Chuva destrói vão de ponte e causa mortes

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As chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul na madrugada de segunda-feira e, com ainda mais força, na noite e na madrugada de ontem, novamente causaram dor e sofrimento no Estado. Segundo a Defesa Civil, 36 municípios gaúchos foram atingidos pela chuva ou cheia de rios. Desde domingo, quatro pessoas morreram em decorrência das chuvas em Caxias do Sul, Espumoso, Faxinal do Soturno e Candelária. Pelo menos oito estradas gaúchas tinham trechos interditados ou bloqueados parcialmente na noite de ontem. Durante a tarde, a Defesa Civil do Estado registrava 343 desabrigados, 808 desalojados, 21 casas destruídas e 644 residências danificadas.

A queda da ponte que liga os municípios de Santa Maria e Santa Cruz do Sul, na rodovia RSC-287, na altura do município de Agudo, no Centro do Rio Grande do Sul, atingiu 30 pessoas, conforme o Corpo de Bombeiros de Agudo. Onze pessoas foram resgatadas. De acordo com o comando da Brigada Militar, a forte correnteza do rio Jacuí dificulta muito os trabalhos de resgate. Pelo menos 20 pessoas estavam desaparecidas. As vítimas estavam aglomeradas sobre a ponte para ver o grande volume de águas e a forte correnteza do rio Jacuí. No fim da tarde de ontem, o comandante-geral da Brigada Militar, coronel João Carlos Trindade, desmentiu a informação de que o vice-prefeito de Agudo, Hilberto Boeck, tivesse sido resgatado. No momento do acidente, Boeck, que também é coordenador da Defesa Civil municipal, estava sobre a ponte fazendo fotos do volume e da força da água do rio.

A construção, de 314 metros de extensão, cedeu por volta das 9h15min, em uma de suas cabeceiras, devido à forte correnteza que danificou seus pilares. O trecho que cedeu tem em torno de 100 metros. Além das pessoas, dois carros caíram no rio. Os resgatados foram encaminhados para o hospital de Agudo com ferimentos leves. De acordo com os bombeiros, o caso mais grave é o de um homem que fraturou um braço e uma perna. As buscas permanecem no local e são feitas pelos bombeiros de Agudo e de Santa Maria, além de homens da Defesa Civil e da Aeronáutica. Quatro helicópteros, oito barcos e cerca de 55 homens trabalham na operação de resgate aos desaparecidos. Pescadores da região também auxiliam com embarcações.

O número de mortos só será confirmado quando os corpos forem resgatados. A Brigada Militar de Agudo corrigiu a informação inicial de que sete pessoas haviam morrido. A Base Aérea de Santa Maria também havia confirmado o número, mas voltou atrás. "A área das buscas é bastante extensa e abrange municípios vizinhos a Agudo. A área próxima à ponte é formada por plantações de arroz e o rio chegou a invadir um quilômetro em cada margem", disse o coronel Fernando Miranda, da Base Aérea. "A correnteza é muito forte e estamos com dificuldade de resgatar as pessoas com barco. A situação é muito difícil", avaliou o prefeito de Agudo, Ari Anunciação.

"Ficamos em cima da ponte, olhando a água que estava passando, que era violenta. Estávamos quase na cabeceira quando escutamos o estrondo e fomos levados para dentro d'água", contou o agricultor Márcio Ricardo, de 37 anos, um dos que foram salvos. Ricardo disse que a ponte caiu de vez, do meio para a cabeceira, surpreendendo a ele e a um vizinho, que já estavam na cabeceira, a cerca de dois metros do fim da ponte.

O agricultor afirmou que afundou duas vezes na correnteza, mas conseguiu nadar e se agarrar a uma árvore. Um barco o salvou. O colega dele também foi resgatado. Para o sobrevivente, é difícil saber quantas pessoas estavam em cima da ponte quando ela ruiu. "Eu e meu vizinho nascemos de novo. Temos de agradecer a Deus", afirmou.

Segundo Menardino Weber, tenente do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, antes do acidente, a água do rio não chegou a invadir as pistas. "Parte da ponte caiu, um vão dela, e curiosos foram para a ponte ver o que estava acontecendo. Aí outra parte dela caiu", destacou o tenente.

Em Lajeado, um homem passou 15 horas em cima de uma árvore, depois que um rio subiu e alagou um camping. Ele só foi resgatado pelos bombeiros na manhã de ontem. O homem de Lajeado não foi o único a se refugiar em árvores. No município de Marques de Souza, dezenas de pessoas subiram em árvores e telhados para escapar da cheia do rio Forqueta, que corta a cidade. Entre as vítimas resgatadas estava uma grávida de sete meses. Seis casas no Centro da cidade ficaram submersas.

A governadora Yeda Crusius liberou emergencialmente R$ 500 mil para cada município atingido certificado pela Defesa Civil. A governadora levantou a possibilidade da instalação de uma ponte do Exército para substituir temporariamente a estrutura que desabou. "Se for possível, será colocada", afirmou. De acordo com Yeda, os prefeitos são orientados pela Defesa Civil para fazer rapidamente um relatório sobre os danos causados pelas chuvas. "Não podemos esperar por burocracia", salientou a governadora. A construção da ponte que caiu foi concluída em 1963.

União vai repassar R$ 2 milhões para oito municípios gaúchos

O Ministério da Integração Nacional reconheceu situação de emergência e autorizou o repasse de mais de R$ 2 milhões a oito municípios gaúchos e também para a cidade de Matelândia, no Paraná, que receberá R$ 550 mil. As portarias foram publicadas ontem no Diário Oficial da União.

Os recursos vão custear obras de restauração, principalmente de estradas destruídas por enchentes e inundações. Além de Matelândia, os oito municípios gaúchos terão prazo de seis meses para a realização dos serviços.

Entre as cidades do Rio Grande do Sul, Espumoso vai receber a verba mais elevada: R$ 1,4 milhão. Para Feliz, foram liberados mais de R$ 341,7 mil. Mato Queimado receberá pouco mais de R$ 182,5 mil, e Novo Tiradentes, R$ 150 mil. A lista prossegue com Dom Pedrito (R$ 180 mil), Fontoura Xavier (R$ 120 mil), Seberi (R$ 102.660,00) e Derrubadas (R$ 100 mil).