Crise do clima gera eventos extremos na Ásia

Enquanto a China registra recorde de calor, o Paquistão sofre com inundações e a Coreia do Sul com a passagem do tufão Hinnamnor

Por afp

Local residents watch flood waters flowing through an area after heavy rains in Bahrain town of Swat valley in Khyber Pakhtunkhwa province on August 31, 2022. - Army helicopters flew sorties over cut-off areas in Pakistan's mountainous north on August 31 and rescue parties fanned out across waterlogged plains in the south as misery mounted for millions trapped by the worst floods in the country's history. (Photo by Abdul MAJEED / AFP)
Do tufão mais forte a atingir a Coreia do Sul em décadas a inundações que cobriram um terço do Paquistão, passando por uma onda de calor sem precedentes na China, as mudanças climáticas seguem gerando eventos extremos na Ásia, com consequências fatais para a população.
China ainda sente os efeitos de semanas de uma onda de calor sem precedentes e de uma seca histórica que provavelmente se repetirá e ameaçará as colheitas. O país registrou o mês de agosto mais quente desde o início da contagem de dados, em 1961, com temperatura média de 22,4°C – 1,2 grau a mais que o recorde histórico anterior.
As ondas de calor nesta época do ano não são raras na China, em particular no oeste árido e no sul do país, mas o país enfrenta neste ano um clima extremo, agravado pelo aquecimento global, afirmam os cientistas.
Mais de 260 estações climáticas igualaram ou romperam os recordes de calor para o mês de agosto, segundo a emissora pública CCTV. Várias cidades importantes registraram os dias mais quentes de sua história e, devido à falta de chuvas, muitos rios secaram, como o Yangtze, o maior do país.
Neste mês as temperaturas caíram, mas o clima deixou a rede de elétrica em uma situação delicada porque milhões de pessoas ligaram o ar condicionado em suas casas. Várias províncias tiveram que racionar energia, o que afeta gravemente o comércio e as empresas, assim como os hábitos de parte da população.
A província de Sichuan, no sudoeste, foi uma das regiões mais afetadas. Para economizar energia, a capital da província, Chengdu, reduziu a iluminação do metrô e desligou os outdoors. Algumas casas também enfrentam racionamento. Muitas pessoas passaram a procurar os shoppings ou as estações de metrôs em busca de temperaturas amenas.
Agosto também foi o terceiro mês mais seco registrado no país, com uma média de chuvas 23,1% inferior ao habitual, segundo o CCTV. A seca é particularmente problemática para os cultivos de arroz e soja, que precisam de muita água. Uma fonte do serviço meteorológico chinês advertiu que as previsões mostram temperaturas mais elevadas que o habitual na China para este mês de setembro.

Aquecimento global e eventos extremos

No ano passado, um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), o braço das Nações Unidas para questões do clima, traduziu em números o impacto do aquecimento global na ocorrência de eventos extremos nos últimos 50 anos.
O documento contabilizou mais de 11 mil eventos como secas, enchentes, deslizamentos de terra, tempestades e incêndios de 1970 a 2019. Mas, enquanto nos anos 1970 foram 711 desses fenômenos, na década de 2000 o número passou a 3.536 e, na seguinte, a 3.165 - um aumento de cinco vezes.
Como consequência deles, há uma soma de mais de 2 milhões de mortes e um prejuízo econômico que ultrapassa US$ 3,4 trilhões (R$ 17,5 trilhões). Espraiando os números absolutos, é como se, a cada dia dos últimos 50 anos, 115 pessoas tenham morrido e mais de US$ 200 milhões de prejuízo fossem gerados por desastres naturais.
O continente asiático foi o mais afetado de todos, com mais de 3.400 desastres contabilizados ao longo das últimas cinco décadas, o que levou a quase 1 milhão de mortes.