Pesquisa alerta que Neurocisticercose pode causar demência

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Pesquisadores da Academia Brasileira de Neurologia constataram, em estudo pioneiro, que 50% dos portadores de neurocisticercose apresentam declínio cognitivo e ligação com a presença de demência e depressão. A neurocisticercose é a doença parasitária do sistema nervoso central mais frequente no mundo. Estima-se que atinja 50 milhões de pessoas. A enfermidade é provocada pela larva Taenia solium, que se abriga, principalmente, na musculatura de suínos. O hospedeiro definitivo desta larva é o homem, no qual a forma adulta do parasita se aloja no intestino, podendo migrar para os músculos ou cérebro. A presença da doença está associada às zonas pobres, onde se criam porcos sem cuidados de higiene.
A pesquisa foi desenvolvida como tese de conclusão de doutorado do médico Daniel Ciampi de Andrade, que analisou os escores cognitivos de 122 pessoas. O primeiro grupo era composto por 45 pacientes com neurocisticercose ativa, os quais apresentavam inflamações originadas da morte e degeneração do parasita, porém, sem nunca terem realizado algum tratamento. Foram investigados mais 49 pacientes em controle médico e, no último grupo, 28 pacientes com epilepsia criptogênica. "Nesse estudo avaliamos pacientes que têm lesões no cérebro causadas por essa doença, e notamos que eles apresentam alterações cognitivas, ou seja, velocidade de pensamento, capacidade de tomar decisões prejudicadas e até mesmo quadro de demência", explica o médico.
Segundo Andrade, o motivo destas mudanças são lesões localizadas em regiões do cérebro importantes para a memória. Outro resultado obtido foi que, comparado com grupo portador de epilepsia, os pacientes com neurocisticercose demonstraram significativas alteração nas funções executivas, fluência verbal, praxia construtiva e orientação visual-espacial. A pesquisa, publicada na revista Neurology, constatou também que os pacientes contaminados pela larva apresentaram quadros depressivos.
O tratamento atual para estes casos é feito com medicações que matam o verme, mas nem todos os pacientes podem utilizar estes recursos. "Muitas vezes, nem podemos matar o verme, então administramos medicações para diminuir a inflamação ou para combater crises convulsivas, que são muito comuns nos doentes." O médico explica também que nunca se estudou cientificamente qual seria o melhor tratamento para os quadros demenciais, e que não se sabe, por exemplo, se remédios para a doença de Alzheimer poderiam funcionar para essa doença. "Esse último estudo só caracterizou esse quadro, mas nunca se testou medicações específicas para o tratamento."
A melhor forma de combater a larva e em consequência prevenir a neurocisticercose é cuidar da higiene das pessoas que preparam os alimentos. "Quem contraiu a larva apresenta infecção intestinal. Se elas forem preparar um alimento e contaminá-los com fezes infectadas, quem provar dessa comida pode contrair a neurocisticercose."
A nutricionista Anália Bar-houch ensina que a carne suína deve ser consumida muito bem passada ou cozida, evitando, desta forma, uma possível contaminação por Taenia solium. "Também é importante ressaltar que a compra da carne deve ser proveniente de abate inspecionado, o que garante se está apta ou não para a alimentação." Segundo Anália, a carne bovina também deve seguir os mesmos procedimentos, pois não está livre de contaminação, mesmo sendo mais rara.