O empreendedorismo nas periferias foi tema de destaque no último fim de semana, com a realização da ExpoFavela Rio Grande do Sul. O evento, que ocorreu entre sexta (7) e sábado (8), na Fábrica Guayba, um dos espaços do Instituto Caldeira, reuniu expositores gaúchos, que apresentaram seus negócios que buscam viabilidade.
Com ênfase na cultura afrodescendente e com o intuito de atingir a comunidade a partir de uma dor pessoal ou coletiva, como explicaram algumas empreendedoras no local, a feira contou com negócios de estética, moda, cultura, gestão profissional, esportes, entre outros.
O GeraçãoE esteve presente na ExpoFavela, e reuniu cinco empreendimentos com origem na periferia e que se destacam pela inovação e criatividade.
1. CT Carla Silva
Fundado em 2013 pela lutadora de boxe Carla Silva (@ctcarlasilva), em Esteio, o centro de treinamento que leva o nome da atleta é voltado a mulheres que se sentem indefesas e buscam não só um meio para se proteger, mas também um lugar para cuidar da saúde mental. Carla já participou das outras edições do evento na Capital e conseguiu novas alunas. Neste ano, seu estande conta com camisetas estampadas com personalidades negras, muitas com luvas de boxe.
"Meu trabalho é pensando na saúde mental dessas mulheres. Para que elas consigam se defender e sair de algumas situações abusivas. Muitas delas entram no boxe pensando que vão brigar com o agressor. Mas na verdade elas se fortalecem tanto que conseguem sair daquele relacionamento ou daquela situação. É uma rede de apoio e acolhimento, na qual elas conseguem ver outras mulheres que já saíram daquela situação e conseguem se fortalecer. Esse é o trabalho do box: fortalecimento", destaca Carla.
2. Madu RH
“Negra de pele clara” é como se descreve Thais Altieri, gerente de recursos humanos e fundadora da Madu RH (@rh_madu). Ela revela que por anos não se sentia pertencente aos grupos que participava, já que não se identificava como negra nem como branca. Foi a partir dessa jornada de autoconhecimento que ela criou sua empresa em fevereiro de 2024, para promover diversidade e inovação nas empresas, por meio de pessoas que, assim como ela, muitas vezes vivenciam esse “não lugar”. O nome da empresa, “Madu”, significa humano em Igbo, um dialeto africano, explica a empreendedora.
"Percebia que as pessoas de fato não tinham oportunidade porque as portas eram fechadas antes de chegarem naqueles espaços. Trabalho com RH há 15 anos e a Madu veio com a ideia de poder trazer essas pessoas qualificadas para as empresas de uma forma estratégica", conta Thais.
3. Coletivo Kindezi
O coletivo (@coletivo_kindezi) rabalha com literatura afro-pindorâmica, conforme relata uma de suas fundadoras, Rose Diaz. Com livros infantis, traz protagonismo para negros e indígenas em “uma história que a escola não conta”, opina a fundadora. O movimento surgiu em 2017 e se fortaleceu na pandemia. A presença nas feiras e exposições é resistência, já que os livros não fazem o sucesso desejado nas vendas, afirma Rose.
"Esse trabalho vai fazer parte de uma transformação para um mundo com equidade, e não mais igualdade. Esse é o nosso foco. Trabalhar com literatura e materiais afro referenciados e indígenas, levando para onde for necessário o conteúdo para que tenhamos a mudança de fato na sociedade", completa.
Coletivo Kindezi busca trazer protagonismo para histórias afropindorâmicas
Cássio Fonseca/Especial/JC
4. Escritório de Rimoterapia
Estúdio de produção criativa da cultura hip-hop, o escritório (@escritorioderimoterapia) produz artistas periféricos na música e na literatura. O idealizador do projeto, Daniel Couto, comenta que o intuito é levar a literatura para a periferia e atuar em projetos sociais que expandam a cultura hip-hop.
"Dentro disso tudo englobei mais de 50 artistas, seis escritores, projetos paralelos como o slam nas escolas, as batalhas de rima, as oficinas, as palestras e os shows. Então foi dentro desse contexto que o escritório cresceu e hoje nós somos oito pessoas trabalhando na produção tanto editorial quanto musical", celebra o artista e empreendedor.
5. Atliê NêgaNagô
Criado em Caxias do Sul em 2015, o NêgaNagô (@neganago_i) passou a ter uma sede fixa neste ano. Antes, as peças que remetem à cultura africana eram confeccionadas em casa, conta a criadora do empreendimento, Jaqueline Daudi, que começou a caminhada ao lado da mãe, falecida em 2017. Ela comemora a expansão do negócio, rico em cores vibrantes que celebram ancestralidade, e entende que a presença em exposições na Capital é importante para abrir as portas de um novo mercado, já que vê a Serra como resistente ao estilo da empreitada.
"Tenho também uma ideia de que o meu trabalho não é só moda. Ele também é uma identidade, é uma forma de fazer política. Quando vestimos uma peça afrocentrada nós falamos para o mundo que temos identidade e que não necessitamos nos vestirmos e nos portarmos de forma eurocentrada pra sermos vistos", enfatiza Jaqueline.
Ateliê NêgaNagô foi fundado em Caxias do Sul há dez anos
Cássio Fonseca/Especial/JC

