Bares da UFRGS ganham cardápios em braile; lei estadual sobre o tema é insuficiente

Para os próximos meses, a ideia é levar a inclusão também para os Restaurantes Universitários (RU)

Por Bárbara Lima

cardápios em braile na UFRGS -
Ir a um restaurante, folhear o cardápio, escolher a opção que mais agrada, fazer o pedido e saborear o prato. Atitudes simples para muitas pessoas, mas não para quem é cego ou enfrenta alguma limitação visual. Nesses casos, muitas vezes, resta depender da boa vontade dos atendentes ou de outros clientes que estão no estabelecimento para realizar o pedido, o que não é o ideal quando se fala em acessibilidade e inclusão. Por isso, uma iniciativa do núcleo INCLUIR, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pretende mudar essa realidade. No retorno das férias, doze bares receberam cardápios em braile. Para os próximos meses, a ideia é levar a inclusão também para os Restaurantes Universitários (RUs).
Segundo uma das idealizadoras da ação, a servidora pública Cristina Fumaco, que é cega, o projeto surgiu a partir de sua experiência em bares e restaurantes da cidade. "Poucos têm cardápio em braile. Pensei que poderíamos, então, tentar mudar isso dentro da universidade, que é um lugar de reflexão", relatou. A falta de cardápios acessíveis compromete a autonomia das pessoas com falta de visão. "Dependemos que algum atendente leia. Isso é ruim porque, muitas vezes, acaba induzindo nossa escolha, pois dizem: 'esse é o que mais sai da casa', quando, na verdade, o que queremos é ter direito pleno de escolha", refletiu. 
O INCLUIR, então, recolheu e fotografou os cardápios e painéis de bares da universidade, incluindo os tradicionais, como o Bar do Antônio, no Campus Centro. "É um local que tem muitas opções de lanches e refeições, então é importante ter acessibilidade", considerou Fumaco. Ela mesma fez a revisão dos textos em braile, já que essa também é sua profissão. "Esperamos, assim, pautar mais esse debate na sociedade", finalizou.
A gerente do Beta Café, localizado no prédio da Engenharia da UFRGS, Débora Aquino, disse que, embora os clientes que precisam do cardápio em braile sejam poucos, a iniciativa foi muito produtiva. "É bom para o cliente que é cego e também para os atendentes, já que é autonomia para eles e agilidade para gente", ponderou. O assunto a fez notar outros problemas que a falta de acessibilidade traz. "Na maquininha, a pessoa com deficiência visual precisa confiar na gente, porque ela não tem leitura em voz alta, por exemplo", ressaltou.
Na UFRGS, essas ações fazem parte de um conjunto de práticas necessárias para a manutenção dos alunos com deficiência na universidade, uma vez que a instituição, pela Lei 13.409/2016, destina parte de suas vagas às pessoas com deficiência. Apesar disso, nem sempre os Campi conseguem garantir a autonomia e o aprendizado pleno desses estudantes, já que, em uma breve circulada pelo Campus Centro é possível encontrar portas estreitas, degraus elevados e ausência de rampas, irregularidades e desníveis, e, claro, constatar a ausência de cardápios em braile em alguns estabelecimentos, como na Faculdade de Direito, por exemplo, e no Contraponto, onde os atendentes alegaram não ter recebido os cardápios acessíveis. 
Apesar da legislação estadual, estabelecimentos no Rio Grande do Sul deixam a desejar na acessibilidade
As práticas institucionalizadas de inclusão são necessárias para garantir o que está previsto no Estatuto da Pessoa Com Deficiência e na Constituição Estadual. Nesse sentido, além de ter uma legislação, é preciso fiscalizar.