Funeral de aiatolá gera protestos no Irã

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Milhares de iranianos transformaram, ontem, o funeral do pai espiritual do movimento reformista do Irã em um protesto contra o governo. “Morte ao ditador” e outros gritos eram ouvidos pelos manifestantes, em meio a um forte esquema de segurança para o enterro do grão-aiatolá Hossein Ali Montazeri. Uma multidão compareceu ao funeral na cidade sagrada de Qom, 125 quilômetros ao Sul de Teerã. Montazeri morreu no domingo, aos 87 anos.
O regime iraniano proíbe a imprensa estrangeira de registrar protestos in loco, por isso não é possível obter acesso independente ao ato. Um site da oposição informou sobre enfrentamentos entre os manifestantes e as forças de segurança. As fontes falavam sob condição de anonimato, temendo represálias.
Há semanas, os opositores retomaram os distúrbios políticos que marcaram a contestada reeleição de Mahmoud Ahmadinejad. As forças de segurança alertam que não terão “misericórdia” com os opositores, ameaça que parece não diminuir os protestos.
O governo tenta ainda evitar a organização da oposição, ao desligar o serviço de celular e deixar a internet - já censurada - lenta ou completamente parada. A oposição conta principalmente com mensagens de texto e sites de relacionamento para se comunicar.
A morte de Montazeri deixou a liderança iraniana em posição difícil. As autoridades foram obrigadas a lamentar o falecimento de um dos patriarcas da Revolução Islâmica de 1979, que chegou a ser apontado como um provável sucessor do aiatolá Ruhollah Khomeini. Montazeri, porém, rompeu com a liderança clerical iraniana e tornou-se um duro crítico do regime, denunciando o líder supremo aiatolá Ali Khamenei e qualificando a repressão após as eleições deste ano como o trabalho de uma ditadura.
Imagens divulgadas pela internet mostravam a multidão protestando nas ruas de Qom. Alguns manifestantes lançavam pedras nas forças de segurança e houve confrontos.