País presta homenagem a brasileiros mortos
Na homenagem aos 18 militares e dois civis brasileiros que morreram no Haiti no terremoto de sete graus na escala Richter do dia 12 de janeiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, em momentos como este, "as palavras se tornam frágeis diante da brutalidade dos fatos". E, acrescentou: "bravos soldados do Exército brasileiro" que morreram "cumprindo a mais nobre missão humanitária até hoje atribuída às Forças Armadas" - a reconstrução daquele país e o serviço de prestação de socorro às vítimas de um "destino implacável".
Na solenidade na Base Aérea de Brasília, Lula destacou ainda que os soldados brasileiros no Haiti "nunca foram confundidos com invasores estrangeiros", pois, desde antes do terremoto, estavam lá participando da missão da ONU encarregada de estabilizar o país (Minustah), comandada pelo Brasil. Depois de citar nominalmente cada um dos mortos, Lula agradeceu-lhes, em nome do Brasil, pelo trabalho humanitário realizado. Após depositar uma medalha sobre cada um dos caixões dos 18 militares cobertos com a bandeira nacional, homenageou também dois civis brasileiros mortos na tragédia: a médica sanitarista Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, e Luiz Carlos Costa, o diplomata número dois no comando da missão da ONU no Haiti, velado nesta quinta-feira no Rio de Janeiro.
Ao concluir seu discurso, Lula se dirigiu novamente às famílias dos 18 militares, que receberam promoção post mortem, dizendo: "Peço a Deus que permita manter na memória o exemplo desses homens valorosos".
Também nesta quinta-feira, o presidente assinou uma medida provisória (MP) que repassa R$ 375 milhões para ajuda ao Haiti e para o trabalho das tropas brasileiras naquele país. Desse total, R$ 205 milhões serão destinados ao Ministério da Defesa; R$ 135 milhões para a construção de dez unidades de pronto atendimento médico 24 horas e R$ 35 milhões para o Ministério das Relações Exteriores, para reforço à embaixada brasileira.
Da mesma forma, o presidente decidiu enviar ao Congresso Nacional projeto para indenizar as famílias dos 18 militares mortos no terremoto no país caribenho. Segundo informações extraoficiais, o valor ficaria em torno de R$ 500 mil a cada família.
Na reunião ministerial que traçou a ação, os ministros da Defesa, Nelson Jobim, do Gabinete de Segurança Institucional, Jorge Félix, e o secretário-geral do Itamaraty, Antonio Patriota, fizeram um relato dos trabalhos que estão sendo desenvolvidos pela Minustah e das condições de vida na capital Porto Príncipe.
Agências humanitárias aplicam lições aprendidas com o tsunami de 2004
Os esforços para ajudar o Haiti a se recuperar do grande terremoto que assolou o país aproveitam lições aprendidas em outras tragédias de larga escala, particularmente do tsunami de 2004 no Oceano Índico, que matou pelo menos 230 mil pessoas em 12 países. As mesmas cenas de corpos espalhados pelo chão ou empilhados ao longo de estradas no Haiti já foram vistas após a devastação causada pelo tsunami, mas Bakri Beck, que coordenou as atividades na província indonésia de Banda Aceh - onde 167 mil pessoas morreram em decorrência do terremoto de sete graus na escala Richter e do tsunami - disse que salvar os sobreviventes deve continuar a ser a prioridade.
"Uma coisa que está claramente acontecendo no Haiti é o foco em tentar aplicar lições de emergências anteriores", disse Ben Ramalingam, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Active Learning Network for Accountability and Performance in Humanitarian Action, sediada em Londres. "Desta vez, há muito mais foco no que pode ser feito melhor, no que pode ser aprendido desde o início." A AmeriCares, sediada em Connecticut, forneceu mais de US$ 45 milhões em ajuda para os sobreviventes do tsunami, e agora está no Haiti distribuindo mais de US$ 6 milhões em suprimentos médicos. "Eu sinto que estamos lidando com um volume de atividade similar ao do tsunami, mas com muito mais eficiência", afirmou Christoph Gorder, vice-presidente de Resposta Emergencial do grupo.
