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Três corpos foram encontrados em desabamentos
Bombeiros resgataram, na manhã desta quinta-feira, os corpos de três vítimas nos escombros dos três prédios que desabaram por volta de 20h30m da noite de quarta, na Cinelândia, no Centro do Rio. A Defesa Civil municipal chegou a informar que cinco corpos haviam sido achados, mas depois voltou atrás. O primeiro corpo, retirado dos escombros do prédio mais alto, é de um homem, identificado como Celso pelo subsecretário da Defesa Civil, Márcio Mota. Segundo os bombeiros, há uma lista de 16 possíveis desaparecidos. Cinco pessoas foram hospitalizadas no Souza Aguiar, e duas já tiveram alta. Uma outra pessoa deu entrada no Hospital estadual Getúlio Vargas e também já foi liberada.
O secretário estadual de Defesa Civil, Sérgio Simões, disse no fim da manhã que pelo menos um representante de cada família de possíveis desaparecidos está sendo levado ao Instituto Médico Legal (IML) para tentar reconhecer os três corpos já resgatados. São cerca de 20 parentes, que estão sendo transportados em duas vans. Entre eles, a secretária Sandra Ribeiro, de 40 anos, que procura o pai, Cornélio Ribeiro, de 73 anos. Ele trabalhava como porteiro no edifício Liberdade. Sandra soube ontem à noite do acidente, foi ao local, mas não conseguiu obter nenhuma informação.
"Me informaram hoje que encontraram um corpo com o celular do meu pai no bolso. Estamos indo lá para ver se é ele mesmo", lamenta a filha.
A Rádio CBN informou no início da tarde que a catadora de papel Vera Lúcia dos Anjos Freitas deixou o IML chorando muito e disse ter reconhecido dois dos três corpos retirados do local. Um deles seria do sobrinho dela. A informação, ressalta a rádio, não é confirmada pelas autoridades.
Segundo o subsecretário da Defesa Civil, Márcio Mota, três prédios vizinhos aos que caíram estão interditados preventivamente, e os do entorno na Rua Treze de Maio estão fechados para evitar a circulação de pessoas pelo local, o que prejudicaria os trabalhos de busca por vítimas, a prioridade no momento. Ainda de acordo com Motta, num segundo momento, o Instituto de Criminalística Carlos Éboli vai periciar a área.
Por volta das 10h desta quinta-feira, a Defesa Civil evacuou o prédio de número 118 da Rua Senador Dantas, para onde está sendo desviado o trânsito na região. O edifício Liceu Literário Português, que tem nove andares (com 17 salas comercias cada) e não fica na mesma rua dos que desabaram, está localizado a 200 metros do local dos desmoronamentos. Segundo o administrador do prédio, Albino Melo da Costa, a medida foi tomada por precaução, e não teria sido constatado qualquer rachadura ou abalo nas estruturas do imóvel. Cerca de 600 pessoas trabalham no prédio.
Mais de 12 horas após os desabamentos, o governador Sérgio Cabral não apareceu no local do acidente nem se pronunciou a respeito do acidente. A assessoria de imprensa do governador não soube dizer a que horas Cabral soube do acidente, nem se ele irá ao local à tarde. Pela manhã, o governador está em uma agenda interna. A assessoria informou, ainda, que o compromisso da tarde — que seria às 15h, no Palácio Guanabara, para a assinatura do Termo de Adesão ao Programa 'Crack, é possível vencer —', foi cancelado. No entanto, o motivo do cancelamento não foi informado. A assessoria de imprensa disse ainda que o governo do estado está sendo representado pelo secretário de Saúde, Sérgio Côrtes, que esteve no lugar do acidente ontem à noite.
Segundo o secretário municipal de Conservação, Carlos Roberto Osório, cem homens estão trabalhando na retirada dos escombros dos três prédios que desabaram na Rua Treze de Março. As equipes usam retroescavadeiras e pás mecânicas. O entulho está sendo transportado em caminhões para a Zona Portuária da cidade e, de lá, para o aterro sanitário de Gramacho, na Baixada Fluminense. Osório diz que a remoção dos escombros é paralisada a todo momento para que os bombeiros procurem sobreviventes, com o apoio de cães farejadores. Há muita poeira e fumaça nos arredores do local do desabamento, onde agentes trabalham com máscaras. Além da poeira levantada pelo trabalho dos bombeiros, e houve pequenos focos de fogo em meio aos destroços pela manhã. As chamas são provenientes do contato do gás das tubulações que romperam com material inflamável.
