Boca de urna dá vantagem a Massa

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Mais de 30 milhões de argentinos estavam aptos a votar ontem nas eleições legislativas, que irão renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Estão em jogo 127 cadeiras para deputados nacionais, com mandato até 2017, e 24 para senadores, com mandato até 2019. As urnas foram abertas às 8h locais (9h de Brasília) e se fecharam às 18h (19h) nos 24 distritos do país.

A primeira pesquisa de boca de urna, realizada pela emissora de TV Todo Notícias (TN), apontava para a vitória do candidato opositor ao governo, o prefeito de Tigre, Sergio Massa (Frente Renovadora) no principal distrito eleitoral, a província de Buenos Aires, que representa 38% dos votos nacionais. 

Segundo a boca de urna, Massa, candidato a deputado federal, teria uma vantagem de dez pontos sobre o governista Martín Insaurralde (Frente pela Vitória - FPV), prefeito de Lomas de Zamora. Na capital federal, a disputa por vagas no Senado também daria vitória à candidata opositora Gabriela Michetti (Proposta Republicana - PRO) sobre o governista Daniel Filmus (FPV), que estaria disputando o segundo lugar, voto a voto, com outro opositor, Pino Solanas (Proyeto Sur - Unem). A oposição também teria vitória em Córdoba, Mendoza e Santa Fé, segundo a boca de urna.

O pleito é considerado vital na metade do mandato da presidente Cristina Kirchner, que se recupera de uma cirurgia para a extração de um hematoma no crânio, realizada em 8 de outubro. Na Câmara, o FPV tem maioria absoluta atualmente, o que permite iniciar sessões. No Senado, acontece o mesmo, mas com o apoio dos aliados. Pela primeira vez, os jovens entre 16 e 18 anos têm o direito ao voto, graças a uma lei aprovada recentemente. 

Eleita em 2007 e reeleita em 2011, Cristina, de 60 anos, acompanhou as eleições da residência presidencial de Olivos, onde se recupera da cirurgia. O problema de saúde a deixou afastada da última parte da campanha. Pela primeira vez, o filho mais velho de Cristina, Máximo, de 38 anos, falou com a imprensa e disse que a mãe “está muito bem, graças a Deus”. Ao sair da votação em uma escola de Rio Gallegos, capital da província de Santa Cruz, na Patagônia, Máximo deu uma rápida entrevista, na qual confirmou que ainda não há uma data prevista para o retorno da presidente às atividades. “Não sei quando regressa”, disse ele.

As eleições são uma prova de fogo para a situação, que põe em jogo sua maioria nas duas câmaras, e servirão para delinear o caminho para a sucessão da presidente em 2015, quando termina seu segundo mandato, sem possibilidade de reeleição, de acordo com o que estabelece a Constituição.

Doença melhora imagem de Cristina, mas não transfere votos a candidatos

Afastada do cargo por “estrito repouso” determinado pelos médicos, desde o dia 9 de outubro, a presidente argentina, Cristina Kirchner, não participou da etapa final da campanha. Já a melhora de dez pontos nos índices de aprovação que ela ganhou nos últimos dias por causa da doença não foi transferida aos seus candidatos que disputaram ontem as eleições. “Está comprovado que os votos não se transferem”, disse o analista e diretor da consultoria Poliarquia, Fabián Perechodnik.

O fato de o estado de saúde da presidente ser “uma grande incógnita” interfere na eleição. Além da cirurgia realizada na cabeça para a drenagem de coágulo em uma das membranas entre o crânio e o cérebro, Cristina padece de uma arritmia cardíaca, que está sendo investigada pelos médicos. 

Versões da imprensa local apontam uma possível cirurgia cardíaca para a colocação de um marca-passo, mas faltam informações oficiais. “Não se sabe ao certo a gravidade do problema que a presidente tem, e isso gera muitas incertezas e desmandos no governo”, ponderou o analista Carlos Fara, da consultoria Fara & Associados. Ele disse que o próprio problema que levou à cirurgia no crânio é uma questão delicada para uma pessoa que tem um trabalho tão estressante e desgastante, como a presidente de um país. 

Em sua análise, a evolução do estado de saúde de Cristina e a resposta de sua equipe de governo, bem como as medidas que possam ser adotadas nos próximos meses, serão observados com mais atenção. “Qualquer recaída vai gerar perguntas, dúvidas e impasse na tomada de decisões do governo”, estimou Fara. Os desacordos e luta interna pelo poder durante a ausência de Cristina geram o risco de que os funcionários tomem decisões desarticuladas e conflitantes, seguindo interesses próprios com vistas a acomodações após as eleições presidenciais de 2015.

Cristina exerce um poder centralizador, sem delegar autonomia a nenhum de seus funcionários. Seu antecessor, o marido Néstor Kirchner, que morreu em 27 outubro de 2010, também era controlador. Desde 2003, quando assumiram o poder, os Kirchner não permitiram a autonomia de nenhum de seus seguidores. Neste aniversário de três anos de morte de Néstor, os kirchneristas se mantêm fiéis ao mentor do movimento político. “Uma ausência mais prolongada de Cristina poderia gerar um governo de facções, difícil de ser administrado, porque, em um poder vertical, qualquer relaxamento pode gerar caos”, afirmou.