Novas tecnologias auxiliam a padronizar processos e ganham força no setor do franchising

Em busca de agilizar processos, franquias adotam estratégias de IA


Novas tecnologias auxiliam a padronizar processos e ganham força no setor do franchising

Em meio a um mundo cada vez mais digital, ágil e conectado, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma tendência futurista para se tornar uma ferramenta indispensável no dia a dia dos negócios. Seja para otimizar processos ou reduzir custos, a IA se consolida como peça-chave no empreendedorismo.
Em meio a um mundo cada vez mais digital, ágil e conectado, a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma tendência futurista para se tornar uma ferramenta indispensável no dia a dia dos negócios. Seja para otimizar processos ou reduzir custos, a IA se consolida como peça-chave no empreendedorismo.
No ambiente das franquias, a chegada da nova tecnologia ganha ainda mais força, principalmente pelo auxílio na padronização de processos, fundamental para garantir maior eficiência e sustentabilidade do modelo. Foi buscando oferecer aos seus franqueados um caminho mais assertivo que o Grupo Villela, rede gaúcha especializada em gestão empresarial, criou a própria IA.
O grande destaque da empresa é o aplicativo desenvolvido especialmente para os franqueados, lançado durante a pandemia, quando o atendimento presencial ficou comprometido. "O aplicativo serve como um CRM, para acompanhar o funil de vendas, as visitas, as métricas, mas, principalmente, para que ele consiga se conectar com os clientes potenciais", explica Gabriella Battisti, sócia do Grupo Villela.
A Inteligência Artificial do sistema permite que o franqueado não precise realizar prospecção ativa, processo que, antes da tecnologia, significava semanas de trabalho, deslocamento físico, consultas na Receita Federal e mais uma série de pesquisas.
"Antes, pesquisar o mercado significava bater na porta do empresário, pegar informações na Receita, fazer uma série de consultas. Hoje, isso leva menos de um minuto", destaca Maurício Bendel, vice-presidente e sócio da rede.
Basta selecionar uma região no aplicativo, e o próprio sistema gera uma lista de empresas que se encaixam no perfil da solução oferecida pela rede. O franqueado também consegue ter acesso a informações completas como dados cadastrais, faturamento, número de funcionários, existência de grupo econômico, valor de dívidas tributárias e até um diagnóstico financeiro da empresa. "Tudo isso é informação pública, mas agora reunidas em um só lugar, sem precisar ficar correndo atrás", acrescenta Gabriella.
Outro destaque do grupo é o Villela Prospect, ferramenta integrada que conecta o franqueado diretamente aos potenciais clientes. Assim que ele escolhe uma empresa na lista gerada, o sistema automaticamente dispara uma ligação, disponibilizando na tela todos os dados necessários para o atendimento e até o roteiro da conversa. "A IA trabalha com a gente, não é contra a gente. Ela serve para que a gente consiga fazer mais. Antes fazíamos uma reunião em um dia, hoje conseguimos fazer 15", compara.
Os sócios ressaltam que a tecnologia não substitui o trabalho humano, mas o potencializa. "Toda a parte burocrática que pode ser substituída pela IA, a gente substitui. Mas o fechamento, a explicação do diagnóstico financeiro, a apresentação do que será feito, depende exclusivamente da gente", afirma Gabriella.
O investimento inicial da franquia é de R$ 50 mil, mas a rede oferece modelos flexíveis para novos franqueados, incluindo a possibilidade de ter o valor financiado. "Se acreditamos muito no franqueado, ele pode entrar sem pagar nada inicialmente. Ao invés de ele pagar uma taxa, ele paga os royalties por um período, e depois está livre. Isso fortalece muito a parceria", acredita Maurício.
 

Rede de ensino integra a tecnologia em diferentes segmentos

A Inteligência Artificial já faz parte da operação e da metodologia de ensino do Grupo MoveEdu, rede de educação profissional com 21 anos de atuação no País. O grupo, que reúne as marcas Microlins, Ensina Mais Turma da Mônica e Prepara IA - novo nome da rede -, tem investido na integração da tecnologia tanto nas salas de aula quanto nos processos administrativos.
"Nossa proposta com a Prepara IA é levar a Inteligência Artificial para a base da pirâmide no Brasil", afirma André Gabriel, gerente de expansão da MoveEdu. A nova marca foi lançada oficialmente durante a 32ª ABF Franchising Expo, em São Paulo, e é uma remodelação da Prepara Cursos, que já atuava desde o início da rede.
A principal mudança está na metodologia, afirma André. A IA foi incorporada à parte prática dos cursos profissionalizantes, e ao invés de executar tarefas tradicionais manualmente, os alunos aprendem a utilizar ferramentas de IA no próprio processo de aprendizado. "No Excel, por exemplo, em vez de memorizar fórmulas complexas, o aluno aprende a criar prompts para que a IA entregue o resultado. No marketing, aprende a gerar descrições e títulos otimizados para campanhas online. Na logística, usa a IA para simular cálculos de estoque mínimo com base em dados reais", explica.
Além do uso nas aulas, a IA está presente nos processos comerciais e operacionais da franqueadora. Na área de expansão, a empresa desenvolveu um sistema para acompanhar reuniões dos consultores, gerar resumos, insights e até validar se os protocolos de atendimento foram cumpridos. "O objetivo é reduzir o tempo gasto em tarefas operacionais e tornar o processo mais eficiente", afirma. Segundo André, esse movimento não substitui o trabalho humano, mas exige que os profissionais desenvolvam novas competências. "Quem não dominar essa tecnologia terá mais dificuldade de se manter no mercado", considera.
O grupo MoveEdu surgiu em 2017, após a aquisição da Microlins, rede fundada há 34 anos, que depois se somou à Prepara e à Ensina Mais Turma da Mônica. Desde 2022, as marcas também têm ensino técnico, graduação e pós-graduação, além dos cursos profissionalizantes e de idiomas. As franquias da Ensina Mais Turma da Mônica tem investimento a partir de R$ 130 mil, enquanto as da Prepara IA exigem aporte médio de R$ 250 mil. Já as franquias da Microlins, R$ 350 mil.
"O uso da IA vem se tornando uma competência básica. Nosso papel como empresa de educação é preparar os alunos para esse cenário, além de aplicar a tecnologia na gestão do negócio", reforça.

