Negócios de diferentes frentes não enxergam fronteiras na hora de expandir

Empreendedores gaúchos miram no mercado internacional


Negócios de diferentes frentes não enxergam fronteiras na hora de expandir

 Na hora de empreender, há quem não veja nas fronteiras regionais uma limitação para o crescimento dos negócios. Empreendedoras e empreendedores gaúchos apostam na internacionalização de suas operações como estratégia de negócio, prospectando novos mercados independentemente da localização geográfica. Há quem, inclusive, esteja com um pé em cada país. É o caso da Tenuta Foppa & Ambrosi, primeira vinícola brasileira a elaborar vinhos nos Estados Unidos, operando em Garibaldi e no Napa Valley, região da Califórnia conhecida pela produção da bebida.
 Na hora de empreender, há quem não veja nas fronteiras regionais uma limitação para o crescimento dos negócios. Empreendedoras e empreendedores gaúchos apostam na internacionalização de suas operações como estratégia de negócio, prospectando novos mercados independentemente da localização geográfica. Há quem, inclusive, esteja com um pé em cada país. É o caso da Tenuta Foppa & Ambrosi, primeira vinícola brasileira a elaborar vinhos nos Estados Unidos, operando em Garibaldi e no Napa Valley, região da Califórnia conhecida pela produção da bebida.
Lucas Foppa, 27 anos, e Ricardo Ambrosi, 28 anos, são os nomes por trás da operação. A dupla, que se conheceu durante a graduação em Viticultura e Enologia, deu os primeiros passos rumo ao que se tornaria o negócio em 2017. "Começamos a fazer vinho no porão da casa do Ricardo. Havíamos acabado de nos formar e queríamos ver se sabíamos fazer vinho por conta própria", lembra Lucas sobre a primeira tentativa, que rendeu cerca de 40 garrafas e muitos aprendizados. "É muito comum nesse curso estudarem filhos de produtores ou dos proprietários das vinícolas, e nós não éramos nem um nem outro. Precisávamos acumular experiência prática. Por mais jovens que fossemos, já tínhamos trabalhado para algumas empresas legais. Quando vimos que éramos capazes de fazer, pensamos que seria legal vender esse vinho", conta Lucas.
Assim, os sócios começaram a estruturar o negócio. Compraram uma nova remessa de uvas e produziram 300 garrafas de cabernet sauvignon. "Não fazíamos ideia de como vender, transformar esse sonho em grana novamente. Tínhamos quebrado os cofrinhos. No auge dos nossos 21 anos, tínhamos um patrimônio absurdo de pouquíssimos reais e ficamos frustrados de ter aquele monte de vinho e não saber vender", conta. O insight para o diferencial do negócio veio do cinema. Foi a partir do filme O Julgamento em Paris que eles conheceram mais sobre a região do Napa Valley, o que, segundo Lucas, foi inspiração para buscar mais conhecimento. "Um amigo nosso tinha acabado de retornar, e tivemos certeza que o conhecimento que buscávamos estava lá. Conseguimos uma vaga de trabalho como safrista, bem na base da pirâmide. Começamos lavando caixa, mas fomos criando laços com nossos chefes. Eles nos parabenizavam pela nossa idade, por sermos de um país que não é tão tradicional na produção de vinho. Para eles, era uma surpresa muito grande a nossa determinação", conta.
A dupla conciliava o trabalho com visitas a outros projetos para entender como os negócios funcionavam por lá. Ao retornarem para o Brasil, deixaram o porão para seu primeiro ponto comercial, desta vez no terceiro andar de um prédio em Garibaldi. "A logística era terrível, mas foi nosso começo. Lembramos com muito carinho dessa época", orgulha-se Lucas sobre o movimento feito poucos dias antes do início da pandemia em 2020. O momento, apesar de adverso e cheio de desafios, incrementou a venda online e fortaleceu o negócio, que migrou para o espaço que ocupa hoje: um casarão histórico de 120 anos na rua Buarque de Macedo, nº 7325, em Garibaldi.
A expansão, no entanto, não ficou limitada à cidade da Serra Gaúcha. "Sempre compartilhei tudo nas redes. Muita gente queria investir, mas sempre negamos, porque sabemos da dificuldade que é fazer e vender vinho no Brasil. Foi uma batalha ferrenha para se colocar no mercado, e sabíamos que o futuro não ia ser fácil", diz Lucas. No entanto, nem todas as propostas foram recusadas. "Um desses investidores, o Miguel - que é americano, mas filho de brasileiros - não desistiu de estar conosco no negócio e fez uma proposta para montarmos uma operação no Napa Valley. Topamos e incluímos no projeto o Alberto, um dos nossos chefes de lá, que sempre nos acompanhou, apoiou e manifestou sua admiração", conta Lucas.
A operação norte-americana iniciou em 2021 e conta com Miguel Cará e Alberto Mendoza entre os sócios ao lado de Lucas e Ricardo. "Temos confiança que levar o know-how gaúcho para fora vai ser bacana. O mundo está pedindo vinhos mais frescos e elegantes, que é o que fazemos. Fazer vinho do nosso jeito, no Napa Valley, está sendo mágico. É a primeira vinícola originalmente brasileira a fazer vinhos na Califórnia", afirma Lucas sobre a produção que chega a 80 mil garrafas por ano no Brasil e 15 mil nos Estados Unidos.
As operações funcionam de forma autônoma. "Quando falamos dos nossos vinhos americanos, eles são feitos com uvas colhidas, processadas, engarrafadas e rotuladas nos Estados Unidos. Não fazemos nenhum trânsito de matéria-prima ou produto inacabado", diz Lucas, destacando que o processo é o mesmo em solo gaúcho. "Mandamos os vinhos prontos dos Estados Unidos para o Brasil e vice-versa. Porém, o foco de cada empresa é onde ela está, porque acreditamos que a tendência mundial é para consumo de produtos locais. É uma questão de tempo para os brasileiros admirarem mais os seus vinhos", avalia.
Para Lucas, a principal diferença entre os mercados é o aprendizado que o cenário nacional proporciona. "As intempéries que temos no Brasil nos fazem ter uma enologia muito fina e precisa. Estamos na linha tênue entre o bom e o impossível, e é onde nascem as coisas mais espetaculares, elegantes, sofisticadas. Sabemos extrair o que tem de melhor em uma matéria-prima", afirma. No Brasil, os vinhos da Tenuta Foppa & Ambrosi podem ser adquiridos no site (loja.tenutafa.com.br) ou presencialmente em Garibaldi. A partir de janeiro, uma remessa com 900 garrafas do vinho norte-americano chega ao Brasil. 
 

