Como a procura do público feminino por blocos, cadernos e planners explica as desigualdades de gênero nas relações de trabalho

Economia do cuidado: o trabalho de mulheres que movimenta papelaria de Porto Alegre


Como a procura do público feminino por blocos, cadernos e planners explica as desigualdades de gênero nas relações de trabalho

As mulheres acumulam múltiplos papéis sociais. São jornadas duplas - quando não triplas - que exigem um grau de responsabilidade e comprometimento quase integral entre afazeres profissionais, pessoais e domésticos. Nestas funções não remuneradas, como preparar alimentos, faxinar a casa, fazer pequenos reparos, cuidar de crianças e pessoas doentes, as desigualdades de gênero acentuam-se. Em média, as mulheres dedicam, por semana, 9,6 horas a mais que os homens à economia do cuidado. Os dados são de uma pesquisa da Pnad Contínua, realizada pelo IBGE, em 2022.
As mulheres acumulam múltiplos papéis sociais. São jornadas duplas - quando não triplas - que exigem um grau de responsabilidade e comprometimento quase integral entre afazeres profissionais, pessoais e domésticos. Nestas funções não remuneradas, como preparar alimentos, faxinar a casa, fazer pequenos reparos, cuidar de crianças e pessoas doentes, as desigualdades de gênero acentuam-se. Em média, as mulheres dedicam, por semana, 9,6 horas a mais que os homens à economia do cuidado. Os dados são de uma pesquisa da Pnad Contínua, realizada pelo IBGE, em 2022.
O resultado é que muitas dessas mulheres encontram-se esgotadas. E levam essa demanda para o mercado. Quem percebe isso são as sócias Fabiane Madeira e Tamy Yasue, responsáveis pela Oh! Papel. Criada em 2022, a papelaria produz blocos, cadernos e planners para atender as necessidades de sistematização da rotina exaustiva do público feminino.

Anotar para ter mais tempo e saúde mental

"Há poucas décadas, as mulheres ficavam em casa, cuidando dos filhos, faxinando, o que já é um grande trabalho. Mas foram para o mercado e não largaram esse ofício. As mulheres assumem a função de organizar as dinâmicas familiares, da empresa, e estão cada vez mais exaustas. Dá a sensação de que resolvem tantas coisas que não resolvem nada, ao mesmo tempo. Quando elas colocam isso no papel, ficam com a sensação de estarem mais organizadas. É para que elas tenham mais tempo e saúde mental para viver", diz Fabiane, empreendedora há 19 anos.
"Tenho duas empresa, clientes do corporativo e do varejo, faço consultorias, tento ir na academia, tenho uma família. É uma carga mental gigantesca. Se eu não anotar, não consigo dar conta. Mas não me vejo não sendo empreendedora", acrescenta.
E a escrita - com lápis ou caneta - é essencial para que esse planejamento seja efetivo, como conta Fabiane. "Nunca estivemos tão digitalizados. Precisamos voltar para o papel. Claro que existem dados que só conseguimos mensurar com a tecnologia. Mas o processo de parar e anotar ajuda no monitoramento. O cérebro entende as informações de outra forma."

Como são os produtos da Oh! Papel

Os produtos da Oh! Papel podem ser personalizados e têm estampas autorais inspiradas nas viagens de Tamy, que mora na África do Sul. Além disso, a tiragem é limitada e os blocos, cadernos e planners não têm as páginas datadas - o que contribui para a pegada sustentável do negócio, como afirma Fabiane. "Tu podes comprar hoje, ficar meses sem usar e, depois, continuar utilizando tranquilamente. Não precisa jogar fora."
Os itens estão disponíveis à pronta-entrega. As opções custam entre R$ 12,00 e R$ 170,00. A Oh! Papel não possui loja física, apenas uma sede de distribuição em Porto Alegre. Os pedidos são entregues para todo Brasil e devem ser feitos pelo site da marca. Uma das alternativas mais encomendadas pela clientela é o planner saudável, que custa R$ 49,90 e ajuda a monitorar os hábitos alimentares e o período menstrual. A Oh! Papel também atende empresas com produtos personalizáveis e sob demanda.

Importância do empreendedorismo feminino

Para os próximos passos da empresa, Fabiane pretender dar continuidade ao que acredita: o empreendedorismo feminino como forma de ressignificação das funções sociais. "É uma maneira de mudarmos a sociedade. A empresa não é só geradora de empregos e riquezas. Ela tem um lado social, de oportunizar, treinar novos profissionais."