Escola de idiomas utiliza Inteligência Artificial na metodologia educacional e prevê expansão

A Rockfeller Language Center, rede de escolas de idiomas com mais de 100 operações no País, incorporou a IA tanto na metodologia de ensino quanto na gestão das franquias. André Belz, sócio fundador da marca, orgulha-se de ter sido pioneiro no processo.
"Nós nos posicionamos como a primeira rede de ensino de idiomas que aplicou de fato Inteligência Artificial na metodologia", afirma. O recurso, segundo André, faz parte de um processo que começou com a digitalização das aulas e serviços, e hoje atua como uma ferramenta complementar às aulas presenciais.
O modelo de ensino da rede é baseado na interação em pequenos grupos, com atividades presenciais que simulam situações de conversação. "A IA conversa como se fosse um colega ou o professor. E não só conversa, mas avalia se a pronúncia está correta, se não está, e explica como corrigir", complementa. O sistema permite que os alunos pratiquem diálogos fora da sala de aula, recebam correções de pronúncia, orientações gramaticais e acompanhamento de desempenho.
André destaca que, por se tratar de uma escola de idiomas, o contato presencial segue sendo parte central do processo de aprendizagem. "O contato humano é insubstituível. Aprender um idioma tem tudo a ver com interação social. A IA não vem para substituir isso, ela vem para potencializar", afirma.
Além da aplicação no ensino, a IA foi incorporada à gestão administrativa das unidades, tanto na operação da franqueadora quanto nas franquias.
A Rockfeller também tem investido em um modelo de expansão voltado para cidades menores, com unidades de menor porte e investimento reduzido. As chamadas microfranquias demandam aporte inicial entre R$ 90 mil e R$ 120 mil, enquanto as unidades tradicionais têm investimento a partir de R$ 300 mil.
As microfranquias seguem a mesma metodologia das unidades maiores, com uso das ferramentas digitais e da Inteligência Artificial. Atualmente, cerca de seis unidades operam nesse formato. A meta da empresa é abrir 50 novas franquias até o fim deste ano. De acordo com o fundador, o público-alvo desse modelo são principalmente professores de inglês que já atuam na área e sonham em abrir o próprio negócio. "Muitos professores têm esse desejo, mas não conseguiam investir R$ 300 mil, R$ 400 mil em uma escola tradicional. Com esse modelo menor, isso se torna possível", garante.

Como usar a IA nos negócios de uma forma segura

Confira três orientações de Elaine Coimbra, palestrante, professora de IA e vice-presidente de comunicação e marketing da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria), sobre como usar a IA de forma segura e eficiente nos negócios.
1. IA só funciona com dados organizados
"O maior erro é acreditar que a IA pensa. Ela não pensa, ela repete padrões", afirma Elaine. Se os dados estão desorganizados ou mal estruturados, o resultado será uma máquina errando com convicção, descreve a especialista. Antes de qualquer automação, é preciso organizar a base de dados e ter clareza sobre como a tecnologia pode ajudar o seu negócio.
2. IA não é substituta, é copiloto
A Inteligência Artificial não opera sozinha. Ela pode gerar erros e comprometer a reputação da empresa se não houver supervisão humana, alerta Elaine. "A IA precisa de um humano no loop. Ela cuida do repetitivo, mas quem faz o que tem alto impacto, o que exige julgamento e senso crítico, continua sendo gente. A IA não substitui profissionais qualificados. Ela empodera, amplia e potencializa quem sabe usá-la, mas também expõe quem estava no piloto automático".
3. Negar não adia o futuro, só te deixa despreparado
"O que está em jogo não é a IA roubar seu lugar. É alguém que já sabe usá-la ocupar a cadeira que era sua", afirma. A IA já está substituindo atividades operacionais repetitivas, a diferença é se você vai acompanhar o movimento ou não. "Se você se permitir aprender, experimentar, errar e testar com curiosidade ativa, a IA pode ser a melhor oportunidade da sua vida", garante a especialista.