Marca de pão de alho de Porto Alegre conquista o Paraguai e projeta faturar R$ 10 milhões

Foi da receita tradicional do churrasco de domingo que veio a inspiração para o empreendedorismo. Hamilton Zettermann e Carla Oliveira são os nomes à frente da Alho Pan, indústria que opera na Zona Norte de Porto Alegre e produz 15 mil caixas de pão de alho por mês. Além da produção para a marca própria, a fábrica é responsável pelo fornecimento do quitute para outras 13 marcas, como Massa Milano, Massas Famigliare, Massas Di Napoli e Perte Alimentos.
A história do casal com o pão de alho, no entanto, começou muito antes do negócio. "O Hamilton fazia o pão de alho dos nossos churrascos. Todo mundo da família só queria o pão dele nos churrascos", lembra Carla. Foi do sucesso entre familiares e amigos que veio a ideia de investir no pão de alho como um negócio. "Em 2010, o Hamilton achou que ia ser demitido da empresa onde trabalhava como consultor de vendas e começou a pensar no que sabia fazer", conta ela. Na época, Carla trabalhava como gerente financeira em uma indústria metalúrgica, mas não demorou a embarcar no sonho.
Em 2014, a empresa em que Carla trabalhava começou a apresentar resultados negativos. Foi o start para tirar o projeto da gaveta. "Fui pesquisar máquina, fazer curso de padeiro. Queria entender dos processos da minha empresa", lembra Carla, que montou uma pequena indústria no fundo da casa de seus pais.
A empresa começou a engrenar, contam os sócios, a partir da primeira terceirização. "Essa marca terceirizada foi o que nos deu fôlego financeiro para investir", conta a empreendedora.
Apesar dos bons resultados na produção para outras empresas, a dupla tinha o desejo de intensificar a produção própria, a fim de resolver uma sazonalidade que prejudicava a pequena indústria. Assim, a dupla comprou uma marca que já existia, a Alho Pan, indústria que operava no bairro Restinga, em Porto Alegre. "O antigo dono tinha a marca própria, mas não tinha o fluxo dos terceiros", conta.
Hoje, 60% da produção da Alho Pan é para marca própria e 40% destinada para as 13 marcas parceiras. Com capacidade de produzir 240 mil pães por dia, a indústria embala, mensalmente, cerca de 15 mil caixas do produto, sendo que cada uma leva 12 pacotes de pão de alho. Carla projeta bater a marca de R$ 10 milhões de faturamento em 2023.
A indústria gaúcha, no entanto, não ficou restrita às fronteiras do Estado. Desde 2021, o pão de alho pode ser encontrado nas prateleiras dos mercados do Paraguai. São mais de 240 pontos de venda no país, número que é motivo de orgulho. "No início da pandemia, chegou um e-mail de uma indústria do Paraguai interessada no pão. De 2020 até 2021, ficamos negociando. Fizemos alguns ajustes, porque o paladar do paraguaio é mais aguçado que o nosso. Em agosto de 2021, embarcamos o primeiro caminhão. O pão no Paraguai é um sucesso. Chegamos lá em sétimo lugar, hoje estamos em segundo no ranking. A marca está crescendo bastante", orgulha-se Carla. A presença no mercado paraguaio rendeu para a indústria um reconhecimento da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil. A Alho Pan levou o Prêmio Exportação RS ADVB 2023 na categoria Pequeno Desbravador Internacional.
 

