Egípcios votam nova Constituição

Por

O egípcios formaram longas filas nas seções eleitorais de todo o país ontem para referendar uma nova Constituição, que representa um marco no projeto dos militares para o país, colocado em prática após o golpe que derrubou o presidente islamita Mohammed Morsi, em julho. Pelo menos 11 pessoas morreram e 28 ficaram feridas em choques entre manifestantes e policiais no primeiro dos dias de votação.
Devido à expectativa de violência, 200 mil policiais e 160 mil soldados foram destacados para fazer a segurança nas ruas de todo o país, que tem 90 milhões de habitantes. A operação de segurança foi deflagrada para proteger as seções eleitorais e eleitores contra possíveis ataques de militantes ligados a Morsi durante a votação, que termina hoje.
Carros não podem estacionar ou passar pelas seções eleitorais e mulheres foram revistadas por policiais femininas. Helicópteros militares sobrevoavam o Cairo e outras grandes cidades.
O voto para a nova Constituição do país servirá de termômetro para a aceitação popular em relação ao golpe de Estado que depôs Morsi, em julho do ano passado, e instituiu o governo de transição de Adly Mansur, apoiado pelo Exército.
Desde a deposição de Morsi, ligado à Irmandade Muçulmana, o país tem vivido meses convulsivos de violência e crise social. A liderança islamita foi perseguida e detida, e seus simpatizantes, mortos em massacres como o da mesquita Rabia al-Adawiya. A Irmandade boicota o referendo.
Essa é a primeira ida da população egípcia às urnas desde a deposição de Morsi, retirado da presidência após manifestações populares contra seu mandato, considerado conservador demais. Expatriados já votaram no referendo, entre 8 e 12 de janeiro, com 103 mil votos ao redor do mundo, de acordo com o governo.
O referendo é a sexta votação nacional desde que Hosni Mubarak foi derrubado por um levante popular, durante a Primavera Árabe, em 2011. Os outros cinco pleitos foram provavelmente os mais livres já ocorridos no Egito. Embora acredite-se que a atual votação não deva registrar fraudes, ela acontece num período no qual muitas das liberdades conquistadas pelo levante que derrubou Mubarak desapareceram.
Entre as exigências dos atuais manifestantes está a suspensão da Constituição rascunhada em 2012, sob influência islamita, e a elaboração de uma nova Carta. É esse passo que é testado nesta semana.
Com o referendo, o Egito deve dar continuidade à transição democrática, anunciando suas eleições parlamentares e presidenciais. Mas será preciso, antes, agradar aos diversos setores sociais no país. Parte deles não está satisfeita com a nova Constituição, que exige anuência do Exército para a nomeação do ministro da Defesa, por dois mandatos presidenciais, além de permitir julgamentos militares a civis.
Críticos do governo de transição afirmam que o novo texto irá fortalecer o chefe militar Abdel-Fatah al-Sisi, visto como o líder por trás do golpe de Estado, e instituir um regime semelhante ao de Mubarak. É esperado que Sisi se candidate a presidente. Apesar da expectativa de a nova Constituição ser aprovada, analistas apontam que será fundamental haver grande participação nas urnas, para garantir legitimidade ao processo democrático.