Filho de Kadafi diz que não tem intenção de se render aos rebeldes

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Saadi Kadafi, filho do presidente da Líbia, Muamar Kadafi, afirmou ontem em uma mensagem de e-mail a um repórter da emissora de TV norte-americana CNN que não pretende se render aos rebeldes.
A declaração veio em resposta à informação divulgada pelo líder militar em Trípoli do órgão político rebelde, o Conselho Nacional de Transição (CNT), Abdelhakim Belhaj, de que ele teria demonstrado vontade de se render e se unir aos insurgentes, pedindo ainda garantias para voltar a Benghazi.
Belhaj é integrante da Al-Qaeda, organização terrorista até pouco tempo liderada por Osama Bin Laden, morto pelos EUA. Ou seja, Belhaj é “apoiado” pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e consequentemente pelos EUA, em uma notável contradição à “guerra ao terror”.
O filho do ditador afirmou à CNN que os rebeldes destruíram a Líbia e não demonstram estar dispostos a negociações. Por conta disso, ele também se manteria ao lado do regime.
Ainda não se têm informações concretas sobre o paradeiro de Kadafi. Até o momento, todas as indicações de onde ele estaria acabaram se revelando alarmes falsos. De acordo com os rebeldes, Kadafi terá um julgamento justo caso seja possível capturá-lo com vida, mas ao mesmo tempo oferecem recompensa de US$ 1,7 milhão e anistia a quem levá-los a ele.
Ativistas e advogados de direitos humanos pediram ontem aos rebeldes para que entreguem o ditador ao Tribunal Penal Internacional (TPI) e não tentem fazer justiça com as próprias mãos. Na segunda-feira, o Ministério de Relações Exteriores argelino anunciou que a esposa de Kadafi e três de seus filhos entraram na Argélia. A filha Aisha Kadafi deu à luz uma menina na terça-feira. Os rebeldes líbios acusaram o país de ter feito um “ato de agressão” ao aceitá-los.
Ontem, milhares de líbios se reuniram em Trípoli para celebrar a festa de Eid ul-Fitr, que marca o fim do Ramadã, mês sagrado islâmico, na Praça dos Mártires. Os rebeldes armaram um esquema de segurança em volta do local, com cordões de isolamento e guardas armados patrulhando a região.
Enquanto isso, a Otan anunciou que intensificou seus ataques aéreos contra a zona central costeira da Líbia, onde se encontram as forças leais a Kadafi. Os bombardeios ainda se concentram nas cidades de Sirte, terra natal de Kadafi, Bani Walid e Hun. Tal região se tornou alvo a partir de segunda-feira, de acordo com documento da Otan, que considera Trípoli e a zona fronteiriça com a Tunísia já sob total controle rebelde. Na terça-feira, o CNT deu às cidades ainda leais ao ditador um ultimato para que se rendam. Segundo a cúpula dos insurgentes, o prazo para a rendição termina no sábado.
Uma fábrica de alimentos nas proximidades de Trípoli funcionava também como depósito de armas do regime de Muamar Kadafi, e, entre elas, foram encontradas centenas de pistolas brasileiras, segundo informações divulgadas por um repórter da BBC. Em visita ao local, o jornalista Wyre Davies encontrou ainda armamentos russos.
Os rebeldes afirmaram que o ditador tinha o costume de utilizar localidades civis como depósito de armamentos com o intuito de dificultar que a Otan, a aliança militar do Ocidente, identificasse os alvos para ataques aéreos.