Prejuízo com a fraude na Carris é de quase R$ 1 milhão

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A Companhia Carris Porto-Alegrense (Carris) recebeu cerca de R$ 100 mil por mês a menos no período em que funcionários utilizavam de forma ilegal a bilhetagem eletrônica nos ônibus. Os valores totais estão sendo calculados pela gerência financeira. A fraude ocorria desde março, segundo comissão de sindicância aberta pela empresa para averiguar o caso e que, agora, operará em caráter permanente. A estimativa tem como base uma média de R$ 2,5 mil extras tirados por cada um dos 42 cobradores, o que gera um total de R$ 945 mil, se contabilizado até novembro. Os envolvidos foram demitidos por justa causa na segunda-feira, por improbidade administrativa.
Durante a manhã de ontem, houve paralisação dos veículos da empresa, em protesto contra as demissões. Os primeiros coletivos só saíram da garagem após as 7h, começando com 50% da frota e aumentando em quantidade gradualmente. A situação foi normalizada no final da manhã.
Conforme o diretor-presidente da Carris, Sérgio Zimmermann, a investigação começou por meio de denúncias de usuários do transporte coletivo, que geraram a abertura da sindicância. “Vamos encaminhar todos os processos para o Ministério Público do Trabalho e para o Tribunal de Contas, e será aberto um inquérito policial, para continuar as investigações”, explica. Os colaboradores da empresa, de acordo com Zimmermann, terão acesso aos documentos levantados e poderão se defender. A companhia de ônibus deve entrar na Justiça para tentar reaver os recursos perdidos.
A ação ocorria de duas maneiras. A primeira acontecia após o passageiro pagar a tarifa em dinheiro. Esses cobradores ficavam com o valor e passavam no sistema um cartão TRI de outro usuário. Como a segunda passagem é gratuita, um próximo passageiro pagava a sua tarifa e o funcionário registrava o mesmo cartão, colocando o valor da passagem no próprio bolso. A outra manobra era feita por meio de cartões de idosos. O pagante era registrado como idoso, enquanto o valor pago pela tarifa ficava integralmente com o cobrador. “Houve casos de usarem 300 vezes o mesmo cartão de idoso. Mais comprovado que isso, impossível, já que um idoso pegar tantas vezes o mesmo ônibus em um dia é quase impossível”, afirma Zimmermann.
Para o delegado sindical da Carris, Alceu Weber, as demissões são injustas. “Não foi apresentado nenhum documento para nenhum dos funcionários afastados que comprove o que está sendo dito. Nós sequer fomos chamados antecipadamente para tratar do assunto”, diz.
Segundo Weber, existe fraude, mas a forma como a empresa está lidando com a situação é errônea. “Há uma sindicância que prevê que temos que ser escutados. O nosso setor jurídico nem foi consultado. Ou seja, existe uma manipulação prevista aí. Por oito dessas 42 pessoas afastadas, eu boto a minha mão no fogo, porque eu sei que não roubaram. Eles estão junto porque estavam nas manifestações”, opina, referindo-se a greves e paralisações que ocorreram durante o ano por parte de funcionários da companhia. Uma alternativa para evitar o uso indevido do TRI seria definir no sistema a possibilidade de passar apenas uma vez o cartão por vez nos veículos. “Dá para fazer isso no sistema. O TRI é teu, é intransferível, não é para toda a família usar. O sistema está falho, deixa espaço para que aconteça esse tipo de coisa”, destaca Weber.
O procurador do Trabalho Ivo Eugênio Marques intimou o sindicato para que, dentro do prazo de dez dias, informe ao Ministério Público do Trabalho se existe alguma norma em vigor que, de alguma forma, impeça a empresa de despedir os empregados por justa causa ou condicione a dispensa a algum procedimento especial. A Carris também foi intimada, no mesmo prazo, a se manifestar sobre a denúncias e prestar esclarecimentos. Somente após as manifestações poderá ser avaliada a possibilidade de alguma mediação.

Ônibus foram alvo de vandalismo

Dezenove ônibus da Carris foram alvo de vandalismo entre a noite de segunda-feira e a manhã de ontem. Sete deles tiveram as chaves quebradas na ignição e o cilindro danificado, oito tiveram as chaves furtadas, dois tiveram o cilindro da ignição e a trava da direção quebrados e outros dois tiveram o cilindro da ignição quebrado. Dois deles ficaram impossibilitados de rodar.
Doze desses veículos estavam estacionados nos terminais da empresa. São carros que se deslocam nas primeiras horas da manhã para transportar motoristas e cobradores que tripulam os primeiros horários das linhas até a garagem da companhia. Os outros sete carros estavam na garagem da Carris.