Missão contra o taliban pode fracassar, diz comandante dos EUA

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O comandante das forças dos Estados Unidos no Afeganistão, general Stanley McChrystal, afirmou em relatório entregue ao governo que o país deve fazer uma revisão urgente na estratégia para o Afeganistão e alertou que, ao causar a morte de civis e danos colaterais “desnecessários”, pode perder a batalha contra o grupo islâmico radical taliban.

“Nós corremos o risco de uma derrota estratégica ao tentar utilizar táticas que causam morte de civis ou dano colateral desnecessário. Os insurgentes não podem nos derrotar militarmente, mas nós podemos causar nossa própria derrota”, disse McChrystal, que é comandante também das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão.

A missão internacional foi duramente criticada pelo recente bombardeio aéreo, no dia 4 de setembro, contra dois caminhões-tanque com combustível roubados pelos militantes do taliban. Segundo uma comissão de investigação coordenada pelo governo afegão, o ataque matou 30 civis e 69 militantes. A edição alemã do jornal Financial Times (FTD), que cita fontes ligadas à Otan, diz que o coronel alemão Georg Klein passou informações falsas para justificar o bombardeio. O general McChrystal, que ordenou uma investigação sobre o bombardeio, disse ainda que o esforço na guerra no Afeganistão “está se deteriorando” apesar do “esforço considerável e do sacrifício”.

Segundo cópia do relatório, divulgado pelo jornal Washington Post, McChrystal pede um reforço nas tropas norte-americanas no país e diz que, sem mais soldados, a missão dos EUA deve “terminar em fracasso”.

Um porta-voz para o Ministério de Defesa do Afeganistão afirmou ontem que o governo afegão não deve contestar os comandantes militares internacionais no assunto, mas que o foco maior está do outro lado da fronteira, no Paquistão - país incluído por Obama na guerra ao grupo islâmico radical taliban. Segundo o porta-voz, os insurgentes estão se infiltrando no Afeganistão pela fronteira.

Obama deve decidir se seguirá os conselhos de McChrystal de enviar milhares de soldados adicionais ou se manterá o esforço adicional já anunciado no começo do ano, o qual prevê que, até o fim de 2009, haverá 68 mil soldados norte-americanos no Afeganistão.

A decisão fica ainda mais difícil diante da resistência dos cidadãos dos EUA ao conflito, cujo apoio atingiu o menor nível entre os norte-americanos desde que o conflito foi iniciado, com a invasão das forças pouco depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. Segundo pesquisa Opinion Research Corp., feita para a rede de TV CNN, 39% dos norte-americanos dizem apoiar a guerra, contra 58% que se opõem ao conflito. A pesquisa mostra uma redução de cinco pontos percentuais em relação à medição de abril e o menor índice nos oito anos do conflito contra o taliban.

No domingo, Obama deixou claro em uma maratona em cinco canais de TV dos EUA que ele está avaliando se a nova estratégia para o Afeganistão funciona e que não vai se apressar para definir se haverá um reforço adicional às tropas. “Recursos não vão ganhar esta guerra, mas falta de recursos pode perdê-la”, disse McChrystal em um resumo de cinco páginas. O relatório, de 66 páginas, é confidencial e foi enviado ao secretário de Defesa Robert Gates em 30 de agosto. Ele passa por revisão na Casa Branca.