido comissionado pelo presidente Volodimir Zelensky como uma alternativa à ideia de adesão à Otan, um dos motivos pelos quais Vladimir Putin atacou a Ucrânia no final de fevereiro. Ele parece inexequível, por questões econômicas e diplomáticas, mas será usado como peça de pressão no momento em que Kiev está colhendo os louros de sua primeira contraofensiva bem-sucedida na guerra para pedir mais armas contra os invasores. Desde o início de setembro, segundo vídeo publicado pelo presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, os soldados já libertaram 6.000 km² de território na regiões de Kharkiv e Donetsk.
A reação russa ficou a cargo de Dmitri Medvedev, ex-presidente que abandonou a fama de liberal e tornou-se porta-voz da linha-dura sancionada pelo Kremlin, na cadeira de adjunto de Putin no Conselho de Segurança do país. "A camarilha de Kiev pariu um projeto de garantias de segurança, que são essencialmente o prólogo para a Terceira Guerra Mundial. É claro que ninguém irá fornecê-las aos nazistas ucranianos", escreveu em seu canal no Telegram.
Ele criticou especialmente a ideia de que países da Otan possam firmar pactos militares com a Ucrânia, se comprometendo a defendê-la. Para Medvedev, isso significa "aplicar o artigo 5º da Carta da Otan à Ucrânia" - o instrumento prevê que todos os 30 membros da aliança socorram um que seja atacado.
O belicoso ex-presidente foi além, ao criticar o já enorme influxo de armas ocidentais para o vizinho. "Se esses estúpidos continuarem enviando as mais perigosas armas de forma desenfreada para o regime de Kiev, uma hora a campanha militar vai atingir um outro nível", ameaçou.
Na atual ofensiva no norte do país, o uso de armas norte-americanas tem se mostrado importante. Morteiros M777 e lançadores de foguetes Himars destruíram centros de comando e arsenais russos atrás da linha de frente, e mísseis antirradar foram adaptados aos caças ucranianos. Os EUA treinaram 1.475 soldados ucranianos para usar esses e outros armamentos.
Bravatas à parte, o plano de Kiev é provocativo. Para se conter da Rússia, o país precisa de capacidades "que exigem um esforço sustentado por várias décadas na base industrial de defesa da Ucrânia, transferência de armas em escala e apoio de inteligência por parte de aliados, missões de treinamento intensivo e exercícios conjuntos sob as bandeiras da União Europeia e da Otan".
O texto fala especificamente em aquisição de capacidades antiaéreas efetivas, que "fechem o céu" sobre o país - uma demanda que remonta ao início do conflito, ainda que a Força Aérea russa não tenha sido empregada em grande número na guerra. Há, por fim, a questão do financiamento de tal empreitada. Só os EUA já empenharam cerca de US$ 15 bilhões (R$ 76,3 bilhões) em ajuda militar para Kiev, mas a Europa é bem mais reticente.
O governo de Putin conta com sua mão pesada sobre as torneiras do gás russo para o continente no inverno para aplacar ainda mais a ajuda europeia, particularmente a alemã - não por acaso, Berlim foi fustigada pelo chanceler ucraniano nesta terça.