Hospital Moinhos de Vento realiza primeira cirurgia fetal

A cirurgia durou cerca de três horas e foi considerada um sucesso na visão dos médicos

Por JC

Procedimento foi realizado em um feto com cerca de 22 semanas diagnosticado com mielomeningocele
O Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, realizou a primeira cirurgia fetal na instituição no último domingo (24). Trata-se de um feto de 22 semanas diagnosticado com mielomeningocele, um defeito de fechamento da coluna que causa lesão progressiva de raízes nervosas que estão anormalmente em contato com o líquido amniótico, o que pode ocasionar em acúmulo de líquido no cérebro e dificuldade ou perda total da capacidade de caminhar.
A gestante de 30 anos é residente da Serra gaúcha, e foi encaminhada pela Secretaria Municipal de Saúde de sua cidade ao Moinhos de Vento para avaliação do chefe do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia, Edson Vieira da Cunha Filho, e do coordenador da Medicina Fetal e Cirurgia Fetal, Eduardo Becker Jr. Os especialistas apresentaram a possibilidade de correção cirúrgica intrauterina - ou seja, com o bebê dentro do útero -, técnica considerada a melhor opção para preservar o movimento das pernas do bebê.
A cirurgia durou cerca de três horas e foi considerada um sucesso na visão dos médicos. O útero da paciente foi exposto através de uma incisão abdominal, como a de uma cesariana. Assim, o feto foi manualmente posicionado para que fosse possível acessar o problema. A partir de uma pequena incisão no útero, foi feita a correção da lesão do feto. Em seguida, o líquido amniótico foi reconstituído e o útero foi novamente fechado e recolocado, para que a gestação possa continuar.
"A operação transcorreu da melhor forma possível. Foram tomadas todas as medidas preventivas para redução dos riscos cirúrgicos. Depois de 24h na UTI, a paciente permanecerá internada por mais dois ou três dias. O bebê será frequentemente examinado e monitorado por meio de ecografia, no atendimento pré-natal. Depois do nascimento, o neurodesenvolvimento do bebê também será acompanhado", afirma o chefe do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia. 
Procedimento inédito no Hospital
Essa foi a primeira vez que uma cirurgia fetal foi realizada no Moinhos de Vento. A equipe foi liderada pelo Dr. Fábio Peralta, médico coordenador de um grande centro de Medicina Fetal em São Paulo. Nos últimos meses, a equipe do Moinhos de Vento vem se preparando para esse tipo de procedimento, com treinamento da equipe de obstetrícia, neurocirurgia e aquisição dos equipamentos necessários.
"Esse tipo de cirurgia coloca o Moinhos na vanguarda do que há de melhor em termos de diagnóstico e terapêutica fetal. O hospital agora oferece à população alternativas seguras para garantir o melhor tratamento para esse tipo de patologia, com a qualidade reconhecida do Moinhos de Vento, contando com equipamentos de última geração e assistência de excelência", destaca Edson.
"A possibilidade da correção cirúrgica pré-natal da mielomeningocele é um marco na história da obstetrícia do RS, por efetivamente contribuir para melhorar o desfecho neonatal em casos selecionados", afirma Becker.
Mielomeningocele
A mielomeningocele é um defeito congênito da coluna e da medula espinhal resultante do fechamento incompleto durante a quarta semana de gestação. Quando a coluna não está adequadamente fechada, as meninges, normalmente protegidas pela parte óssea, ficam expostas, bem como raízes nervosas.
Com a exposição ao líquido amniótico no útero da mãe e o constante contato com a parede uterina, as estruturas vão se deteriorando. Quanto mais danificadas, piores serão as dificuldades motoras da criança ao nascer - o que pode ocasionar a perda de locomoção. Além disso, enquanto não houver correção cirúrgica, a medula vai perdendo liquor - líquido que envolve a medula -, causando modificação anatômica em estruturas cerebrais.
A mielomeningocele ocorre, em média, em um a cada mil nascimentos, em nível global. Como a taxa de natalidade no Rio Grande do Sul é de aproximadamente 140 mil nascimentos por ano, estima-se que aproximadamente 140 crianças nasçam com esse problema no RS anualmente.