Mauro Belo Schneider

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Editor-executivo

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Negócios

Dona da Juro de Dedinho conta como superou crise após ação da Vigilância Sanitária

Paola Parmigiani reforça que lojas fecharam por opção, e não por determinação do órgão
Paola Parmigiani, 27 anos, viveu em 2025 um dos momentos mais desafiadores de sua trajetória empreendedora. Durante uma fiscalização da Vigilância Sanitária, vazou a foto de sua marca, a Juro de Dedinho. Em seguida, as redes sociais e a imprensa foram inundadas com notícias, que Paola desmente, de que sua linha continha glúten e alimentos vencidos - contrariando o propósito do negócio. 
Paola Parmigiani, 27 anos, viveu em 2025 um dos momentos mais desafiadores de sua trajetória empreendedora. Durante uma fiscalização da Vigilância Sanitária, vazou a foto de sua marca, a Juro de Dedinho. Em seguida, as redes sociais e a imprensa foram inundadas com notícias, que Paola desmente, de que sua linha continha glúten e alimentos vencidos - contrariando o propósito do negócio. 
A reação de Paola foi imediata. Ela investiu cerca de R$ 200 mil para fazer as adaptações sugeridas e fechou as lojas temporariamente para preservar os funcionários. Mesmo assustada, tinha muita vontade de dar a volta por cima devido ao senso de responsabilidade pelos 30 funcionários que emprega entre a fábrica e os quatro pontos de venda nos shoppings, a maioria mulheres, mães solos, como conta Paola. 
A empreendedora lembra que foi cobrada como se fosse uma grande indústria, e não uma doceria, como até então era classificada. Apesar do trauma, ressalta que aprendeu lições com o episódio e acredita que a cobrança foi mais forte por ser mulher. Uma das polêmicas mencionadas por internautas foi o fato de ela usar suco em pó Clight nas receitas, embora siga o conceito de marca saudável. Ela reconhece isso e garante que agora só adiciona extrato de frutas. 
Outra mudança é que sua cozinha, no bairro São João, em Porto Alegre, passou a contar com câmeras e são realizadas simulações de visitas de fiscais constantemente. Além disso, a empreendedora fez um curso com uma associação de celíacos para evitar qualquer contaminação por glúten. Paola se sente pronta para retomar os números de antes do fato, em maio, que continuam 20% abaixo do comparado ao período pré-crise gerada pela fiscalização. 
GeraçãoE - Por que você resolveu falar sobre o assunto agora?
Paola Parmigiani - Porque, na realidade, a gente nunca teve nada a esconder. Pelo contrário, sempre foi uma vontade nossa poder falar, sempre respeitando os órgãos públicos. Desde que tudo aconteceu, nunca foi no meu intuito falar: "olha, eles não estão fazendo o trabalho deles". Eu nunca questionei nada. Mas, muitas vezes, o empreendedor é tido como vilão, as pessoas pensam “ele está fazendo alguma coisa errada”. E eu acho que o peso que um erro de uma mulher tem é bem diferente do erro que um homem teria se fizesse a mesma coisa. Por eu ser jovem, ter cara de patricinha, teve gente que pensou: "ah, essa guria aí deve ter tido tudo de mão beijada". Então, veio um ódio que não tinha precedentes.
GE - Qual foi sua reação?
Paola - A gente identificou, claro, que poderia melhorar como empresa, que poderia se desenvolver mais, mas a gente já estava investindo em responsável técnica (RT), engenheiro de alimentos. Estávamos fazendo todas as mudanças, só que um pedido mínimo de rótulos, por exemplo, é 10 mil unidades. Então, estávamos fazendo aos pouquinhos. E depois, lógico, fomos estudar mais a fundo. Fiz um curso de boas práticas para cozinhas celíacas, inclusive com uma fiscal da vigilância sanitária. 
GE - De onde surgiu a denúncia?
Paola - Ela foi infundada, falsa. O movimento foi de uma concorrência. Independentemente, houve uma fiscalização que nos ensinou muito, mas trouxe também muitos prejuízos. Principalmente porque foi dito, na mídia, muitas inverdades. A Juro de Dedinho nunca teve açúcar, nunca teve glúten, nunca teve lactose. O que aconteceu foi algo pontual que, de alguma forma, foi induzido em fotos. 
GE - Por que decidiu fechar as lojas, então?
Paola - Fechamos por opção. Foi dito que a Juro foi fechada pela Vigilância Sanitária. Nós nunca fomos interditados. Eles saíram daqui falando: "podem continuar vendendo". Só que eu falei: "gente, eu não vou continuar vendendo. Preciso entender o que está acontecendo. Tenho a responsabilidade de fechar a minha loja". Hoje não sei se essa foi a decisão certa. Me questiono.
GE - Por quê?
Paola - Porque eu acho que agi por responsabilidade, cuidando tanto que não pensei no prejuízo para a marca. Eu pensei só no meu cliente. A Juro fechou porque quis, porque ela justamente estava pensando no consumidor. Não ia reabrir sem laudo. Refiz os rótulos em 24 horas. Quando estava tudo certinho, aí eu disse: "beleza, agora vamos reabrir". 