Nesta quinta-feira, mais dois terremotos atingiram o Haiti pouco antes das 15h (horário de Brasília), com magnitude de 4,9 e 4,8. Ambos ocorreram perto de onde os tremores anteriores foram registrados e a uma profundidade de cerca de dez quilômetros, informou o site do Instituto de Sismologia dos EUA.
Governo realoca milhares de desabrigados pelo abalo sísmico
Funcionários do Haiti afirmaram, nesta quinta-feira, que estavam realocando milhares de pessoas desabrigadas pelo terremoto. Essas pessoas estão sendo levadas para vilas rapidamente construídas, que podem receber pelo menos 10 mil pessoas cada.
"O governo disponibilizou transporte gratuito. Uma grande operação está ocorrendo: nós estamos no processo de realocar os sem-teto", disse o ministro de Interior haitiano, Paul Antoine Bien-Aime. Funcionários informaram que o governo está pagando pelo menos 34 ônibus para levar as vítimas para o Sul e o Norte do país, tirando-as de Porto Príncipe. Os funcionários afirmaram que já começaram o processo para identificar locais para as vilas.
Um porta-voz da ONU afirmou que o número de funcionários da entidade mundial que morreram no terremoto no Haiti subiu de 49 para 61. Ainda estão desaparecidos quase 180 servidores, a maioria haitianos, informou o porta-voz.
Ao mesmo tempo os EUA começaram a armar barracas na base naval da Baía de Guantánamo, em Cuba, para alojar haitianos, caso haja uma migração massiva para a região por causa do terremoto. A informação foi divulgada na quarta-feira, pelo contra-almirante Thomas Copeman. As autoridades também disponibilizaram sanitários, camas e outros materiais. Na base ficam também quase 200 presos, suspeitos por terrorismo.
Os haitianos ficarão no lado oposto do centro de detenção e não terão qualquer contato com os prisioneiros. A base ao Sudeste de Cuba também está sendo usada para transportar materiais e pessoas para ajudar o Haiti, que fica a 320 quilômetros. No início da década de 1990, Guantánamo abrigou milhares de haitianos que foram interceptados no mar, até que eles pudessem ser enviados novamente a seu país de origem.
Embaixada haitiana já recebeu cerca de 900 e-mails de brasileiros para adoção
A embaixada do Haiti em Brasília já recebeu cerca de 900 e-mails com pedidos de adoção de crianças órfãs por brasileiros. A adida cultural da embaixada, Norma Cooper, explicou que a orientação para todos que têm interesse em adotar uma criança haitiana é enviar um e-mail para embhaiti@terra.com.br. Isso porque a embaixada ainda analisa, com o governo brasileiro, qual o procedimento a ser utilizado.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância divulgou comunicado expressando preocupação diante da situação de crianças haitianas que foram separadas dos pais após os tremores. "Esses menores encaram altos riscos de desnutrição e doenças, além do tráfico, do abuso sexual e do trauma emocional." O organismo, entretanto, defende que a adoção internacional seja considerada como última alternativa. Os esforços devem ser voltados para unir as crianças aos seus parentes.
Banco Mundial perdoa pagamentos de dívida em cinco ano
O Banco Mundial decidiu abrir mão de receber qualquer pagamento da dívida do Haiti junto ao órgão multilateral nos próximos cinco anos e acrescentou que está trabalhando para encontrar uma forma para cancelar o restante da dívida do pequeno país caribenho devastado por um forte terremoto.
Atualmente, a dívida do Haiti junto ao Banco Mundial, que é isenta de juros, é de US$ 38 milhões, cerca de 4% da dívida externa total do país. "Devido à crise causada pelo terremoto, estamos perdoando qualquer pagamento sobre esta dívida pelos próximos cinco anos e, ao mesmo tempo, trabalhando para encontrar uma forma de cancelar o restante da dívida", diz a nota do Banco Mundial.
O texto acrescenta ainda que, "junto com o FMI e outros doadores, concedemos ao Haiti US$ 1,2 bilhão em alívio de dívida através da iniciativa para Países Pobres Pesadamente Endividados". "Desde 2005, o apoio financeiro do Banco Mundial ao Haiti (US$ 363 milhões) tem sido concedido através de doações. Isto não inclui US$ 100 milhões em donativos anunciados em 13 de janeiro em resposta ao terremoto", diz a nota.