Dia Internacional da Mulher marca luta por paridade no poder

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O ano é de eleições. Por isso, este Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, chega com grandes discussões a respeito da presença feminina em cargos de poder. Segundo a coordenadora-geral do Coletivo Feminino Plural (CFP), Telia Negrão, apenas 10% das vagas em posições de poder e decisão no Brasil são ocupadas por mulheres. Em uma luta por direitos que existe desde o século XVIII e que já teve diversos avanços, a batalha, agora é rumo à igualdade entre os gêneros em todos os campos.
Para a mestra em Ciência Política e colaboradora do Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Mulher e Gênero da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elena Schuck, a mídia insiste em objetificar a mulher, dando importância aos padrões de beleza e que, assim, geram uma sensação de que o papel feminino é preocupar-se com a aparência. “Assim, elas não têm o papel de ter voz em discussões mais aprofundadas, como na política. É um desafio mudar isso, já que é um modelo democrático. Mas democrático para quem, quando as mulheres não estão no parlamento e se exclui quase 50% da população dos quadros de poder?”, questiona.
Elena cita como consequência da falta de representatividade a tramitação do Estatuto do Nascituro, projeto de lei de 2005 que defendia a alteração do código penal, para considerar o aborto como crime hediondo e o proibir em todos os casos. “Sempre existem essas ondas contrárias, mesmo que estejamos vivenciando um momento de conquistas. As jovens estão participando mais do movimento feminista, percebendo que não há igualdade entre os sexos. A consciência é cada vez maior”, garante.
Além disso, conforme a pesquisadora, há maior respaldo institucional, com a criação de secretarias federal e estaduais específicas para a população feminina. “A Lei Maria da Penha, que criminaliza a violência doméstica, foi uma conquista importante para pararmos de achar que ninguém deve se meter em brigas de casais. É um reconhecimento institucional de que a luta das mulheres é importante, é democrática e é pela igualdade”, enfatiza.
O CFP trabalha, de acordo com Telia, com temas relativos à autonomia feminina e ao direito de decisão das mulheres. “Tentamos inverter esse funil de gênero, que leva à falta de representatividade das mulheres nos Três Poderes”, explica.
A coordenadora do coletivo cita o cientista político José Murilo de Carvalho, que definiu que o Brasil segue três tradições políticas. “A primeira é a família patriarcal, masculina, dominadora, agressiva e opressora, que criou na sociedade a ideia de que as mulheres são propriedade dos homens e que elas devem se submeter a eles. A partir disso, podemos compreender toda a questão da violência e da ausência feminina nos espaços de poder e decisão”, destaca.
“A segunda tradição é a escravista, que leva a ideia de que outras pessoas devem fazer o nosso trabalho, que ele pode ser explorado e que, portanto, as pessoas podem trabalhar e ganhar pouco. E, por fim, há a tradição do patrimonialismo, a concepção de que o que é público também é privado e de que nós podemos usar livremente os bens públicos, porque nada acontecerá. Isso explica o problema nacional da corrupção”, analisa.
Esses elementos justificam, para Telia, o conceito de que lugar de mulher não é na política, porque esse lugar é dos homens, que não querem largar essa posição. “É uma questão de física: dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo. Temos 500 lugares no Congresso Nacional e, para que 250 destes sejam preenchidos por mulheres, temos que tirar 230 homens de lá. Aí, enfrentamos resistência cultural, política e econômica”, pondera a coordenadora.

Secretária estadual da Saúde celebra maior presença feminina entre chefes de Estado

Apesar das críticas de ativistas, a secretária estadual da Saúde, Sandra Fagundes, considera que uma das conquistas mais importantes dos últimos tempos é a mulher ter assumido postos de chefe de Estado. Ela cita a presidente Dilma Rousseff, no Brasil, Michelle Bachelet, no Chile, e Cristina Kirchner, na Argentina. “Em especial na América Latina, temos a presença feminina na cadeira de chefe maior da nação. E a mulher não chega ao poder sozinha; chega porque, também em vários outros extratos da sociedade, têm assumido o poder”, destaca.
O amadurecimento na consciência da necessidade de construção de um modelo feminista é sentido pela secretária como um avanço. “Hoje, temos uma deputada estadual que teve bebê e optou por não tirar a licença-maternidade. Fico imaginando que o seu gabinete precisa ser adaptado para a amamentação e o cuidado com o filho e me pergunto se o Legislativo terá espaço para isso. É um desafio que precisamos encarar”, avalia.
Já a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Ariane Leitão, ressaltou que o papel dos órgãos públicos é colocar a pauta na agenda política. “Agora temos secretarias para mulheres, o que possibilita que haja espaço não só para políticas públicas, mas também para as mulheres ficarem no centro do debate, como prioridade, seja do ponto de vista da oferta dos serviços públicos, como da ocupação do mundo público, da igualdade de direitos e dos avanços que ainda precisamos ter ”, afirma. A secretária afirma que, em relação ao último governo, R$ 270 milhões a mais foram investidos em políticas para mulheres, um crescimento de 2.000%.
Nesta quinta-feira, ocorreram atividades no pátio do Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), alusivas ao Dia Internacional da Mulher, com palestras e oficinas de coletivos e organizações voltadas ao público feminino. As ações prosseguem nesta sexta-feira.