GE - Tu podes relembrar os detalhes da denúncia?
Paola - A vigilância trouxe que havia um insumo com glúten dentro da cozinha. Nós testamos esse insumo e não tinha glúten. Só que até esses laudos saírem, foi bastante tempo. Era um produto perecível, então a validade é muito curta. E aí, como que manda, por exemplo, para um laboratório em Minas Gerais? Foi para onde eles mandaram o nosso bolo. Um bolo de cenoura. Em que estado que vai chegar? Como é que vou ter direito à contraprova? E aí já estava tudo na mídia. 
GE - Acha que isso vai atrapalhar tua trajetória empreendedora?
Paola - Eu comecei a empreender quando tinha 18 anos. Comecei a empreender na cozinha da minha avó. Tipo assim, não sou essa pessoa que pintaram, sabe? E ninguém queria me ouvir. Eu demorei 20 dias para falar, porque eu queria que as pessoas estivessem prontas, pelo menos o meu público, para ouvir. Querendo ou não, o hate na internet faz muito barulho. Mas não necessariamente eles são maioria. Graças a Deus, a comunidade de clientes é muito fiel, torciam por nós, pediam a nossa volta. 
Paola acredita que julgamento foi mais pesado por ser mulher | DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
Paola acredita que julgamento foi mais pesado por ser mulher DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
GE - Mas tu reconheces que tinha alguma coisa errada ou realmente não tinha nada errado? 
Paola - Tinham processos a serem melhorados, mas não havia açúcar, nem glúten e lactose. A gente colocou lupinha nos rótulos e não tinha o nosso endereço. A doceria da esquina não tem que ter, mas como eles entenderam que eu era indústria, eu tinha que ter. Fui tratada como uma Nestlé, tendo que ter as mesmas regras. Só que eu não tinha esse investimento para fazer, tive que fazer de uma hora para outra. 
GE - E tu falaste que o tratamento tem a ver com o fato também de tu seres mulher e provavelmente com o fato de tu teres crescido muito…
Paola - Na minha ingenuidade, achava que, para empreender, bastava ter coragem, determinação e um pouquinho de cara de pau. Hoje eu entendo, não sou tão inocente assim. Existem pessoas que vão querer puxar teu tapete para que tu caia porque tu te destacou [sic]. Eu fui muito questionada da minha capacidade. 
GE - Acha que teve exagero nos julgamentos?
Paola - Hoje, com TikTok, rede social, o erro não é tão admissível assim. 
GE - O que aconteceu depois de superada a crise?
Paola - A gente abriu uma nova unidade em Canoas, depois que tudo aconteceu. E a gente não fez nenhum fechamento, não tive nenhum desligamento. Estamos com quatro unidades próprias, uma em São Paulo e três em Porto Alegre. 
GE - Como tudo isso afetou teu faturamento?
Paola - Nos primeiros meses, muito, em torno de 50% a 70%, o que foi muito assustador. Uma empresa que tu leva 5 anos para construir, um episódio pode derrubar. E eu acredito que, para superar a crise, tu tens que genuinamente se importar. Tu tens que realmente falar: "eu me importo com o que está acontecendo". E, desde o primeiro minuto, me importei com o que estava acontecendo. 
GE - Muitas pessoas falaram nos comentários que haviam comprado o produto e passado mal. 
Paola - A Juro de Dedinho, assim como todas as docerias que não têm açúcar, utiliza adoçante. Adoçantes podem causar efeito laxativo. Então, a pessoa que tem mais sensibilidade pode ter dor de barriga, pode ficar um pouco inchada, mas isso acontece com qualquer adoçante. E escutando, tiramos de pelo menos uma linha de produtos. E agora temos o pudim, por exemplo, de 36 calorias e sem nada. A gente foi fazendo mudanças também a partir disso e o faturamento consequentemente foi melhorando. Então, agora, já estamos 20% a menos do que a gente fazia, mas já muito mais perto do que antes. 
Pudim de 36 calorias é novidade da marca | DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
Pudim de 36 calorias é novidade da marca DANI BARCELLOS/ESPECIAL/JC
GE - Como enxerga o futuro?
Paola - Sinto que a Juro não é mais adolescente. É como se a gente tivesse passado dessa fase, quando se permitia, de alguma forma, se experimentar. Agora o jogo é mais maduro, assim como a vida adulta. 
GE - E o que tem a comentar sobre a polêmica do uso de suco em pó Clight?
Paola - Ter colocado Clight na trufa de maracujá foi como se eu tivesse cometido o pecado do século. E era Clight zero, sem açúcar. Poderia ser melhor? Poderia. Mas eu juro por Deus, na minha ingenuidade, que não sabia que algo zero ia incomodar tanto. Mas, se meu cliente falou que incomoda, a gente vai trocar. 
GE - Então tu não usa mais Clight?
Paola - Não. Nem em casa eu tomo mais. Agora a gente usa extrato de maracujá.
 
 
 
 
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