Pela manhã, um forte cheiro de fumaça e de queimado assustou os passageiros do Metrô-Rio. Segundo a assessoria de imprensa da concessionária, esses problemas são reflexos do desabamentos dos prédios. Apesar de a estação mais próxima do local ser a Carioca, o mau cheiro se espalha para outras estações, como a Uruguaiana. A MetrôRio informou, ainda, que a equipe de manunteção foi ampliada para o caso de haver algum incidente por causa dessa fumaça, mas até o fim da manhã não foi registrada qualquer ocorrência. As linhas 1 e 2 operam normalmente e, segundo a concessionária, a movimentação de passageiros foi normal durante a manhã.
O tenente-coronel Julio César Mafia, oficial de dia do Quartel de Operações com Cães da Polícia Militar, acredita que há possibilidade de encontrar sobreviventes nos escombros dos três prédios. Segundo ele, as vítimas podem conseguir sobreviver em bolsões de ar que se formam nesse tipo de acidente. Ele comparou o caso ao desabamento das torres do World Trade Center, em Nova York, após terem sido atingidas por aviões em um ataque terrorista em 11 de sembro em 2001. O oficial lembrou que foram encontrados sobreviventes dias depois do colapso dos edifício.
"Estamos trabalhando com a hipótese de 19 pessoas desaparecidas. É um trabalho ligeiro, porém feito com cautela porque acreditamos que é possível encontrar pessoas nesses bolsões de ar. Estamos trabalhando com muito cuidado para evitar nos desmoronamentos".
Em entrevista à Rádio BandNews, no entanto, o motorista Cesar Sabará contou que seu cunhado, o advogado Franklin Machado, de 44 anos, não consta na lista de desaparecidos. Franklin, que trabalhava no quinto andar do prédio de 20 pavimentos , falava com a mulher por volta das 20h30m, mas desligou porque tinha muito barulho.
Francisco Adir, conhecido de um desaparecido identificado como Fábio, tem esperanças de encontrá-lo. Segundo ele, Fábio trabalhava em uma empresa de informática em um dos prédios e ligou às 3h da madrugada para o celular da namorada. Ele chegou a dizer “oi amor”, mas a ligação foi cortada. A família está aflita e esperançosa, e não quer falar com a imprensa. Eles esperam encontrar Fábio com vida.
Hemorio pede doações de sangue
O Hemorio pede que a população faça doações de sangue para atender às vítimas dos desabamentos. A assessoria do centro informou que o estoque já estava abaixo do normal. Até o momento não foram utilizadas grandes quantidades de sangue, mas o órgão está em alerta para possíveis emergências. O Hemorio funciona na Rua Frei Caneca 8, no Centro, e funciona das 7h às 18h. Para doar sangue é preciso ter entre 16 e 68 anos (menores de idade precisam estar acompanhados dos responsáveis), estar bem de saúde, ter mais de 50 quilos e levar um documento de identidade.
A Secretaria de Estado de Saúde colocou em alerta todos os hospitais da rede pública estadual, além das Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da Tijuca e de Botafogo, que são as mais próximas ao local dos desabamentos. Pelo mesmo motivo, o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, é o que está recebendo as vítimas. Mas o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, atendeu durante a noite de quarta-feira uma paciente de 48 anos, que chegou por conta própria contando que caiu após os desabamentos. Ela apresentava escoriações superficiais e recebeu alta. A paciente chegou com as roupas cobertas de pó, disse que trabalha em um prédio em frente ao local do acidente e que optou por ir ao Getúlio Vargas por ser mais próximo de sua casa.
O secretário estadual de Saúde Sergio Côrtes disse na manhã desta quinta-feira, em entrevista à Radio CBN, que o plano de contingência foi acionado e que menos de 30 minutos depois do acidente todos os serviços de emergência dos hospitais estaduais, municipais e federais do estado já estavam, em alerta. Segundo Côrtes, a população deve evitar ir ao local dos escombros, pois a poeira que está no ar pode causar problemas alérgicos:
"A poeira vai para os pulmões e não sabemos que tipos de substâncias estão ali. O ideal é que somente os profissionais que estão trabalhando fiquem no local. Curiosos atrapalham e estão se colocando em risco. Ontem, quando cheguei em casa, meu terno que era azul estava cinza. Lembrou a imagem do 11 de setembro".
No Centro de Apoio, improvisado pela prefeitura na Câmara dos Vereadores do Rio, pelo menos 15 famílias de pessoas que poderiam estar dentro dos prédios na hora do desabamento vararam a madrugada em busca de alguma notícia, segundo informações da Globonews.
