Em crise interna, Biden faz jogada de risco em viagem ao Oriente Médio

Quando o tour por Israel, Palestina e Arábia Saudita foi anunciado, no começo de junho, o preço do petróleo estava em alta recorde

Por Folhapress

Primeira escala da viagem Biden ao Oriente Médio foi em Israel
Joe Biden embarcou na noite de terça-feira (12) para sua primeira viagem ao Oriente Médio como presidente dos Estados Unidos, pensando tanto nas possíveis vitórias a colher quanto nos problemas dos quais será obrigado a se desviar - o maior deles sendo o timing. Quando o tour por Israel, Palestina e Arábia Saudita foi anunciado, no começo de junho, o preço do petróleo estava em alta recorde, e a ida a uma região que é grande fornecedora global foi vista como uma tentativa de potencialmente contornar a questão: o norte-americano poderia convencer os países a aumentar a produção e baixar preços.
"Os recursos energéticos (da região) são vitais para mitigar os impactos sobre os suprimentos globais da guerra da Rússia na Ucrânia. E a aproximação via diplomacia e cooperação reduz os riscos de avanço da violência extremista que ameaça nosso território (dos EUA)", escreveu o presidente em artigo recente no jornal The Washington Post.
A cotação do petróleo, porém, caiu nas últimas semanas: passou da faixa de US$ 120 (R$ 652,00, na cotação atual) em junho para os atuais US$ 95 (R$ 516,00), em meio à expectativa de recessão que pode atingir inclusive os Estados Unidos nos próximos meses. "Países como Arábia Saudita e Emirados Árabes não estão motivados a produzir mais e trazer preços para baixo; estão aproveitando a alta de preços", ponderou Samatha Gross, diretora de Segurança Energética do centro Brookings, durante um debate.
O timing se torna mais delicado em um
Antes de lidar com esse problema, na primeira escala da viagem Biden se encontrou com o primeiro-ministro de Israel, Yair Lapid, em um momento também pouco oportuno. O governo de Naftali Bennett foi dissolvido no fim do mês passado, e Lapid governa sem poderes para tomar grandes medidas, enquanto espera a eleição de novembro.
 

Parada em Israel serviu para Biden marcar diferença em relação a Trump

A parada em Israel serviu mais para Biden, que defende a solução de dois Estados para o conflito com a Palestina, marcar diferenças com seu antecessor Trump. O republicano irritou palestinos ao mudar a embaixada dos Estados Unidos de Tel Aviv para Jerusalém e dar apoio a um plano de divisão que deixaria moradores da Cisjordânia em áreas isoladas, conectadas por túneis (uma ideia que acabou na gaveta). Ele também costurou os chamados Acordos de Abraão, que restabeleceram relações de Israel com nações como Arábia Saudita e Emirados Árabes.
Biden agora buscará celebrar o avanço dessa integração - com a Casa Branca destacando que ele será o primeiro presidente norte-americano a fazer um voo de Tel Aviv a Riad - e, ao encontrar um líder palestino, tentará apaziguar o clima: os palestinos reclamam da demora em reabrir um consulado fechado por Donald Trump em 2018.
A viagem deve ainda mirar o Irã. Biden almeja reconstruir o acordo de 2015 pelo qual Teerã aceitou reduzir sua capacidade nuclear em troca do alívio de sanções, implodido por Trump, mas os iranianos, inimigos figadais de Israel, se aproximam cada vez mais da Rússia, nação que os EUA buscam punir por causa da Guerra da Ucrânia.
Antes de voltar a Washington, o presidente também espera faturar com a trégua na guerra no Iêmen, obtida com a ajuda da diplomacia norte-americana. Para isso, deve ir a uma cúpula com representantes de Egito, Iraque e Jordânia.