Empreendedora gaúcha é eleita a jovem mais visionária da América Latina

A jovem mais visionária da América Latina é gaúcha de Bento Gonçalves. Ariane Pelicioli, 32 anos, recebeu o reconhecimento da Massachusetts Institute of Technology (MIT), universidade dos Estados Unidos. A premiação ocorreu entre os dias 25 e 26 de outubro em Lima, no Peru. Na mesma cerimônia, Ariane foi escolhida como uma das empreendedoras mais inovadoras da América Latina com menos de 35 anos. Em edições anteriores, Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, e Larry Page, fundador do Google, estavam nessa lista, que também seleciona empresários de outras regiões do globo.
Anualmente, o programa elege 35 talentos da América Latina e divide eles em cinco categorias: inventores, empreendedores, humanitários, pioneiros e visionários - na qual Ariane foi a primeira colocada. A empreendedora conquistou os prêmios do MIT com a criação do Piipee, produto que busca substituir a descarga em banheiros. "É um dos principais reconhecimentos que já recebi. Ter essa credencial valoriza muito tudo que tenho feito. Está trazendo muitos novos interessados para a empresa", entende Ariane.
O equipamento, desenvolvido ao lado do marido, Ezequiel da Rosa, 35 anos, usa um líquido biodegradável que elimina o mau cheiro, muda a coloração, higieniza e perfuma o vaso. O método funciona apenas com urina. O Piipee conta com mais de 4 mil clientes espalhados pelo Brasil, sendo a maioria empresas, como Sicredi, Randon e iFood. São cerca de 200 mil pessoas em contato diário com o produto. Em 2022, a solução economizou mais de 65 milhões de litros de água, estima Ariane.
Para as corporações, o item está disponível em dispenser - como aqueles de álcool em gel -, que é colocado ao lado do sanitário. Já para os domicílios, o Piipee é comercializado em spray. A opção custa R$ 39,90 e pode ser acionada até 400 vezes.
Apesar de Ariane ter conquistado a premiação com a Piipee neste ano, a ideia do produto é anterior. Os testes começaram em 2010. A primeira experiência com o público foi realizada em 2012, na Câmara de Vereadores de Bento Gonçalves. À época, Ariane e Ezequiel também comandavam uma empresa de materiais gráficos e websites e uma loja de vestidos de noivas, que faliu em 2014. "Foi a primeira grande escola de educação financeira que tivemos. Perdemos tudo que tínhamos", lembra Ariane.
A retomada dos negócios do casal aconteceu em 2015, quando o Piipee entrou no mercado como uma resposta à crise hídrica que atingiu São Paulo.
Desde então, o Piipee tem colecionado conquistas. Além dos prêmios do MIT, a empresa recebeu reconhecimentos das prefeituras de Paris e de Boston e da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo considerada uma das soluções mais inovadoras para mudança do clima até 2030. "Foi uma caminhada bem longa. Nem sempre acertamos no primeiro negócio também. Para ser empreendedor, tem que ser resiliente, persistente e tem que ter coragem. É quase o tempo inteiro saindo da zona de conforto e arriscando para evoluir."
Desde 2020, a empreendedora também é CEO e cofundadora da iUPay, solução que busca agregar as cobranças bancárias e auxiliar a gestão financeira dos usuários. A fintech opera em parceria com 11 instituições financeiras e recebeu aporte de R$ 1 milhão da Harvard Angels em 2022.
Hoje, Ariane mora em Paris para continuar expandindo os negócios. Ainda neste ano, a Piipee deve inaugurar uma sede na Europa, que está sendo apoiada pela prefeitura da capital francesa. "Paris é uma das principais vitrines do mundo. Queremos expandir para o mercado global. Está sendo incrível ser uma empreendedora aqui. É uma cultura diferente, outra língua, mas estamos evoluindo muito."
A marca também planeja comercializar os produtos em outros países. Até 2030, o Piipee deve estar sendo usado por mais de 10 milhões de pessoas, estima a empreendedora gaúcha.