O analista de sistemas Fernando Amaro contou que pelo menos cinco pessoas de sua empresa que participavam de um treinamento estariam dentro de um dos três prédios. Já o advogado Guilherme Sousa, de 28 anos, aguardava, na Câmara, notícias sobre sua irmã, Sabrina Prado, programadora, que havia acabado o expediente no prédio 44 da Avenida Treze de Maio e se encaminhou para um curso, no mesmo edifício, na hora do desabamento.
"No Centro de apoio, há cerca de 80 pessoas esperando informações sobre seus parentes", afirmou Guilherme.
Ele soube da tragédia pelo telefone do noivo da irmã e, desde a noite de quarta-feira, procura alguma informação sobre o paradeiro de Sabrina. Michele Barbosa, de 33 anos, é outra das várias pessoas atendidas por médicos e psicólogos na Alerj, na madrugada desta quinta-feira, enquanto aguarda notícias de seu marido. O analista de sistema, Marcelo Rebelo, 47 anos, fazia um curso de especialização em Tecnologia da Informação em um dos prédios que desabaram. Michele começou a se preocupar quando ligou para o marido, depois do horário da aula e ele não atendeu. Marcelo, casado com Michele há 11 anos, com quem tem uma filha, estava na penúltima aula antes da conclusão do curso.
"Ele sempre chegava por volta de 21h10m. Eram 21h e ele não atendia minhas ligações e não chegou em casa. Não sei qual era o prédio do curso, só sei que era um desses", contou.
Até a manhã de quinta-feira, cinco pessoas feridas foram resgatadas e deram entrada no Hospital Souza Aguiar, entre elas, Marcelo Antonio Moreira, zelador de um dos prédios, e Francisco Rodrigo da Costa, operário que trabalhava dentro de outro prédio que caiu e foi resgatado no elevador. Ambos tiveram ferimentos leves. Uma mulher, porém, Cristiane do Carmo, de 28 anos, está com traumatismo craniano e com uma fratura no braço. Ela passou por uma cirurgia na unidade.
Em nota, o banco Itaú Unibanco informou que a agência número 0607 funcionava num dos prédios que desabou na Avenida Treze de Maio. Não há registro de que havia funcionários ou clientes do banco no local na hora do acidente. “A agência não passava por reformas e não tinha hall de atendimento com caixas eletrônicos”, diz a nota. A partir desta quinta-feira, os clientes da agência afetada serão atendidos pela agência 8468, também localizada na Avenida Treze de Maio.
Começam investigações sobre possíveis causas
O prefeito Eduardo Paes, que logo após a tragédia esteve no local, não acredita que os desabamentos tenham sido provocados por escapamento de gás. De acordo com ele, a maior possibilidade de ter sido um problema estrutural no prédio de 20 andares, que estava em obras. Porém, ele ressalta que ainda é cedo para uma informação precisa sobre as causas da tragédia:
"Há fiscalização permanente da prefeitura dos prédios, e é preciso saber exatamente o que aconteceu porque existem prédios muito mais antigos e que não têm problemas", disse Paes.
O engenheiro civil, especialista em estrutura do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Antonio Eulálio Pedro vistoriou na manhã desta quinta-feira o local do desmoronamento. Ele acredita que pode haver três hipóteses para a queda do prédio de 20 andares, o que teria desabado primeiramente. O corte de uma viga, com ruptura brusca, a corrosão e infiltração da laje da cobertura ou o entulho de obra como sacos de cimentos, latas de tintas, que provocou o excesso de peso e o rompimento da estrutura. O Crea vai tentar localizar o engenheiro responsável pela obra. Ele descarta a possibilidade de vazamento de gás, e diz que o prédio caiu de cima para baixo.
"Se o acidente fosse às 15h, morreriam mais de 500 pessoas, fora os pedestres", lamentou.
Ele acredita que a hipótese de retirada da viga é a mais provável. Ele descarta o risco de o desmoronamento ter atingido o Teatro Municipal.
O presidente da Comissão de Análises e Prevenção de Acidentes do Crea, Luiz Antonio Cosenza, não descarta qualquer hipótese de causa dos desabamentos. Nem mesmo uma explosão provocada por vazamento de gás, que seria a mais remota das hipóteses, uma vez que os prédios caíram de cima para baixo. Ainda segundo ele, foram constatadas obras irregulares no terceiro e no nono andar do prédio mais alto. Mas, a última obra no local que teve registro no Crea era de 2008.
"Normalmente os prédios do Centro são bem construídos. Não posso afirmar o que provocou os desmoronamentos. Pode ser fruto de outras obras irregulares que mudaram as vigas ou colunas. Depois do resgate das vítimas, é preciso limpar o local para uma melhor análise do que houve", disse Cosenza.
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