O Brasil reúne 47 milhões de empreendedores potenciais, grupo formado por pessoas que têm o desejo de empreender nos próximos três anos. Os dados fazem parte do relatório Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2024, realizado pelo Sebrae em parceria com a Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe). O cenário mostra que comandar o próprio negócio e dar início à jornada empreendedora faz parte do sonho de muitos brasileiros. No mês marcado pelo Dia do Empreendedor, celebrado no Brasil em 5 de outubro, confira o passo a passo para dar start no empreendedorismo.
1. Como construir a ideia do negócio
O desejo de empreender, normalmente, surge a partir da percepção de uma necessidade que pode ser atendida por meio de um produto ou serviço. Mas transformar uma ideia em negócio e andar a primeira casa no tabuleiro do empreendedorismo pode ser desafiador. Kátia Boeira, analista de projetos do Sebrae-RS, esclarece que entender a viabilidade do negócio é fundamental. "Primeiro passo é transformar a ideia em negócio. Podemos traduzir isso entendendo se existe cliente interessado no produto ou serviço que o futuro empreendedor está pensando, qual o diferencial e entendendo a viabilidade do negócio", pontua. Para auxiliar nesse processo, a dica da especialista é construir um plano de negócio, que vai ajudar a entender a sustentabilidade daquele projeto. "Sonhar é lindo, mas tem que saber como efetivamente isso se transforma em um negócio, porque é muito fácil se transformar em uma frustração."
2. Como definir se o negócio será físico ou digital
Na hora de começar um negócio, é preciso entender o canal ideal de atuação. Um negócio de gastronomia, por exemplo, pode optar por iniciar apenas como delivery, operando a partir de uma dark kitchen. Em contrapartida, há quem aposte no contato olho no olho com o cliente para consolidar o negócio. No entanto, Kátia alerta que, hoje, mesmo que a aposta seja em um espaço físico, a presença digital é indiscutível. "O digital é inerente a qualquer negócio hoje em dia. A presença digital precisa ser uma constante em qualquer empresa", afirma a especialista. Para negócios que terão um ponto físico, escolher a localização onde a empresa vai estar alocada exige atenção. "Se o negócio precisa de um espaço físico, é importante entender alguns pontos: como é o ponto comercial, se tem fluxo de pessoas, quais os custos, se é acessível ou não. Mas independente de ter um espaço físico, essa empresa precisa ter uma presença digital, porque o cliente vai estar em todos os canais. Ele vai pesquisar no físico, comprar no online, e a empresa tem que estar preparada para atender em todos os canais", afirma Kátia.
3. Como formalizar a empresa
Formalizar a empresa é um passo fundamental do início da trajetória empreendedora. Entender qual o porte da empresa e qual a forma correta de formalizá-la deve estar na agenda do futuro empreendedor. "A formalização traz segurança para o empreendedor e para o cliente, porque a empresa vai ter um CNPJ, vai emitir nota fiscal, pode acessar linhas de crédito e até participar de licitações", explica Kátia, destacando a negociação com fornecedores como outro ponto favorável a formalização. "Sempre indico que entenda como funciona o MEI para ver se pode começar por ali, porque é simples, um processo ágil. É muito rápida a formalização. Em minutos, consegue ter um CNPJ. Se tiver um sócio, não vai poder ser MEI, então tem que entender se vai abrir uma micro ou pequena empresa (MPEs). Isso vai ser definido através do faturamento", indica. A receita anual do MEI é igual ou inferior a R$ 81 mil - no entanto, está em análise na Câmara dos Deputados projeto de lei que prevê aumentar esse valor para R$ 150 mil. O faturamento da microempresa é igual ou inferior a R$ 360 mil e a empresa de pequeno porte tem receita anual superior a R$ 360 mil e inferior a R$ 4,8 milhões. A especialista indica procurar um serviço contábil que orientará a forma correta de formalizar as MPEs. "O Sebrae tem as Salas do Empreendedor, que normalmente ficam nas prefeituras, que podem dar todo o auxílio necessário para formalizar como MEI ou direcionar para outros serviços quando for necessário."
4. Buscar investimento ou linha de crédito
A busca por investimento faz parte da largada de muitos negócios, seja através de linhas de crédito bancárias, seja por investidores anjo e outros formatos. Para essa etapa, Kátia ressalta novamente a importância de ter um plano de negócio, pois, desta forma, o empreendedor conseguirá entender, de forma clara, as necessidades do negócio. "É uma engrenagem, porque a formalização passa por isso. Quando vou precisar de um crédito bancário para iniciar um negócio ou para investir mais no meu negócio que já existe, eu preciso ter um histórico, e eu só tenho quando consigo emitir notas e entender o faturamento que tenho", destaca. No Rio Grande do Sul, segundo levantamento do Sebrae-RS realizado entre maio e junho de 2025, dos 28% de empreendedores que buscaram acesso à crédito, 44% realizou para compra de estoque e matéria prima, 42% para pagamento de dívidas, 20% para reformas e 14% para compra de equipamentos.
5. Como consolidar a cultura da empresa
Na hora de criar um negócio, estabelecer os valores e a missão da empresa são pilares fundamentais para que a cultura daquela organização transpareça para os clientes, criando uma conexão sólida, e engaje colaboradores no futuro. "Quando falamos em cultura, parece que é distante do pequeno empreendedor e só serve para uma empresa de grande porte, mas não é. É a identidade do negócio. A cultura vai mostrar por que o cliente vai escolher uma empresa e não a da concorrência, e isso passa por ter a missão e o propósito do negócio. Traduzindo de uma forma simples, são as atitudes que essa empresa não abre mão no seu dia a dia", explica Kátia, ressaltando que a cultura fará parte da rotina do negócio. "Empreendedor termina com a palavra dor, tem a missão de resolver um problema. Então, o que eu resolvo para o meu cliente e como faço isso acontece através dos valores." A cultura da empresa deve ser construída em negócios que surgiram a partir de oportunidade e também naqueles que nasceram da necessidade. De toda forma, é preciso entender a razão de ter escolhido aquele segmento para conhecer a empresa. "Ser empreendedor é uma profissão. E como qualquer outra profissão que as pessoas escolhem, é preciso se profissionalizar. O empreendedor não tem uma faculdade específica, mas ele precisa entender e se profissionalizar para que o negócio dê certo, e isso para pela própria identidade do negócio. Ser empreendedor é uma escolha, e é preciso estudar para ser um profissional melhor", aconselha.
6. Importância do marketing digital
Depois de construir a ideia do negócio e estabelecer a cultura da empresa, é preciso comunicar esses pilares. O marketing digital é um aliado dos empreendedores à frente de negócios de todos os portes. Segundo levantamento do Sebrae, entre 51 países, o empreendedor brasileiro é o que mais considera importante o uso de redes sociais (89%) e ferramentas de análise de dados (71%) para o próprio negócio. No entanto, dar esse passo pode ser desafiador para quem recém andou as primeiras casas no empreendedorismo. A dica da analista de projetos do Sebrae-RS é começar com foco, e não tentando atender todas as frentes. "Para quem está começando, o digital é imenso. Instagram, site próprio, marketplace, vários canais. Sugiro que comece por um canal, que é onde o cliente dele está mais presente", indica a especialista, que faz um alerta: "tem algo muito simples e muito importante que é o Google Meu Negócio, e muitas vezes o empreendedor negligencia esses canais digitais que são muito acessíveis e vão dar mais visibilidade para o negócio".

